Capítulo 16

Estava faminta, ficamos naquelas brincadeiras a manhã toda. As minhas pernas chegaram a ficar bambas. Não poderia mais ficar um único segundo naquele quarto.

  Ele pediu um almoço requintado de um restaurante no mesmo quarteirão do duplex. Enquanto comíamos, o silêncio reinava, apenas nos olhamos como se ainda fossemos devorar um ao outro. Ouvi um celular tocar, o barulho vinha da sala, precisamente do sofá. Era o meu celular, levantei-me apressadamente, antes que ele alcançasse a bolsa e a abrisse para pegar o celular. Ele veria a minha pequena arma, seria difícil explicar, teria que inventar uma mentira e não queria fazer isso naquele momento.

Tomei a bolsa de sua mão, como um instinto, abri a bolsa pegando o celular rapidamente.

— Preciso atender, é importante. — Ele assente.

— Se quiser privacidade, pode atender no escritório. — Ele aponta uma porta próximo à escada.

— Obrigada. — dirijo-me para o escritório, atendendo o celular assim que fecho a porta. — Hans, pode falar.

— Estou te ligando a manhã toda, está tudo bem?

— Sim, estou ocupada com alguns afazeres. O que você quer? Já conseguiu as informações? — Ele suspira.

— Não, mas falta pouco. É sobre um trabalho.

— Seja breve.

— Bem, o mandante já me enviou as informações, se puder buscar…

— Não, me mande codificado como sempre, quanto menos eu for até você será mais seguro.

— Certo, mandarei assim que possível. — Desligo.

  Mas há várias mensagens de Lorelay e ligações intermináveis. Aproveito para retornar, ela me atende imediatamente.

— Angeline... Graça a Deus, já estava indo a polícia. — respiro fundo. Se ela fosse essa proeza, eu a mataria.

— Estou bem, é tudo que precisa saber.

— Você ainda está com aquele brutamontes de ontem. — Como ela ousava chamar um homem desses de brutamontes, ela é perturbada?

— Estou, quando chegar em casa te ligo.

— Tome cuidado. — revirou os olhos.

— Obrigada por se preocupar, até mais.

— Ang… — Desligo na cara dela.

Saio do escritório, ele está na mesa, apoiado sobre as mãos, pensativo. Será que ele ouviu atrás da porta? Não, ele é um cavalheiro, não faria isso. Não tem que ser tão paranoica Angeline.

— Estava pensando. — Me sento, ele me analisa. — Quero que saiba mais sobre mim.

— Por quê? — Questiono tomando o restante do meu suco.

— Para que se sinta mais à vontade comigo.— rio de nervoso. Isso só nos deixaria mais próximos, o que não seria uma boa ideia.

— Dissemos, nada de nomes, espero que não tenha se esquecido. — Ele rosna.

— Você disse, não eu. — Me advertiu sério. — Mas não desta forma. —. Ele se levanta me estendendo a mão para mim, mas não sei se desta vez quero ir com ele. — Venha.

Olho sua mão por um instante, não sei se quero saber sobre ele. Algo dentro de mim liga como um alerta para me afastar enquanto há tempo.

— Você não virá comigo? — Eu suspiro, excitantes. Ele ri. — Já disse que não precisa ter medo.

— Tudo bem. — Tomo a sua mão, e ele me puxa para os seus braços e beija-me profundamente. — Não é outro quarto exótico, é?

— Não, relaxe.

Seguimos pelo corredor no andar inferior, passamos por algumas portas até chegarmos a última, ele abre e o cheiro de tinta invade o corredor.

Era o ateliê mais lindo que já vira. Ok, não vi muitos, mas, a parede central pegava do andar superior até o chão com vidros fumê, a galeria de cima, haviam diversas plantas e quadros pintados. Na parede à direita, havia um móvel embutido nas colunas, com várias prateleiras, com diversas tintas. Telas em brancos e materiais de pintura, como pincéis, paletas, lápis e aquarelas. Na parede à esquerda, diversos quadros pendurados, do andar superior até próximo ao chão.Ao fundo um cavalete grande com um quadro tampado. Entramos, ele ainda segurava a minha mão.

— Este é meu estúdio, é aqui que passo uma parte do dia. Pelo menos quando estou irritado, com raiva ou deprimido.

