CAPÍTULO 5- Uma família

Com tudo que se passou, Isla ficou sozinha na cabana, vigiada de perto por Archie e Davina com a ajuda dos seus três cães grandalhões que não deixavam ninguém se aproximar.

Quando soube carregar um filho no ventre, em nenhum momento tentou se livrar do bebê. Jurou a si mesma que daria tanto amor aquela criança que ela poderia até explodir de felicidade. Ao nascer, Aiden tornou-se a razão de viver para Isla. Não contava que se tornaria "bruxa" aos olhos de todos e com isso ele sofreria as consequências.

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Ele tentou levantar-se. Estava tudo escuro e pelo que percebia, o espaço era pequeno. Sentiu algo bater na sua cabeça, em seguida um barulho ensurdecedor. Uma luz veio logo pela porta ao ser aberta.

— Onde diabös eu estou? — esbravejou ele.

— Olha essa boca! Isla está aqui. — Ele ouviu a voz de um menino.

— Nem tamanho tem para chamar a minha atenção. — disse ele, pondo-se de pé e esfregando a sua cabeça.

— Chame Archie... agora! — Ele ouviu uma voz feminina, num tom apavorado.

Saiu lentamente do lugar que mais parecia um quarto de mantimentos, apenas não sabia o que fazia ali. Percebia ser uma pequena cabana. Num canto, uma mesa e três cadeiras algumas panelas penduradas, tudo simples, mas bem organizado.

Dirigiu-se até uma cadeira e sentou-se. Olhou ao seu redor E constatou uma moça alta na porta, de cabelos negros, que ele não podia saber o comprimento, pois estava preso num coque severo no alto da cabeça.

Ela demonstrava curiosidade e medo, o que o deixou intrigado.

— Quem é você? O quê eu faço aqui? — esbravejou.

 Sentia a sua cabeça doer por conta da batida na prateleira minutos atrás. Passou a mão e estranhou o galo enorme na sua nuca, ele havia batido a testa…

— Lok! Passou a noite aqui?

O homem olhou assustado para o ancião que entrava na cabana.

— Lok?

O tom questionador fez o velho parar no meio do caminho.

— Sim... bebemos ontem além da conta na Taberna. Viemos juntos. — o velho fez uma pausa e continuou.– Estava animado para estar com Isla.

— Não consigo lembrar-me... o quê faço aqui? — perguntou, com as mãos na cabeça, como se sentisse dor.

– Você...

 Archie interrompeu Aiden:

— Você queria voltar para casa.

— Casa?

— O quê ouve homem? Parece esquecido…

— Penso que a batida que dei hoje de manhã na prateleira deixou-me zonzo.

Archie olhou para os demais e tomou a palavra, deixando claro que não era para interferirem:

— Como pôde esquecer-se de seu filho maravilhoso?

— Filho?

— Sim. Esse é Aiden, o seu filho de nove anos e essa beleza toda é Isla, sua esposa.

— Mas Archie... — Isla tentou protestar, mas o ancião a interrompeu.

— Não precisa contar aí homem que ele não funciona.

— Como assim, não funciono? — Lok quase gritou, com medo da resposta.

– É meu amigo, infelizmente a sua espada aí embaixo, parou a muitos anos de funcionar. Se é que você me entende. – Falou o velho piscando.

– Eu sou imprestável e você sabe? – Lok falou num grunhido.

– Claro! Somos amigos de longa data. Mas você fica satisfeito em ser o "homem"da casa, de cuidar e prover tudo para a sua família.

Lok estava incrédulo. Como uma batida na cabeça o fez esquecer-se da sua família? Bem... esquecer-se de que tinha algo inútil entre as pernas era muito bom, mas agora, agora ficou sabendo na frente do próprio filho que ele era um inútil.

– Vamos Isla! Sirva broa para o seu marido, ele tem muito serviço pela frente.

— Mas... — Isla tentou falar e se opor a tudo aquilo, mas seu filho, o seu próprio filho a interrompeu:

— Isso mesmo pai. Íamos preparar a terra para plantar mais legumes, o galinheiro precisa de conserto e o telhado também.

Isla olhou assustada para aqueles dois ardilosos. Eles estavam mentindo e a obrigando a confirmar toda aquela invenção !

— Tanto para fazer... irei precisar trocar de roupa.

— Deu para uns viajantes. – falou Archie.

— Isso pai, você tem o coração muito bondoso e deu as duas roupas para aquela família que passou por aqui.

Isla não tinha palavras. Quando o seu filho tornara-se um grande mentiroso?

Juntando as saias nas mãos saiu. Mentiam para o tal do Lok sem medo das consequências. E se ele recuperasse a memória? E se ele tivesse família ou alguém especial na sua vida? Ou pior, ele podia ser um bárbaro assassino!

Soltou o balde no poço, logo em seguida começou a fazer força para subi-lo. Era um luxo ter aquele poço de água pura em seu quintal.

Foi quando se lembrou do cavalo. O animal estava sem cuidados e ela não tinha cavalos e assim não sabia o que fazer.

Olhou para sua direita e lá estava o grandalhão, comendo asasuas cenouras!

Não acreditou que o infeliz comia o seu sustento!

Marchou aos berros até a sua horta, tentando interromper a destruição das suas hortaliças, mas sem sucesso. O animal não escutava as suas reclamações, muito menos os puxões nas rédeas.

–Cavalo!

Virou-se para onde vinha o som daquela voz e viu o homem chamado Lok parado a porta da cabana. O cavalo, ao ouvir o som daquela voz, foi até ele obediente. Ficou observando como ele afagava o animal. Aquele seu "marido" tinha as mãos grandes e fortes, fazia uma bela figura com o vento bagunçando os cabelos claros e o pequeno sorriso de satisfação quando o cavalo ficou feliz com o agrado.

— Não deixe esse monte de carne comer as minhas cenouras novamente, ou ele vira um belo assado! — zangou-se Isla, saindo às pressas dali. Precisava falar com Davina.

– Minha esposa é um pouco nervosa... — Lok falou pensativo, não entendia o porquê da estranheza ao falar "a minha esposa", pensou a tocar a ferida na sua nuca.

– Não se incomode, mulheres são todas assim. A minha Davina às vezes quer arrancar o meu couro.– O velho Archie reclamou.

– Pai, ela ficará pior se não cuidarmos da horta. É melhor trabalharmos.

Lok olhou para o menino, porque não se lembrava do seu filho? Não tinha lembranças com ele…

Logo Aiden apareceu com ferramentas, mas ele primeiro decidiu cuidar do cavalo, o animal precisava ficar longe das cenouras.

Olhou para o caminho que a sua esposa seguiu. Como ele não funcionava? Tinha uma bela mulher ao seu lado e simplesmente não funcionava! Pensou desanimado, olhando para baixo, tinha vontade de gritar.

Se ela lhe fizesse carinhos, talvez ele despertasse. Um homem não merecia viver se não pudesse satisfazer uma mulher.

— Não se preocupe, meu amigo. Isla sempre vai até a minha Davina quando está brava, vou até elas.– falou Archie, deixando a ferramenta no chão e saindo.

— Esse velho sempre foge quando tem que fazer força. — reclamou Aiden.

— Não se preocupe filho, vamos deixá-la feliz com o nosso trabalho…

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