Coincidências Demais

Esperei alguns segundos até que Gia explicasse exatamente em qual situação ela precisava de ajuda. Inicialmente, pensei que teria acontecido algo muito ruim em sua casa, mas ela logo tratou de me acalmar.

— Estou envergonhada, na verdade... — Sua voz parecia acanhada, mas logo voltou ao seu tom habitual. — Fui convidada por Ashley Hastings para um brunch em sua casa, o típico evento em que mulheres de grande influência vão apenas exibir toda a sua importância. Um verdadeiro colírio para os olhos. — Sinto uma forte ironia nas últimas palavras, e o comentário eficaz me causa uma risada. Gia sempre teve esse lado ácido, mesmo que, na maioria das vezes, a sua seriedade reinasse.

Ashley Hastings era a esposa de um dos maiores arquitetos do país, sua fama extravagante se alastrava pelo ciclo social de Ethan.

— Um evento e tanto! — Concordo, combinando o nosso senso irônico.

— E como! O fato é que não suportaria ir sozinha e pensei em você como minha acompanhante. Ashley ficaria encantada com sua presença. — Concluiu.

Ponderei por alguns instantes sobre a proposta. Embora não fossem exatamente o meu tipo de evento favorito, não podia negar o interesse em me aproximar mais de Gia. Afinal, ela era uma mulher fascinante.

— Você me deve uma.

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O ambiente estava impecável para um dia de verão. Ao ver tantas pessoas elegantes num brunch supostamente privado, foi necessário arquear mais as minhas costas e manter o meu queixo erguido o suficiente para que nenhuma delas ousasse usar-me como o alvo da vez, como muito era feito por essas mulheres.

Gia andava ao meu lado, deslumbrante. Seu vestido boho continha uma fenda com acabamento impecável na cintura, demarcando perfeitamente suas curvas. Eu, por outro lado, optei por uma blusa fina curta na cor marrom, assim como calças de perna larga no mesmo tom e um longo quimono branco. Ashley nos deu as boas-vindas, muito receptiva, nos direcionando a uma mesa próxima da piscina.

— Isso aqui tá mais para um churrasco vegano gourmet. — Pontuei, tomando um gole do smooth de frutas que nos foi servido. Gia riu, concordando com a cabeça.

— Smooths? — Ela levantou sua taça, examinando-a com olhar crítico. — Isso aqui tá gritando por algumas doses de vodca.

Era como se Gia houvesse lido minha mente e eu havia me preparado para esse momento. Com as mãos, explorei minha bolsa e tirei de lá um cantil carregado com 500ml de whisky. Como uma criança travessa, depositei o líquido no meu copo e em seguida no da mulher a minha frente. Gia me olhou, impressionada, batendo palmas silenciosas.

— Sinclair, você é um máximo.

Fiz uma reverência exagerada, e tomamos juntas um gole do Smooth melhorado.

Ashley e algumas outras mulheres sentaram-se à nossa mesa para conversarmos sobre coisas cotidianas. Apesar de julgá-las mal no início, não pareciam tão ruins assim, mas nenhum de seus companheiros me cheirava bem. Talvez a desconfiança em homens estivesse se instalado no meu sangue.

— ... E foi assim que conheci Al Pacino. — Uma senhora muitíssimo linda, contava animada, enquanto o resto de nós riamos impressionados.

— Se Al Pacino me confundisse com Diane Keaton, eu provavelmente me gabaria disso para o resto da vida! — Comentei, bem-humorada.

— É exatamente isso o que faço, meu bem! — E todos caíram na risada, exceto por Gia que apenas esboçava sorrisos amáveis.

Algum outro casal havia chegado no evento e a anfitriã prontamente foi atendê-los com sua receptividade atenuada. Eu não prestei muita atenção nos recém-chegados, porque estava focada demais na foto que a senhora nos mostrava dela ao lado de Al Pacino. Na foto, Al Pacino estava sentado em um sofá, sorrindo para a câmera. A senhora estava ao seu lado, com um sorriso radiante no rosto. Ela estava segurando um copo de champanhe na mão e parecia estar se divertindo muito.

