capítulo 19

Sangue... Quente e vibrante.

Ele pingava das minhas mãos conforme recolhia os cacos do espelho sobre o chão. Chorar? Eu bem que queria saber o que era libertar minhas lágrimas e deixá-las assumirem aquela dor e raiva que sentia. Entretanto, elas não faziam mais parte do meu ser desde a morte da minha mãe. Eu prometi a ela que seria forte e cuidaria de Rowan.

 Beatriz entrou no quarto agachando em minha frente, segurando meus pulsos, olhou-me intensamente nos olhos. Havia tanta empatia em seus lindos olhos castanhos-claros, que me apeguei aquele sentimento.

— Ele pediu para me chamar, não foi? — Beatriz em um suspiro assentiu. — Certo.

Forcei um sorriso e me levantei, Beatriz continuou recolhendo os cacos. Lavei as mãos, em um suspiro me encarei enquanto amarrava os cabelos.

 Conforme me aproximava da porta do escritório, tentei não pensar muito na forma que ele me bateria, nem qual objeto ele usaria desta vez. Me mantive calma e completamente neutra.

 Me ajoelhei diante da mesma, colocando o rabo de cavalo para lateral do pescoço. Retirei a blusa, repousei as mãos sobre a mesa e aguardei de olhos fechados. Quando o primeiro golpe veio, senti a dor causada pela haste. Ele estava utilizando a vara de adestramento de cavalo para me punir. Cada golpe era ainda mais agonizante e sua mão parecia pesar ainda mais. Meu sangue estava zumbindo, eu podia ouvir meu coração batendo.Trinquei os dentes e foquei em uma pintura na parede, atrás da mesa.

 Dois veleiro ao entardecer, próximos a uma ilha. O mar parecia tão calmo e o entardecer tão quente...Eu me imaginei naquele lugar, a cada golpe sobre minha pele, mais me enfiando dentro daquela pintura, se quer estava contando quantos golpes ele dava. Quando o último foi dado, William estava ofegante. Olhei para a vara em sua mão em seguida para seus olhos. Vi sua boca se mexer, mas não ouvi uma única palavra. Coloquei-me de pé vestindo a blusa e subi para o quarto como se nada houvesse acontecido, como todas as vezes. Mas as marcas, desta vez, ficaram piores que das outras.

   No jantar, William não deu um único sussurro. Ninguém deu, na verdade. Estava tão dentro de mim, que pouco me importava se ele queria um pedido de desculpas ou algo parecido. Eu apenas estava ali existindo.

Naquela mesma noite, Jasmine me ligou diversas vezes. Ignorava sua ligação como ignorei William, quase cheguei a desligar o celular. Mas a insistência me venceu por completo. Será que eu não podia deixar de existir por um único dia?

— Oi Jasmine. — Atendi arrastando a voz.

— Eu preciso de você aqui agora — Ouvia os gritos dos guardas de Jasmine atrás — , ou ele vai quebrar toda boate. Ei, não é possível que três homens não consigam conter um.

— Eu não...

Ela havia desligado na minha cara. Como eu iria? Ele estava me forçando a vê-lo, de uma forma ou de outra. Que homem mimado. Será que a mãe dele não dizia não para ele?

Precisei me tampar completamente para ninguém ver os vergões, estavam tão dolorosos e ainda queimavam muito.

.........

Quando entrei na boate, estava tudo revirado, dois seguranças tentavam conte-lo, o terceiro deu um soco em seu estômago e ele simplesmente sorriu. Me aproximei respirando profundamente. Ele me pagaria caro por me tirar de casa daquela maneira.

— Podem soltá-lo, eu resolvo daqui em diante.

Após os guardas saírem, ele se aproximou ajeitando os cabelos, encarei seu olhar e antes que ele dissesse alguma coisa, dei um tapa em seu rosto.

— Que papelão, veja o que fez com a boate. Você sabe o quanto isso prejudica Jasmine?

— Eu pago cada centavo, mas eu precisava te ver, te sentir. — Rio de escárnio.

