Talvez voltar para casa naquela tarde, tenha sido um erro. Assim que passei pela porta, um dos homens de William me interrompeu.
— Seu pai a aguarda no escritório, senhorita.
Senti um frio nas entranhas. Algo eu teria feito que o deixou nervoso, ou os guardas-costas me delataram.Tentei me livrar daquela sensação, mas quanto mais eu pensava nas hipóteses, mais a sensação aumentava. Com o estômago revirado, consegui esboçar um sorriso enquanto imaginava o que me aguardava.
— Obrigada.
Enquanto me dirigia para o escritório, um aviso apareceu em meu celular.
" Ligar para Soberano"
Uma inquietação me invadiu, correndo pelas minhas veias. Por um breve momento, eu tinha me esquecido dos motivos pelos quais podia ter sido chamada ali.Respirei fundo e entrelacei as mãos conforme endireitava os ombros e seguia em frente. Bati na porta do escritório, no mesmo instante William ordenou minha entrada.
Gelada até a medula, eu respirei fundo, comedida, enquanto o observava Willian olhar pela janela . Sabia que havia que escolher as palavras com cuidado. Não mudariam o que estava por vir, mas poderiam determinar a gravidade. A porta se fechou atrás de mim, me sobressaltando. Eu detestava aquela reação e esperava que William não tivesse notado, mas percebi que sim, assim que o vi sorrindo.
— Angeline, eu estou incrivelmente decepcionado com você.— Um calafrio percorreu o meu corpo quando ele olhou para mim de olhos cerrados.
— Sinto muito por ter decepcionado você, pai.— comecei. — Eu…
— Você ao menos sabe o que fez para me deixar tão decepcionado?
Os músculos dos meus ombros enrijeceram e desviei meu olhar. Eu me forcei a falar, mas as palavras saíram todas erradas:
— Não, mas tenho certeza de que, seja lá o que for, é culpa minha. Você nunca se decepciona comigo sem motivo.— Era mentira, todo erro era culpa dos outros, nunca culpa de William.
— Você tem razão. Eu não ficaria decepcionado sem motivo —concordou ele. — Mas, desta vez, fiquei surpreso com o que me disseram.
Senti o estômago revirado enquanto o suor brotava da minha testa. Minha cabeça parecia querer saltar do pescoço, mil pensamentos sondaram dentro de mim.— Olhe para mim — ordenou ele suavemente, e eu obedeci. Seu olhar de jaspe percorreu as minhas feições lentamente. — Eu te disse para ser obediente, querida. — As pontas de seus dedos pressionaram a pele sob o meu queixo.— Você não tem nada a dizer?
— Eu... — As palavras simplesmente não saiam.
— Sempre desobediente. Mesmo sendo a mais mimada, a que mais tem minha atenção.
— Sinto muito. — Sacudi a cabeça.
— Sem desculpas. Eu tentei ser compreensível, tentei não castiga-la mais daquela forma. — Engoli em seco, resistindo ao impulso de me afastar quando William acariciou o meu rosto.
— Não será necessário pai, eu vou...
— Shiii...—Seus olhos encontraram os meus, e era difícil encarar uma escuridão sem fim.— Apenas estava te esperando. — A irritação explodiu dentro de mim, mas eu sabia que não devia ceder a esse sentimento.— O que você acha de dez?
Senti uma pontada de apreensão, mas eu já tinha recebido dez antes. Uma vez, quando tinha quinze anos, William me deu treze golpeadas, com a vara de guia do cavalo.
— Pai, por favor. Tenho plantão no hospital hoje à noite. Não posso me ausentar.
— Sua residência estará lá quando estiver melhor. —Ele endureceu o olhar.— Você sabe o que fazer.
Aquela era a pior parte, caminhar até a superfície marmorizada e limpa da sua mesa. Não era a primeira vez, nem seria a última. William sempre descontava sua frustrações por não conseguir me dominar totalmente,daquela forma. De certa forma, eu até entendia sua forma de aliviar a frustração, eu fazia o mesmo quando dançava,fazendo sexo, até mesmo fazendo minhas vítimas se humilharem antes de mata-las. Não havia sensação melhor que ver o medo e agonia nos olhos deles, sabendo que suas vidas estavam em minhas mãos. Parei em frente à mesa, as mãos tremendo com uma raiva mal contida. Olhei pelo canto do olho, enquanto William retirava a cinta.
