CAPÍTULO 16‐ Lembranças...

– Não se mexa! Aiden, tem que ficar imóvel e apenas esperar. – sussurrou Lok.

Os dois tinham se embrenhado na floresta, logo após o lago para capturarem algumas lebres.

Lok ensinava ao filho a caça paciente, estavam inertes, um de frente para o outro, sentados sobre as folhas secas, a espera da melhor oportunidade de capturar um animal. O homem explicou precisar ficar parado, que assim as lebres curiosas iriam se aproximar e com isso o jantar com uma bela carne seria garantido.

Estavam tão entretidos naquela disputa velada, que nenhum deles percebeu o tempo passar, mas Lok acabou por capturar uma lebre gordinha.

– Paciência e calma. Esse é o segredo, meu filho.

– Sim, pai. Dá próxima vez eu que pegarei, serei paciente.

Lok bagunçou aqueles cabelos de fogo sorrindo. Voltaram para casa, parando apenas na beira do lago para limparam a lebre, ele queria ensinar ao filho como limpar corretamente a pequena caça. Ele fazia questão de que o filho aprendesse. Um homem devia aprender cedo a caçar o seu próprio alimento.

Quando chegaram em casa, já encontraram Isla na beira do fogão. Aiden entregou para a mãe a lebre limpa para poder cozinhar, enquanto contava empolgado sobre a aventura do dia.

Isla olhava para Lok enquanto o filho falava, pelo tom da voz do menino, ele acreditava na mentira! O pior era que ele estava feliz com um falso pai, isso incomodava Isla. Não saberia amenizar a dor que ele sentiria quando Lok se fosse. Apenas esperava que o seu filho entendesse que a dor fazia parte do crescimento e que deveria aproveitar a oportunidade e aprender o máximo com esse homem.

– Lebre! Teremos um belo jantar essa noite. Agora venham comer, preparei galinha e batatas para o almoço.

Isla pegou alguns panos para não queimar as mãos a panela Fumegante para mesa, seria uma bela refeição.

Comeram em silêncio e depois Lok orientou o filho sobre os afazeres, pois ele e Archie iriam até o vilarejo para falar com o ferreiro e dar início a espada de Aiden. Lok sabia que levaria alguns dias para que a espada ficasse perfeita, por isso tinha pressa em dar início ao trabalho na forja.

Lok e Archie foram para o vilarejo, o ancião fez questão de acompanha-lo para assim evitar que alguém o confrontasse e ele descobrisse sobre a mentira, o velho não era bobo e faria o que fosse possível para encobrir os rastros. Archie podia ver como o pequeno Aiden estava feliz com a presença de Lok na sua vida, se dependesse dele, prolongaria ao máximo os tempos de alegria do menino.

Foram no carroção de Archie, assim eles poderiam trazer as encomendas de Davina e alguns grãos para Isla. Era desconfortável para Lok, ele era grande demais.

Já era tarde, o sol já estava alto e não daria tempo de fazer muito, já que Archie contou que a sua esposa tinha medo de ficar sozinha à noite. Foram então direto para o armazém para comprar o que as mulheres pediram e, para a estranheza de Lok, ele não reconheceu o dono e nem nada ali. O armazém era um lugar que ele deveria vir com frequência.

Lok não nada com Archie, tinha medo de que o homem pensasse que ele estava ficando louco com alguma doença na cabeça. Viram para casa do ferreiro, ele tinha ali uma bela forja que seria perfeita para preparar uma espada para o seu filho.

Explicou para o homem como queria a espada, deu todos os detalhes e até ajudou o homem com a fundição, parecia que ele já havia feito alguma espada antes, em algum momento da sua vida. Procurou livrar-se dessas questões, já provocavam dores de cabeça.

Naquele dia, apenas deu forma a espada, deixando para que o ferreiro fizesse o restante do trabalho, mas os detalhes finais, ele quem queria dar. Precisava que o peso fosse o ideal para que Aiden não sofresse com o peso, isso era essencial para que a espada fosse parte dele.

Os dois homens subiram no carroção e voltaram para a casa, a espada levaria alguns dias para ficar pronta. Foram a conversar pelo caminho sobre as idéias de Lok para melhorar a segurança deles. Lok sentia uma paz enquanto seguiam para casa. Era algo estranho, ao mesmo tempo não conseguia se lembrar de nada antes daquela batida na sua cabeça, ele sentia que ali era o seu lugar.

Ao ver Isla retirando água do poço, sentiu o coração errar uma batida, não era a toa que estavam juntos há tanto tempo, ele a amava! Ver o seu filho correndo em direção ao carrocão em movimento, o fez sorrir. Erguendo-o pelos braços, colocou-o junto as sacas de mantimentos.

– E a minha espada? – perguntou Aiden eufórico.

– Calma, uma boa espada fica alguns dias na forja.

A euforia do menino diminuiu a olhos vistos, mas logo ele alegrou-se novamente.

– Isla fez a nossa lebre!

– Ela é a sua mãe. Sabe que ela se zanga quando a chama assim. — Lok o repreendeu – Penso que já está grande para dormir com a sua mãe. Eu sou o seu pai e marido de Isla, eu devo deitar-me com ela a partir de hoje.

Lok nem esperou resposta do filho, pegou o saco de grãos e foi para a dispensa. Aiden olhou assustado para Archie.

– Não se preocupe. Eu e Davina viremos para o jantar, assim enrolamos e finge muito sono e deitou-se na cama, a sua mãe entra no quarto e tudo se resolve.

Aiden ficou aliviado. Melhor assim, a sua mãe iria ficar uma fera se ele fosse para o outro quarto. Mas, ao lembrar-se do beijo que viu os dois trocando na varanda pela manhã, veio na sua mente que talvez se eles dormissem na mesma cama, Lok nunca mais iria querer ir embora, mesmo que se lembrasse do seu passado. Essa idéia foi a tomar forma na sua cabeça e esse plano seria apenas dele, nem Archie iria saber dessa decisão.

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