| Não preciso da sua esmola

...• Klaus Martini...

— É assim que me vê?

Sua pergunta era quase uma pedido de socorro. Mas eu estava tão confuso que não conseguia responder.

Os primeiros dias depois da morte da Caroline e Enrico, foi como ser sugado para um abismo. Eu esperava todas as noites Caroline se aconchegar no meu peito, enquanto sentia seu perfume doce e suave, ao invés disso, tudo o que enchergava era uma grande mancha de sangue onde ela dormia, eu entrava desesperado no quarto do meu filho no meio da noite ouvindo ele me chamar. Eu não estava lá. Eu não estava lá quando eles precisaram de mim. Eu me arrastava dentro da casa que havia sido palco de toda a vida que eu tinha, não havia restado nada, e as lembranças eram um soco no estomago, eu via sangue escorrendo por todas as paredes, e no meio daquele tormento, eu quis dar um fim em tudo, via o fogo se alastrar, e levar cada memória boa construída ali, enquanto esperava meu fim.

Luigi me resgatou, eu quase o matei aquela noite, eu só queria parar de sentir dor, foram necessários três soldados para me tirar de cima dele.

Desolado. Eu estava quebrado, morto por dentro.

Eu queria vingança à qualquer custo, por que isso era a única coisa que havia restado para mim, e que me fazia levantar da cama dia após dia, a sede de vingança me manteve lúcido.

Quando vi o medo de que encontrasse Sarah nos olhos do Alex, eu senti alegria. Ele se manteve resistente a cada tortura, mas saber que Sarah estaria nas minhas mãos? Isso fez ele sofrer e implorar clemência, ela agora fazia parte do pacote, mas o preço estava começando a ficar caro demais. Quando foi que comecei a me importar assim? Durante quatro anos, tudo o que alimentei foi esse desejo de me vingar, e ela intoxica cada maldita parte de mim como um câncer em metástase.

Encarei Sarah, eu queria dizer que não. Seus olhos estavam tristes, eu senti vontade de lhe consolar. Mas o que eu poderia fazer? Ela foi arrastada para toda essa dor por que eu estava obstinado demais.

Meu telefone começou a tocar. Era Luigi.

Leonardo estava fazendo birra novamente. Dessa fez montou um cerco, e explodiu boa parte da droga que deveria ir para Colômbia.

Os ânimos estavam exaltados no Conselho, Luigi já havia me alertado, até mesmo me impediu de entrar armado. Como se isso pudesse me impedir de matar alguém.

— Entregue a mulher a ele e essa guerra acaba.

Martin disse exaltado, assim que me sentei.

— A conta de prejuízos só aumenta Klaus. Disse que havia pensado em tudo, mas duvido muito que tenha pensado na porr*a dos prejuízos.

— Calem a porr*a da boca.

Gritei.

— É verdade que Constantino foi exilado?

Marcos perguntou, enquanto os outros olhavam surpresos.

— Não. Mas Giorgia sim. Constantino tem a permissão de retornar qua do desejar.

— Klaus, Constantino foi o consigliere do seu pai. O braço direito da organização.

— E é só por isso que ele está vivo.

— Porr*a Klaus. Você não deveria estar nesse lugar.

Luigi me encarou, certamente esperando que eu arrancasse os olhos desse desgraçado.

— E quem deveria? Você Marcos? Nunca o vi ao lado do meu pai nos confrontos. O poder lhe deixou soberbo, enquanto eu dou a porr*a da minha vida fora desses portões, você senta aqui, ambicioso por um lugar que nunca vai pertencer a você, por que não tem culhão, só uma conta gorda e confortável pelos homens que de fato fazem essa organização andar. Eu poderia arrancar a sua cabeça nesse momento, por questionar seu DON. Quer saber? É exatamente o que farei.

Disse me levantando e fazendo o mesmo se encolher.

— Klaus, é para você.

Luigi disse me interrompendo, reviro os olhos.

— Acho que precisa trocar a porr*a das suas calças Marcos, Luigi leve esse filho da put*a daqui antes que ele perca a cabeça.

Luigi me entregou o telefone e saiu.

— Recebeu o meu recado Klaus Martini?

Leonardo disse de um jeito debochado.

— Chama aquilo de recado? Eu acredito que devo ter superestimado o herdeiro da Camorra. Minhas crianças em treinamento fazem melhor.

— Klaus, entregue a Sarah, e eu te entrego Magnus. Evitaremos uma longa guerra.

Ele disse tendencioso, me senti incomodado com sua proposta, cada um que estava na mesa me olhasse esperando que eu fizesse isso. Afinal ele me daria exatamente o que eu queria. Mas como eu disse, estava começando ficar caro demais. Talvez em outro momento seria exatamente o que faria. Mas me sentia em uma prensa, por que jamais entregaria Sarah nas mãos desse homem, sabendo quem ele é e o que ele faz. Eu já disse posso ser um canalha pelo que estou fazendo, mas ela ainda está melhor nas minhas mãos do que nas mãos desse maldito.

