capítulo 09

Na maioria das noites, eu não conseguia dormir antes que estivesse quase amanhecendo. E, quando dormia, eu quase desejava que não tivesse caído no sono. Só naquela semana, acordei de um pesadelo três vezes, com os meus próprios gritos ecoando nos ouvidos. Quando vinham assim, em grupos, pareciam até um presságio. Um instinto muito parecido com a habilidade de vidência, berrando um sinal de alerta. E posso dizer que está noite é uma dessas. Acordei completamente suada, e com os meus próprios gritos. Antes, Rowan e até mesmo Garratt vinham às pressas me socorrer, mas acabaram se acostumando com noites como essas.

 Após encarar-me por longos minutos no espelho do banheiro, lavei o rosto e voltei para o quarto. Rowan estava deitado em minha cama.

— Seus gritos me despertou. — Disse Rowan se ajeitando sobre as cobertas.

— Me desculpe. Ainda está zangado comigo? — Rowan nega. Me deito ao seu lado, fixando o olhar nos seus olhos verdes.

 Rowan era o que mais se parecia com o nosso pai. Seus ondulados cabelos castanhos, estavam quase entrando em seus olhos. Ajeitei com o dedo, para poder ver mais claramente o seu olhar inocente.

— Eu também tenho pesadelos, Angel. — Confessou mordendo as bochechas.

— Que tipo de pesadelos? — Sondei, mas Rowan desviou o olhar. Como se quisesse lembrar os detalhes.

— Não sei explicar direito. Como são os seus? — Engoli em seco.

Como iria explicar para meu doce Rowan, que a maioria deles se resumiam em morte e perturbação da minha mente obcecada por vingança?

— Às vezes, eles são nebulosos, como vultos de algo ruim, muito ruim.

— Os meus são iguais. — confessou.

—Consegue me contar pelo menos um deles?

— Bem — respondeu se virando, encarando a luz acesa. —, na maioria das vezes, a mamãe está neles. — Um aperto tomou conta do meu peito. — Ela estava como na foto em família gigantesca no corredor. De vestido azul claro, com os cabelos presos. Mas, diferente das fotos, ela está séria, não diz nada, apenas está lá. — Suspiro — O olhar dela é tão vazio. Aquele azul intenso dos seus olhos, parece mais como cinza. Eu a chamo, contudo, ela parece não ouvir. Eu grito, grito cada vez mais alto, desesperadamente, porém… a minha voz começa a falhar.— o meu estômago começa a latejar, como se alguém apertasse com todas as forças. — Um estrondo, dois, e a nossa mãe some, como um vulto, bem diante dos meus olhos. É nesta hora que acordo. — Rowan vira a cabeça me olhando. — Você acha que é loucura, Angel?

Tento manter minha expressão serena diante da cena que Rowan acabou de relatar. Mas aquilo não era loucura, não mesmo.

— Não... É difícil para você também, talvez mais que para mim ou para Garratt.

— Vocês nunca me contaram como foi que ela morreu. — Engulo em seco. Mesmo que fosse doloroso falar sobre o assunto, ele precisava saber. Entretanto, ainda não estava preparado.

— Vamos te contar, mas não hoje. Precisamos dormir. — Bagunço seus cabelos.

— Ei... Não é justo, eu te contei sobre meu pesadelo.

— É, você contou. — Ele franze o nariz.

—Sua vez. — Respiro fundo.

— O mais recorrente... Eu estou em uma colina,está ventando bastante. O céu está completamente cinza e as aves fogem.

— Como se uma tempestade se formasse? — Torço os lábios.

— Mais como se um tornado se aproximasse, sabe? Enfim... Eu apenas fico ali olhando, imóvel. Enquanto tudo vai sendo devastado, consumido pelo tornado. E quando ele está prestes a me alcançar,me sugando, eu acordo com meus gritos. — Rowan parece pensativo.

— Uma amiga do colégio, me disse uma vez, que sonhos e pesadelos podem ser premonições de algo prestes a acontecer.

— Ela deve ter razões para pensar assim. Mas agora é hora de dormir.— Beijo seu rosto, ele se aconchega, apago a luz.

