...Luz Victoria Calina...
Eu não sei o que deu em mim naquela noite. Eu bebi tanto que acabei ficando com um cara. Não lembro direito dos acontecimentos, mas quando acordei, estava desesperada e morta de vergonha por ter tido relações com um total desconhecido e ter fugido antes mesmo dele acordar.
Porém, não esperava a bomba que estava por vir quando descobri que estava grávida. Eu realmente não sabia o que fazer, mas com o tempo fui me acostumando com a ideia e até estava muito feliz.
Eu ia ser mãe, mas não tive coragem de contar para ele. Afinal, ele não iria me entender e eu não queria me estressar ainda mais, indo atrás de um cara que me chamaria de interesseira e diria que eu estava dando um golpe.
Contava os segundos para ter minha filhinha em meus braços. Eu já a amava tanto que foi uma dor insuportável saber que nunca iria vê-la crescer.
E a dor só aumentou depois de amamentar aquela menina. Sentia uma paz tão grande com ela no colo, mas aí tudo mudou quando tive que devolvê-la para a mãe.
Quando recebi alta da maternidade, foi muito difícil sair com os braços vazios, sem a minha filha. O médico disse que, quando eu quisesse, poderia preparar as coisas para o funeral.
Não sabia se tinha forças para isso. Não consegui nem sequer olhar para a minha filhinha, ver o seu corpinho. Isso me doía tanto, muito mais do que a dor que senti no parto.
Peguei meu carro para voltar para casa. Era uma viagem de uma hora. Moro em uma pequena cidade no interior do município de Holambra.
Estava chorando, vendo o bebê conforto da minha filha no carro. Me esforcei tanto para que minha filhinha tivesse as coisinhas dela, tudo preparado para a minha Aninha, e ela não iria para casa comigo. Liguei o carro e segui meu caminho, toda em lágrimas, nem me importando com a dor que estava sentindo enquanto dirigia.
Hoje não tinha muitos carros na rua e acelerei para chegar logo em casa. Eu precisava do colo da minha avó, eu precisava muito ter alguém ao meu lado.
Estava tão desatenta, mergulhada em pensamentos, que não percebi o perigo iminente. Enquanto dirigia, vi o trem se aproximando rapidamente pela minha lateral. Em um instante de pânico, tentei frear o carro com todas as minhas forças, mas parecia que os freios haviam falhado.
O coração disparado, minha mente entrou em modo de sobrevivência. Acelerei com todas as minhas forças, desesperada para passar antes que o trem cruzasse o meu caminho. No entanto, à minha frente, três motos estavam paradas, bloqueando a única rota de fuga.
O tempo parecia ter desacelerado enquanto eu tomava uma decisão impulsiva. Sem pensar duas vezes, joguei o volante para o acostamento, numa tentativa desesperada de evitar a colisão com as motos. A sensação de perder o controle do carro foi avassaladora, meu corpo foi arremessado contra o cinto de segurança e o mundo ao meu redor se transformou em uma confusão de luzes e sons.
O impacto foi violento. O carro colidiu com uma árvore à beira da estrada, fazendo um estrondo ensurdecedor. Vidros estilhaçaram-se, metal retorceu-se e o ar encheu-se de fumaça. Por um momento, tudo ficou embaçado e eu perdi a consciência, sem saber o que aconteceria a seguir.
...
...
🐴🦄🐴🦄5 ANOS DEPOIS 🐴🦄🐴🦄
— Fica quieta, Luz — minha melhor amiga Isabel falou quando me mexi pela décima vez. Eu já estava nesta posição há mais de uma hora, servindo de modelo para ela.
— Eu estou cansada — falei fazendo biquinho. Eu vim unicamente para tentar pensar um pouco no que fazer com a minha vida, e minha amiga, ao invés de me ajudar, está me fazendo trabalhar feito uma condenada.
— Está bem, você venceu, pode parar — ela falou, limpando a mão no seu avental e finalmente pude me esticar. — Agora, sobre aquele assunto, você deveria ir atrás do seu pai. Você lembra que tem um?
— Não é legal ficar brincando com isso, viu Isabel? Depois daquele acidente, eu tive uma amnésia, mas eu lembro de tudo. E eu lembro tão bem que sei que não posso contar com o meu pai.
