Allexander acorda assustado por algum motivo, seu peito sobe e desce em completo desespero e sua garganta aperta como se tivesse segurado um grito por tempo demais, ele não sabe de onde esse sentimento surgiu, nem sequer sabe o que fazer com ele por nunca tê-lo sentido em toda sua vida.
Então só pode se abraçar, se encolhendo entre os lençóis enquanto o vapor quente de sua respiração chicoteava por seu rosto o tornando mais avermelhada que antes, suas asas se tornaram duas bolas cheias, as penas brancas e marrons nao seguiam mais seu padrão organizado, sendo usadas para esconder o corpo angustiado e dar uma leve sensação de segurança.
Alguém bate na porta, mas ninguém responde, novamente a batida retorna um pouco mais alta, mas ainda sim, ninguém responde, quem estava do outro lado decidiu deixar o decoro e finalmente entrar. Da porta entra uma garota, vestindo roupas comuns de empregadas, o genérico preto e branco, assim chamando uma maior atenção para seus longos cabelos ruivos decorados com uma trança, que está as suas duas asas que começam com raízes vermelhas e terminam numa intensa cor preta. Ela empurra consigo um carrinho com uma bacia de mármore cheia de água, junto da toalha e na parte de baixo vários produtos de cores variadas usadas em higiene pessoal.
-Com licença? - Falou ela com a voz ainda um pouco hesitante. - Jovem mestre, está tudo bem?
Aquele sendo dirigida a pergunta começa a sair de dentro dos lençóis, ele passa as mãos pelo rosto afastando o que restava do seu sono.
— Hmm... estou bem Feliy, já falei que não precisa-me chamar de jovem mestre quando estamos sozinhos.
— Eu sei, eu sei. — Felicity ri um pouco, enquanto empurra o carrinho para o lado da cama. — Foi apenas um lapso na língua, mas você esta bem mesmo Alex? Normalmente quando eu venho aqui você já está acordado.
-Estou ótimo, eu devo ter dormido demais ontem e isso aconteceu, se preocupa não.
Felicity levanta uma das sobrancelhas, mas decidiu não dizer mais nada, se Allexander não quer dizer algo nem seus pais conseguem obriga-lo a falar tudo, e enquanto ele molhava e enxugava o rosto ela foi preparando a banheira para o banho que ele logo tomaria.
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Enquanto anda pelos corredores cheios de quatros e outras que ele nunca saberia quanto tempo eles já tinham, na verdade poderia saber, mas ler todos aqueles livros fazia sua cabeça doer e girar sem parar.
Mas mesmo aquele sentimento estranho que ele havia acordado com ainda estava agarrado em algum local de sua mente, deixando todo seu corpo arrepiado e suas asas que antes estavam totalmente cheias se assentaram o suficiente para apenas receber uma bronca de sua mãe por não se cuidar direito. A curiosidade de saber o motivo de ter acordado assim está mais entrelaçado em si do que a sensação de desamparo que cutuca seu subconsciente com vara curta.
Ele para na frente de uma das grandes janelas do corredor, a mais próxima as escadas e a mais longe da biblioteca, balançando sua cabeça para dissipar os pensamentos de toda a planta dessa mansão percebe que a visão a sua frente da em cheio ao portão dourado de sua família, os emblemas de coruja de cada lado dos muros observam cada um que entre e sai, sem nunca parar ou desviar o olhar, uma picada apreensiva surge em seu coração, como se seu pior pesadelo atravessaria aqueles portões e transformaria sua vida em um completo pesadelo.
Que e uma completa mentira, como alguém de uma família tão nobre quanto a dele o medo de ser destruído nunca deveria passar por sua cabeça, é um medo completamente irracional e sem qualquer tipo de chance de realmente acontecer.
Uma mão grande aparece no seu ombro e pulando de susto Allexander vira de costas, se deparando com o seu pai, que como sempre tem o mesmo olhar frio que nunca retirou do rosto.
— Você deveria estar lá em baixo agora. — Dominique, seu pai, fala voltando o olhar para o mesmo local que seu filho.
-Parei aqui para ver está ótima vista, não e linda?
A vista realmente é bela, com o portão dourado que brilha como ouro quando as luzes do sol batem nela, dando entrada a arbustos cheios de flores brancas que ordenadamente formam uma linha reta, que logo se distorcem em um círculo que no seu meio a um chafariz, com uma estátua de uma mulher com longas asas de garça derramando água de dentro da sua jarra.
— Você esta bem? — Perguntou Dominique fazendo Allexander soltar um bufo irritado.
—Já e a segunda vez que me perguntam isso, e a resposta é que eu estou totalmente bem, sem nenhum problema ou qualquer coisa do tipo, vamos tomar café da manhã, estou morrendo de fome.
Dominique acaricia a cabeça do seu filho, fazendo a expressão emburrada se dissolver um pouco e passando seu dedo pelas linhas marrons claros que vão de sua bochechas ate chegar aos seus olhos, onde ele dá um leve limpada.