— Eu estou disposto a esquecer a ofensa que me fez ao se deitar com a mulher que estava prometida a mim, futuramente podemos até pensar em uma aliança ou uma forma de contribuição. Estou disposto até mesmo arcar com os prejuízos que causei nos ataques. Entretanto, negue-se a me dar o que eu quero, e farei cada dia da sua maldita existência um tormento.

— Minha existência já é um maldito tormento senhor Carbone, sua ameaça precisa ser melhor. Sarah é tão valiosa assim?

— É minha desde que coloquei os meus olhos nela.

Dei risada.

— Não tem acordo Carbone, não preciso da sua esmola.

— Eu não vou parar Klaus.

— Ah Carbone, supera. O que você tanto queria eu já tomei de você.

— Eu avisei Martini. Se não a terei como esposa, estou mais que satisfeito em tê-la como put*a, certamente economizarei uma fortuna tendo ela ao meu dispor.

— Entregue a mulher Klaus.

Martin disse assim que a ligação caiu. Seu tom soou como uma ordem. Como ele ousava? Luigi já estava ao meu lado, eu o desarmei tão rápido que ninguém teve tempo de reagir, destravei e mirei, a cabeça de Martin pendeu para trás e para frente. O sangue respingou em quem estava ao seu lado.

— Tem mais alguém aqui insatisfeito? Ou que queira fazer companhia ao Martin?

Gritei.

O silêncio reinou na sala, por que o temperamento paciente não faz parte de mim. Eu não costumo fazer ameaças, eu aviso uma única vez.

— Tem mais uma coisa, os meus assuntos pertencem apenas a mim, Sarah é assunto meu, e quem a destratar ou fazer qualquer merda que seja não vai gostar do que vai acontecer.

Deixei aquela sala, antes que aquilo se tornasse um banho de sangue.

— Klaus, aonde vai?

— Você sabe. Eu preciso sair, estou ficando louco.

— Vai para casa Klaus, não vá para aquele lugar.

— Não posso, sabe que não consigo me controlar. De assistência ao que ela precisar. Mande o médico ficar de olho nela.

Dispensei os seguranças e sai, eu não conseguiria voltar para casa, eu ficava instável nessa data, eu não conseguiria, eu poderia machuca-la ainda mais, por que eu também estou fodi*damente machucado.

Entrei pelos portões da antiga mansão, já não restava quase nada de pé. Era quase como um reflexo de quem eu era agora. A madeira rangia abaixo dos meus pés, entrei no quarto do meu filho, e me sentei no chão. Ele completaria nove anos, não há como esquecer o que me foi tirado, eu os amava profundamente, e preferia ter sido levado ao invés deles. Certamente eu já o estaria treinando para assumir o meu lugar um dia. Essa merd*a dói, como uma prensa no meu peito que me tira o ar. Eu ainda vivia nesse luto, e não conseguia abrir mão dessa dor.

Luigi me ligou diversas vezes, mas não conseguia me mover, dia e noite passavam sem que eu conseguisse sair daquela inércia, por que a culpa corroía o meu peito.

— Klaus. Esta a dias aqui, irmão precisa voltar a casa.

— Vá embora Luigi.

— É a Sarah. Klaus, ela não reage, não se alimenta, não sai da cama.

Uma ponta de preocupação surgiu no meu coração, me fazendo reagir e levantar. Luigi me apoiou, pois tudo o que fiz nesses dias foi beber.

Subi as escadas me arrastando praticamente, eu queria tomar um banho, antes de ir até o sótão, já que eu estava acabado. Mas quanto mais me aproximava do meu quarto, mas sentia que deveria ir até o sótão.

E quando abri a porta, vi Sarah jogada no chão, e o vidro de remédio na sua mão, a adrenalina tomou o meu corpo, que reagiu imediatamente, ela estava fria, seus batimentos estavam fracos, gritei por Luigi, porque pensar em perde-la me afetava tanto nesse momento?

Eu levei ela para o meu quarto, precisava aquecer o seu corpo que estava frio até o médico chegar. Removi as suas roupas e tirei a minha camisa, essa era a primeira vez que eu a olhava de verdade, cada traço bem desenhado, a tornava uma linda mulher. Eu a vesti com um roupão e coloquei ela na minha cama, e enquanto o médico a examinava, eu tomei um banho.

Respirei aliviado ao saber que a quantidade de remédios não havia sido o suficiente para causar anos maiores, nem mesmo uma lavagem foi necessária, mas ela iria dormir muito. Deitei o lado dela, a puxando para o meu peito, queria ter a certeza de que ela não passaria mal novamente.

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