— Você não está pronta, Angeline? Já deveria saber o que fazer.
Cerrando o maxilar, eu desviei o olhar enquanto levava as mãos até a fileira de botões da minha blusa. Meus dedos tremeram somente uma vez e depois pararam enquanto eu desabotoava cada casa, ciente de que William estava preparado pelo que estava por vir. William permaneceu ao meu lado, esperando eu retirar a blusa e o sutiã. Com as bochechas vermelhas e os olhos ardendo, eu cruzei o braço sobre meus seios.O ar frio soprou nas minhas costas e peito, e tive vontade de ficar ali como se não fosse afetada por aquela provação. Como se aquela humilhação fosse natural, como se não me afetasse em nada. Eu queria ser forte, corajosa e impassível. Não queria que ele vissem o quanto aquilo era humilhante, e o quanto me fazia odiá-lo ainda mais.
— Isso é para o seu próprio bem — Afirmou William.
Mas eu sabia, sabia que aquilo era uma forma de tentar me manter quieta, em completo cabresto.
O silêncio deixava tudo ainda pior, apenas nossas respirações podiam ser ouvidas, o assovio suave da cinta cortando o ar um segundo antes de atingir as minhas costas. O meu corpo inteiro estremeceu quando uma dor lancinante ardente reverberou em minha pele. O primeiro golpe era sempre um choque,o pior deles, não importava quantas vezes tivesse acontecido antes ou que eu soubesse o que estava por vir. Outro golpe atingiu a minha lombar, empurrando uma rajada de ar quente quando o fogo varreu através do couro.
Mais oito... Apenas oito, Angeline, aguente firme. Espalmei a mão sobre a mesa.O ar que respirei não foi suficiente para inflar os meus pulmões.
Outro golpe me atingiu, e senti o corpo estremecer quando fechei os olhos.
"Não vou dar nem um pio. Não vou dar nem um pio."
Meus quadris bateram contra a cadeira com o golpe seguinte. Mais um, me fazendo apertar as bordas da mesa.... Quando finalmente William terminou, cai deitada sobre o tapete, encolhida .Com a pele em chamas, mordi o lábio até sentir o gosto de sangue.
— Espero que esteja ciente de agora em diante.
Eu jamais admitiria diante dele, mas admitir como tinha sido ruim e doloroso,era como dar a William o que ele queria. Ainda com os olhos marejados, encarei seu olhar, e tinha ciência que apenas ódio habitava neles.
Enquanto subia para meu quarto, me perguntava se os homens de William sabiam o que havia acontecido. Talvez sim... Mas não soltei um único gemido, um pio se quer, mesmo no sétimo e oitavo golpe, que foi como arames farpados me cortando lentamente.Se os guardas estavam cientes, não havia nada que eu pudesse fazer a respeito disso. Ofegante e caminhando como se cada passo fosse um desafio, cada passo era como se mergulhasse em um tanque repleto de seringas, onde a cada mexida, as agulhas entrassem ainda mais fundo, consegui chegar ao quarto. Não precisava fingir para mim. Senti as mãos trêmulas quando segurei a maçaneta da porta. ...
...💠...
Meu corpo estremecia conforme Beatriz limpava meus ferimentos na manhã seguinte. Eu torcia para quê os vergões sumissem logo, provavelmente, precisaria de mais dois dias.Ela não disse uma palavra se quer. Nas inúmeras vezes que aconteceu, foi Beatriz quem cuidou dos ferimentos.
Não tive coragem de ligar para o Soberano, na noite anterior, apenas uma mensagem de texto foi o suficiente. Ele não poderia retornar, meu ID era oculto, pelo menos do número que eu ligava para ele. Porém, imagino o quanto deve ter ficado desapontado. O que me fez ri... Seria uma cena interessante de ser vista.
Entretanto, ele teria que ter paciência e aguardar que estivesse melhor.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 49
Comments