— Se precisar de algo e só me encontrar no meu escritório, olhar preocupado para a janela não resolvera o problema que você esta pensando tão profundamente.
— Não estou com problema nenhum, e como eu disse, estava apenas vendo a bela vista, vocês estão a fazer tempestade em copo d’agua.
— Claro.
Os dois caminham juntos em silencio pelo resto do caminho, a atmosfera para quem esta do lado de fora pensa que as duas pessoas estão brigadas uma com a outra e que apenas querem sair dali o mais rápido possível, mesmo que na verdade eles estejam bem confortáveis com o silencio entre os dois.
Chegando na sala de jantar a primeira pessoa que encontram e uma mulher já sentada na mesa, apenas esperando os dois chegarem, ela tem longos cabelos castanhos contratando fortemente com o cabelo completamente negro do seu marido, quando vira o seu rosto para os recém-chegadas diferente do seu filho e esposo, ela não tem as marquinhas castanhos claros, mas seu rosto e salpicado de pequenas sardas que se tornam presentes quando os raios de sol batem na sua pele.
— Vocês chegaram, demoraram um pouco. — Falou Raquel, segurando a sua vontade de dizer “finalmente”, e dando apenas um olhar de desaprovação, ela apenas não começou a comer primeiro por pura educação.
—Paramos no meio do caminho para conversar, acabamos não percebendo muito bem o tempo passar. — Disse Dominique, tentando apaziguar um pouco sua esposa.
—Poderiam conversar aqui, eu adoraria me incluir na conversa. —Acabou não dando muito certo.
Enquanto os seus pais conversavam, Allexander via sua interação e um baque de sentimento bateu tão forte no seu coração que ele teve que respirar fundo para não cair no chão, a sensação de saudade extrema e tristeza avassaladora fez os seus olhos começarem a lacrimejar quase as lágrimas, e ele teve que comer rapidamente um pedaço de pão com geleia de morango junto de suco de laranja, mas ele acabou engasgando.
—Allexander! — Fala sua mãe, vendo ele tossindo quase seus pulmões para fora. —Quantas vezes já te falei para comer mais devagar? Da próxima vez não vá tão desesperado assim, ela não vai sair andando.
Sua mãe não se levanta, mas acena para um dos empregados em volta e ele coloca um copo d’agua em sua frente para ele beber.
—E beba aos poucos, se você for desesperado de novo só vai se engasgar.
Escutando os avisos de sua mãe ele finalmente parou com a tosse e voltou a respirar normalmente. O sentimento ainda estava lá, tanto uma forte sensação de asfixia, mas não poderia contar para os seus pais, eles pediriam uma explicação, que ele mesmo nem sequer conseguia compreender, isso simplesmente aconteceu e ainda está acontecendo sem nenhum motivo lógico.
Ele voltou a tomar seu café normalmente para não chamar mais a atenção que já tinha feito antes, arregalando os olhos ele se lembrou de algo.
—Mãe, e hoje que ele ira vir para cá? — Os traços de empolgação em sua voz não estão escondidos.
Com uma olhada dela que dizia sem palavras: “Não interrompa quando os adultos estejam conversando.”, mesmo que os dois estivessem apenas falando sobre como algumas das flores dela estão cheias de bolinhas pretas e teve que coloca-las para fora, aind1a e uma conversa de adultos que não pode ser interrompida.
—Ele chegará aqui amanha, nem pense em fazer nenhuma das suas brincadeiras enquanto eles estiverem aqui.
—Mas, se for uma bem pequenininha pode, né? — Ele fala com um sorrisinho largo nos lábios, fazendo sua mãe apoiar uma de suas mãos na têmpora e com a outra tomar um pouco mais de seu café, extremamente amargo se perguntarem para ele.
A empolgação com o recém-chegado e um assunto que ele descobriu por acaso, se você pensar que o por acaso foi ele escutando as conversas deles com a ajuda de um copo de vidro e uma parede oca, depois disso deve que esperar ansiosamente para que eles contassem para ele, e demorou muito mais que havia esperado, foi apenas contado dois dias atrás, quando já estava logo ai, e foi apenas isso, sem saber o motivo daquele outro vir pra cá ou o que ira fazer, mas pelo menos falaram que eles tem a mesma idade sendo o suficiente por engando. Mais isso não estagnou sua empolgação que só a fez crescer mais ainda.
—Esta na hora da sua aula, vá antes que se atrase. — falou seu pai, que diferente de sua mãe tomava um suco fresco de abacaxi.
Se levantando da cadeira Allexander se despede de ambos os pais e segue seu caminho, até que em um certo momento ele se de encontro com Felicity novamente.
—Vejo que melhorou, você estava tão pálido quando acordou. — Comentou ela caminhando ao seu lado enquanto carrega alguns livros finos.
—Eu falei que estava bem, eu só precisava comer um pouquinho e agora estou como novo. — ele ate flexiona um pouco o braço para demonstrar sua força, fazendo sua amiga rir um pouco.