— Claro que você lembra de tudo - ela falou com a cara que ela sempre faz quando eu falo isso, como se fosse uma grande mentira.
— Minha avó está muito mal, e os médicos já deixaram bem claro que ela não vai voltar a andar. Eu não sei o que posso fazer para ajudá-la. Além da conta no hospital, descobri que não estavam pagando o plano dela, e não sei o que fazer, amiga. Além disso, eles venderam a fazenda da mamãe. Me fala o que vou fazer.
— Você tem que ir atrás do seu pai. Ele não deveria fazer isso com a sua avó, a própria mãe dele. Seu pai tem condições de te ajudar, e ele não poderia fazer isso, afinal, é seu por direito.
— Eu sei que ele pode pagar todo o tratamento dela, mas ele nunca me escuta...
— Vai lá, que vai dar tudo certo.
— Você pode ver a minha avó hoje? Eu preciso ir para São Paulo, vou falar com o meu pai. Eu não entendo porque eles estão fazendo isso comigo. Primeiro tiram o meu menino, agora querem o quê? Que eu vá morar debaixo da ponte e que minha avó morra? — falei, e ela tirou o avental para vir me abraçar.
— Vai dar tudo certo, amiga. E não se preocupe, e você sabe que eles têm direito sobre o seu irmão — ela falou, e eu resolvi ir para casa arrumar uma mochila com algumas coisas e a minha bolsa, e fui até o meu carro.
Minha mãe faleceu quando eu ainda era criança e me deixou tudo. Ela tinha muito dinheiro, e tudo que meu pai tem hoje é graças a ela. Mas agora ele resolveu vender tudo, e o pior, as minhas terras, onde eu moro com a minha avó e onde eu faço o meu trabalho.
O caminho inteiro eu fui ensaiando um possível discurso na minha cabeça, de como pedir ajuda para o meu pai.
Meu pai tem muito dinheiro, e sei que para ele dinheiro não é problema. O problema mesmo é comigo. Bom, o problema mesmo é a esposa dele comigo. Ela não me suporta, nunca soube o motivo. Eu só tinha seis anos quando ela se casou com o meu pai, mas ela sempre me odiou.
Demorei em média duas horas para chegar até a casa do meu pai. Bom, aquela casa estava mais para uma mansão.
Estava tudo bem silencioso. Cheguei e toquei a campainha, e a demora para chegarem até a porta parecia uma eternidade, mas assim que a Socorro abriu a porta, eu sorri. Ela é a governanta da casa do meu pai e trabalha com ele há décadas.
— Minha menina, que bom te ver aqui — ela falou, me abraçando apertado.
— Também estava com saudades, Socorro. Meu pai está em casa?
— Não, porém ele vem almoçar. Vem, entra. Você deve estar com fome, está tão magrinha. E parece que eu estava adivinhando, já que fiz caruru — ela falou, e sorri na mesma hora.
— É a receita da minha mãe? — perguntei, indo com ela até a cozinha.
— Claro, o seu pai não aceita outra receita — ela falou, e já me sentei na mesa redonda da cozinha.
— Aí, Socorro, eu fisicamente estou bem, porém estou preocupada com a minha avó. E você acredita que o meu pai cortou o plano de saúde dela, e não sei o que fazer para pagar tudo o que a minha avó está precisando? Fora o tamanho que é essa dívida do hospital. Eu até pensei em vender o meu carro para pagar uma parte, mas aí penso como vou levar minha avó para fazer todo o tratamento? Os médicos já deixaram bem claro que ela não vai voltar a andar. E além de tudo, recebi uma mensagem das PDV avisando que eu tenho duas semanas para sair das minhas terras — falei, olhando para as minhas mãos. Eu me sinto culpada, mesmo tendo sido só um acidente de carro. Eu me sinto culpada por não poder fazer nada para ajudá-la.
— Não acredito que o seu pai fez isso com ela. Como ele pode cortar o plano de saúde da própria mãe? — ela falou, me servindo a comida.
— Também não acreditei. Eu entendi ele não querer saber nada da minha vida, mas aí fazer isso com ela, é crueldade. Além do terreno, ele é meu se eu não vender, quem o fez — falei, colocando a primeira porção na boca. Como aqui era nostálgico, e o gosto era maravilhoso.