De repente, sinto o toque de Gia sobre meu ombro. Ela aponta disfarçadamente com o olhar, então eu o sigo e percebo que o casal recém-chegado em questão é a modelo Lizzy Turner e…

— Christopher? — Sussurro. A presença dele era uma surpresa, mas ele acompanhado? Era uma surpresa múltipla. Apesar disso, eu não me sentia nem um pouco abalada, estava apenas me divertindo com a situação.

Por algum motivo, éramos cercados por coincidências.

O casal se juntou à mesa. Christopher e Lizzy cumprimentaram todos devidamente. Ele parecia tão surpreso em me ver ali quanto eu estava em vê-lo, mas deixou com que um sorriso curioso rondasse sua face máscula.

— Sara. — O meu nome dançava em seus lábios carnudos e delineados. Era como se cada sílaba estivesse sendo saboreada desinibidamente.

Desvencilhei-me do caminho sem volta que podia ser encarar aqueles lábios e o cumprimentei apenas com um aperto de mão. Mesmo que eu não me sentisse atacada vendo Christopher com outra mulher, não gostaria de desrespeitá-la tratando-o de uma forma suspeita publicamente, porém ele não parecia tão preocupado com isso.

Um verdadeiro canalha não consegue se esconder nem mesmo por trás de trajes caros e lindos olhos.

— Vocês já se conhecem? — Perguntou Lizzy, docemente, mas seus olhos pareciam estar fixados de forma intimidadora nos meus. Olhei de relance para Gia, que estava ao meu lado, e ela parecia se divertir muito com a situação. Era a única que sabia de minha relação com Christopher, mas eu não me sentia ameaçada porque ela era visivelmente confiável.

— Christopher é um dos sócios da Sinclair Propertiers. — Respondi, confiante.

— Oh, sim. — A forma como seu sorriso se tornou ladino repentinamente me alertou de que o próximo comentário seria regado de subtexto. — Eu diria que compartilhamos uma visão bastante íntima sobre os negócios. — Lizzy encara Christopher com uma das sobrancelhas arqueadas, obviamente intrigada com o comentário, enquanto Gia luta para conter uma risada. O homem abre a boca, talvez para tentar se explicar ou para complementar ainda mais sua sentença. Eu o lanço um olhar assassino na esperança de fazê-lo calar a boca, ele da de ombros e relaxa na cadeira.

Entre smooths, mimosas, canapés e ceviche de camarão houve pessoas entrando na hidromassagem e outras conversando. Gia e eu estávamos no grupo da conversa já que não tínhamos trazido trajes de banho propositalmente, mas para o meu descontentamento Christopher e Lizzy também estavam nesse grupo. Sem mencionar uma conhecida da minha sogra.

— Gia, soube que você e Julian estão planejando um próximo filho! — Questionou a conhecida em questão, Petra, curiosa e bastante animada com o assunto.

Ironia, pois esse era justamente o tópico que servia como álcool em minhas feridas abertas.

Gia negou com a cabeça, rindo fraco.

— Acredito eu que três são suficientes por ora. — Algumas mulheres riram, concordando. Pensei então qual seria a minha opinião nesse caso, se eu tivesse filhos, se pudesse tê-los... porém manti o sorriso no rosto, concordando e fazendo comentários sobre o tema como se esse não me destruísse por dentro.

— E quanto a você e Ethan, Sara? Ainda não chegaram a uma decisão sobre a questão dos filhos? — Questionou Petra.

No mesmo instante, meu sorriso murchou, a boca tornou-se seca e meu coração começou a bater descontroladamente, como se quisesse sair do peito, causando-me uma sensação sufocante.

Por que essa mulher não cala a porra da boca?

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