—Que bom então, hoje o dia promete ser bem cheio, você ainda vai ficar umas boas horas na biblioteca.
—Biblioteca? Mas eu já fiquei uma eternidade ontem, não quero ficar outra. — Dramaticamente ele cruza suas mãos na cabeça e faz suas asas se juntarem formando um fofo cobertor de penas em volta de si.
—Então não e melhor ir logo? Dessa forma a eternidade pode se tornar apenas alguns dias. — Responde ela colocando os livros que estavam na sua mão na dele. — E é melhor sair do seu cobertor de penas, lembra que o professor Vincent odeia ver você entrando assim.
Allexander suspira, que sai mais como uma canção de desespero, ele odeia tanto a biblioteca, sentir aquele cheiro de poeira e tinta junto do silencio ensurdecedor dali o faz sentir vontade de gritar deixando seu eco fazer mais barulho ainda. Mas da ultima vez que ele fez isso ele tomou uma livrada tão forte que ele ficou a ver navios por mais de horas, e quando falou o que aconteceu para sua mãe tomou outro tapa na cabeça e um sermão sobre respeitar o silencio da biblioteca, diferente dele sua mãe realmente gostava de ler.
Se despedindo de Felicity e entrando na biblioteca, ao abrir a porta ele da de cara com seu professor, o homem velho com certeza o olha com o mesmo olhar severo, sem saber se esse olhar vem do fato dele ser velho demais, serio o cara foi o professor de seu pai, ou por conta de parecer nunca ter dado um único sorriso em toda sua vida. Ele escuta o farfalhar de asas que demonstra o quão irritado ele está as asas em vários tons marrons de águia nunca deixam de faze-lo se sentir pequeno quando as vê de perto.
—Você esta a dois minutos atrasado garoto. — Fala Vincent com sua voz grosso como se quase nunca falasse, mesmo que ele passe mais de horas e horas falando de casas, guerras, historias e principalmente politica que faz sua cabeça girar até doer.
—Dessa vez foi apenas dois minutos, da ultima vez foram dez minutos, eu melhorei muito já. — Responde Allexander, com um sorriso confiante no rosto.
—Chegar dez ou dois minutos atrasados ainda e muito para alguém de seu nome, como um nobre Nyousvier e teu dever sempre ser pontual para dar boas impressões e demonstrar com...
Enquanto Vincent falava as suas obrigações de nobres que ele já tinha escutado ate perder as contas, decidiu se sentar na cadeira de uma vez, ele queria tanto ter logo quinze anos para entrar na academia e finalmente ter aulas menos maçantes iguais a essa, e entender também porque os seus pais sempre dão um sorrisinho para ele quando reclama, mas ele ainda tinha treze anos e deve esperar chegar a sua carta da academia. Como ele odeia esperar.
“BAM”
Pulando de sua cadeira e com o coração quase saindo por sua boca, ele olha para o seu professor com espanto.
—Preste atenção quando eu estou falando, se não irei faze-lo escrever uma redação da historia de cada família nobre da nossa região. — Repreende Vincent virando as costas e fazendo sua longa túnica verde escuro levantar um pouco de poeira pelo chão.
E é assim que as milhares de horas passam, não milhares apenas três, mas quem esta escutando sobre os impostos e as reformas ordenadas pelo rei na semana passada tudo entra na sua cabeça e a torna o maior sonífero do mundo.
“Blem-Blem”
Um pequeno sino e escutado atrás da porta, e Allexander quase sente seus olhos lacrimejarem por pura alegria de finalmente sair daquela sala sufocante.
—Pode ir garoto. — Fala seu professor, e quando ele finalmente colocou sua mão na maçaneta. – Mas não esqueça de voltar, teremos aulas de estratégias de batalha e línguas estrangeiras.
—Tá bom. — Responde Allexander pensando se talvez, demorar uns dez minutos não seria uma má ideia.
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A hora do almoço foi apenas ele e sua mãe, como ela tinha falado pra ele, seu pai estava muito ocupado com algumas cartas que vieram de outros ducados e não poderia vir hoje comer com eles, como isso era algo comum de acontecer deixou quieto por ai mesmo.
—Como foi sua aula de hoje? — Perguntou sua mãe, da mesma forma que ela sempre fazia todos os dias.
—Normal, igual sempre foi. – Responde Allexander, cutucando uma ervilha no seu prato com seu garfo. – Mas eu ainda quero muito ir logo pra academia, falta tanto tempo ainda.
—Quando você for pra lá ira desejar estar aqui. O professor que você reclama tanta vai ser considerado uma benção quando chegar lá, experiência própria, querido. É coma seus vegetais, estou vendo você os colocando do lado do seu prato, isso não faz sua porção parecer menor.
Enquanto tira os vegetais do canto do prato ele apenas suspira cansado, ele só quer que o amanhã chegue logo, para acabar de uma vez com essa antecipação fazendo seu coração bater desengonçado.
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Dr DarkShimo
Muito obrigada por escrever essa história incrível, autora. Já quero ler mais.
2023-12-07
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