— Conversar com ele, menina, pode ter sido um erro...
— Eu realmente quero acreditar que isso é verdade, que só foi um erro.
— O erro é você estar na minha casa — ouvi a voz estridente da minha madrasta, e na mesma hora que vejo o seu olhar de raiva, vejo um menininho loirinho entrar correndo, vindo até mim.
— Mam... — eu arregalei os olhos — Luz, que bom que você está aqui! Você trouxe sorvete? — o meu irmãozinho falou, me abraçando, e eu gosto tanto daquele garoto fofo.
— Infelizmente não, meu amor. Eu só vim conversar com o papai sobre a vovó, mas eu prometo que vou trazer um presente do seu aniversário — falei, e ele estava com o olhar triste, o aniversário dele foi ontem, mas não consegui falar com ele.
— Garota, eu já disse que não quero você na minha casa — minha madrasta falou, puxando o meu braço.
— Senhora, você vai machucar a Luz...
— Se cala, Socorro. Este assunto é meu e da bastarda, e eu acho que já deixei bem claro que eu não quero te ver na minha casa.
— Mamãe, não faz assim com a minha irmã — o meu irmãozinho falou, mas ela simplesmente o ignorou.
— Ela não é sua irmã, é só uma intrometida...
— Eu preciso falar com meu pai, eu só vim aqui porque é realmente necessário. Se não, eu estaria em casa. Bom, se eu ainda tiver uma casa — falei, tentando convencê-la a me deixar ficar.
Mas ela me pegou pelo cabelo e me arrastou pela porta a fora, e eu fiquei completamente sem reação. Ela me jogou na calçada e chutou minha barriga.
— Entenda de uma vez por todas, aqui não é lugar para você. Esta é minha casa, e não venha pedir esmolas para meu marido. E não foi nenhum erro eu pedir para cancelar tudo. Você não é mais criança para ele ter que te bancar, então se vira e não coloca mais os seus pés aqui. Se não, eu juro que eu acabo com a sua vida — ela falou, entrando na casa e me deixando ali, jogada na rua.
Me levantei e fui para o meu carro. Eu não aguentava mais ser tratada assim. Eu só vim porque minha avó precisa de mim, e eu não posso ficar sem minha casa, sem minha terra. Antes de ligar o carro, eu vi meu irmãozinho correndo com algo nas mãos e bateu na porta do meu carro.
— Não vai, Luz. Eu quero ficar com você — ele falou, com os olhos cheios de lágrimas, e me abraçou.
Eu tenho dois irmãos, o Luiz Miguel e o Luide. O Luiz tem 15 anos e o Luide tem apenas 5 anos. Como minha madrasta teve depressão pós-parto, meu pai mandou ele para morar com a vovó, e eu cuidei dele até o ano passado. Foi difícil ter que devolver meu menino.
— Eu também queria muito ficar com você, Luide, mas a mana não pode. Eu preciso cuidar da vovó, ela está doente. E você tem o papai e a sua mãe.
— Eu não quero, minha mãe é malvada. Ela te machucou — ele falou, me pedindo colo, e assim eu fiz.
— Você está poluindo a cabeça do meu filho. Luide, vem com a mamãe, deixa essa garota ir embora logo daqui...
— Não, eu quero ficar com a Luz. Ela é boazinha e me dá carinho — ele falou, me abraçando.
— Meu menininho lindo, eu te amo muito mesmo, mas você precisa ficar com a sua mamãe. Outro dia você pede para o papai deixar o motorista te levar para me visitar — falei, beijando-o, embora ele não gostasse muito, e ele foi com a mãe.
Quando eu liguei o carro, ele voltou correndo e me entregou seu cofrinho.
— Para a vovó — ele falou, me entregando, e ela já o arrastou de volta para casa.
E respirei fundo não podia desistir.
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Continua...
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Atualizado até capítulo 107
Comments
Angela Rodrigues
mau agradecida está ordinária,a luz cuidou do filho dela e é assim que ela agradece, que ódio 😡
2024-04-15
2
Anamaria Dos Santos
misericórdia que madrasta desgraçada infeliz maudita escomungada essa praga tem que sofrer até o último suspiro 😤😤😤😤
2024-01-05
3
rubenita paula
cadê as fotos
2024-01-01
3