...💠...

Saio logo após o cansativo almoço com os Petrov. Meu pai tem ficado cada vez mais controlador e obcecado por minha segurança, mesmo que não seja necessário. Dois armários de um metro e noventa aproximadamente, me seguindo onde quer que eu vá, nos meus calcanhares como cachorros.

 Liguei para Lorelay, requeria um favor, eu teria que ser discreta, marcamos em uma cafeteira no centro.

— Fiquei preocupada quando disse ser importante. — Me sento chamando a garçonete.

— Não se preocupe, mas é algo sério.

— Senhorita!?

— Um expresso duplo e alguns macarons. — A garçonete assente saindo. — Uma vez, você me disse que seu irmão era ótimo com invasão tecnologica.— Ela franze a testa, olha para os dois homens atrás de mim.

— Ele é. — Ela sussurra se inclinando o corpo na minha direção. — Mas para quê você precisa de um hacker?

— Ainda não, mas quero que ele esteja preparado. — Ela encara os homens novamente.

— Eles vão ficar aí mesmo? — sonda incomodada.

— Tem razão. — Estalo os dedos, os dois se inclinam um pouco. — Preciso de privacidade, se afastem um pouco.

— Seu pai... — Rebate o de pele como jambo. Os seus traços são fortes, mas excitantes, sua voz é como um trovão cortando o céu.

— Meu pai não está aqui. — o olho pelo ombro, ele se ajeita.

— Claro senhorita Petrov.

— Eles são lindos, mas assustadores. — Rio do comentário de Lore.

— Pode marcar em um encontro com o seu primo? — Ela respira fundo.

— Sim, vou tentar. — A garçonete coloca meu pedido sobre a mesa.

— Perfeito, mas não se preocupe, não é nada ilegal. — Ela leva a sua xícara a boca.

— Imagino. — Sorrio torto.

.........

Após deixar Lorelay em sua loja, sigo para o subúrbio, o carro dos guardas costas está colado no meu. Preciso despista-los antes de chegar no meu destino. Acelero entrando em uma avenida movimentada em direção a uma interestadual. O carro deles não é tão potente como o meu jaguar, corto os caros, costurando, quando eles perdem a visão do meu carro pelos caminhões atrás de mim, pego a entrada a direita para a cidade novamente. Quando perceberem, já terão ultrapassado a entrada e será tarde.

Estaciono em frente ao prédio abandonado de três andares. Olho ao redor e entro. Subo para o andar superior. Bato na porta de número 202 e logo sou atendida.

— Feiticeira, há algum trabalho, espero.— Empurro o peito de Hans entrando.

— É um trabalho diferente desta vez.

Hans tem sido meu grande detetive, digamos assim. Ele trabalhou para a inteligência russa por alguns anos, o conheci por intermédio de um cliente. Hans é um homem de meia idade, chega até ser interessante por seus conhecimentos em espionagem, Hans é um fugitivo hoje... Eu o ajudo a se esconder e arco com os seus gastos em troca de trabalho. Porém, sempre é pago por seus serviços.

— Que tipo de trabalho? — Questiona fechando a porta.

— Preciso que descubra tudo que pode sobre a Máfia. Para ser mais específica, quem é o chefe e onde ele mora.

— Está ficando louca? Não está pensando em mexer com a Máfia russa, está? — Rio sarcasticamente erguendo uma sobrancelha.

— Não te pago para fazer perguntas, Hans. Apenas faça. — Ele assente.

— Claro, não sou pago para fazer perguntas. Entretanto, nestes anos trabalhando com você, aprendi a me preocupar com a sua segurança. — Rio de escárnio.

— Com a minha ou com a sua? — Bufo revirando os olhos. — A idade está te deixando frouxo? — Bato no seu ombro — Vou ficar bem, garanto. E mesmo que algo aconteça, uma amiga irá se certificar que você tenha dinheiro suficiente para fugir de Moscou.

— Espero que não seja estúpida e se meta em confusão.

— Tem menos de uma semana. — Sigo em direção à saída.

— Consigo antes disso.

— Te darei um acréscimo se conseguir. Voltarei em breve.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!