— Você não me ouviu? Eu disse que não queria vê-lo. E se continuar desta forma, não irei vê-lo nunca mais. — ele respirou fundo.

— Venha comigo, por favor.

— Eu não vou. — Afirme .Sua mão avançou até meu rosto suavemente, mas me afastei — Não me toque.

— Está com medo de mim?

Em seus olhar estava apreensivo, coberto por uma névoa que não sabia de onde vinha

— Não, apenas ... — soltei o ar contido em meus pulmões. — Preciso de espaço.

— Passe a noite comigo, meu bem?

— Não posso. — respondi dando mais um passo para trás. — Vá para casa, nos vemos em alguns dias, eu prometo.

— Está me deixando bastante — ele morde o lábio — ansioso. Não posso mais esperar.

— Não posso te dar o que precisa agora.

— Não precisa ter sexo, não é apenas isso que quero de você. Eu... Eu aprecio da sua companhia.

— Companhia? — Ele assente. — Tudo bem, contanto que não me toque.

— O que quiser.

...💠...

Estavamos deitados olhando um para o outro já fazia mais de uma hora. Estava tão cansada e anestesiada daquela noite, que se ele deixasse, jamais sairia daquela cama confortável.

 Meus olhos estavam ficando pesados quando ele se manifestou.

— Você está bem? — perguntou como um sussurro.

— Sim. Por que a pergunta?

— Tive a impressão de que alguma coisa aconteceu com você. Quer me contar?

Fiz uma anotação mental para lembrar o quanto ele era observador.

— Eu estava... — Comecei a dizer que estava bem, mas sabia que ele não acreditaria nisso. — Não é pessoal, acredite.

Seu olhar intenso percorreu o que ele podia ver do meu rosto e, mesmo com a máscara, eu me sentia insuportavelmente exposta quando ele olhava para mim daquele jeito.

— Eu odeio isso.

— Odeia o quê? — perguntei, confusa, ele não respondeu imediatamente.

— Não poder tocar em você. — suspirei pesadamente fechando os olhos cansados.

— Você pode tocar em meu rosto.

Senti quando sua mão acariciou meu rosto suavemente, eu estava exausta demais para impedir ou brigar por nada. Talvez não tenha me alimentando direito nestes dias, ou era consequência dos inúmeros analgésicos tomados mais cedo. Estava entrando em sono quando senti seu beijo em minha testa.

Quando amanheceu, uma bandeja de café da manhã estava sobre a cama, do lado vazio, que antes estava ocupado por ele.

Ele estava sentado na poltrona, massageando as temporas.

— Bom dia. — Ele me olhou de olhos cerrados.

— Bom dia, apesar de não ter conseguido dormir. — Me sentei com dificuldade, segurando para não gemer de dor.

— Por que não dormiu? — Sondei pegando o suco de laranja.

— Eu vi seus hematomas enquanto dormia. — Engoli em seco.

Quando ele mexeu em mim que não senti? E por qual motivo?

— Isso não é da sua conta. — Rebato tomando um pequeno gole.

— É sim. — Ele se levantou sentando a meu lado na cama. — Me diga, e não minta para mim. — Era possível sentir a raiva em sua voz. Mas porque ele se importava?

— Te dizer o quê? — Seu maxilar contraiu lentamente.

— Quem fez isso com você? Quem foi o maldito que te machucou desta forma?

— Por quê se importa? Não é da sua conta. — Insisti.Houve um instante de silêncio.

— Me importa que você esteja bem, confortável e saudável.

— Ainda não assinei aquele maldito contrato. — ele franzi o nariz.

— Foda-se o contrato. Eu quero saber quem te machucou.

— Para sincera, não sei muito bem qual é o sentido — admiti

Por alguns minutos, nenhum de nós disse mais nada.

— Não quer dizer, tudo bem, não diga. Mas quando eu descobrir, ele vai pedir para não ter nascido. Fique ciente disso. — Ele me deu um sorriso frio . — Agora coma, você precisa de energia.

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Comments

Bia Morais

Bia Morais

Eu quero ver o circo pegar fogo quando o gostosão colocar as mãos no William

2023-08-30

1

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