— Nossa, é incrível. Você pinta dês de criança? — Ele nega.

Solto sua mão indo até à parede de quadros, nem todos são abstratos, alguns são olhos com lágrimas em tons acinzentados e perto, outros de paisagens, astros e até mesmo alguns de flores.

— Comecei depois da morte da minha mãe. Meu pai se enfiou nas bebidas e o meu irmão nas drogas. Eu estava vendo minha família se acabar lentamente... — Ele dirige-se até um dos quadros, desliza os dedos pela pintura e continua — Eu gostava de ficar nas galerias, observando os quadros de pintores como Van Gogh, Picasso, Portinari, Ismael Nery entre outros. Mas as que mais me chamavam atenção eram as de Van Gogh. — Ele suspira. — Eu sentia a dor nas pinturas dele, a angústia, as cores dramáticas e vibrantes, além de pinceladas impulsivas e expressivas. — Ele solta o ar de seus pulmões.

— Eu entendo, é assim para mim na dança.

— Foi libertador trazer minhas emoções para a tela.

— Posso ver aquela? — Aponto para o cavalete coberto por um pano. Ele coloca as mãos nos bolsos.

— Ainda não terminei. — Ele me olha intensamente. — Mas fique à vontade.

Me aproximo do cavalete com um pouco de receio. Naquela sala, ampla e mal iluminada, estava aquele homem por inteiro, e ele estava se mostrando por inteiro para mim. O que ele queria com isso? Qual a sua intenção? Talvez me deixe à vontade a ponto de me render, apenas por ter me mostrado as suas fraquezas?

Ao retirar o tecido, me surpreende o desenho sobre a tela. Era o esboço de lábios, sensuais, traços tão finos e delicados que diria que ele era um pintor profissional. Ele deslizou suas mãos por meus braços cheirando meus cabelos, o que me fez estremecer por completo.

— Eu disse que seus lábios não saem dos meus pensamentos.

Aquilo me surpreendeu ainda mais. Aqueles eram os meus lábios. Ele realmente estava tão fascinado assim por mim? Ou aquilo era apenas para eu baixar a guarda?

— Este farei questão de levar para casa. — O olhei curiosa.

— Está não é sua casa? — Ele sorriu sensualmente.

— É apenas um refúgio. — Seu dedo retira uma mexa do meu rosto suavemente. — Será nosso refúgio, a menos que você não queira. — Umedeço os lábios engolindo a saliva.

— Acho melhor eu voltar para casa. Tenho coisas importantes para resolver. — Ele suspira voltando as mãos para os bolsos.

— Sinto muito se foi muito para você. — Ele desvia o olhar.

— Não foi, eu... Eu apenas preciso pensar em tudo que aconteceu, que passamos aqui. Mas não sei se posso fazer isso.— Ele leva a mão à nuca .

— Tudo bem, vou chamar um táxi enquanto você se veste.

.........

Após me vestir, o táxi já esperava na porta do edifício. Ele me levou até o elevador, parecia um pouco cabisbaixo. Poderia ser minha impressão, mas minha resposta pode ter o afetado, ou a falta dela.

— Obrigada por ter cuidado de mim. — Pela primeira vez agradeço por algo que realmente queria agradecer.

— Sou eu quem devo agradecer pelos momentos agradáveis. Espero que possam se repetir em breve.

O elevador chega, entro me virando para olha-lo uma última vez. Ele estava de blusa social branca e calças de alfaiataria azul-escuro, com os cabelos molhados, penteados para trás.

— Adeus — eu murmuro.

— Adeus, raposinha .— ele diz suavemente, e ele parece completamente,

totalmente quebrado, um homem em uma dor agonizante, refletindo como

eu me sinto por dentro.

As portas do elevador fecham, e me leva rapidamente para o térreo e para o meu inferno pessoal. Retiro a máscara ao sair do edifício, entrando no táxi. Digo o endereço que deixei meu carro, e o taxista dá a partida.

Respiro fundo por vezes. As cenas dos momentos que tivemos, passam como filme em minha cabeça. Me sinto sufocada, mas não sei o motivo.

— Está tudo bem, senhorita?

— Encaro o motorista pelo retrovisor.

— Não é da sua conta, apenas dirija. — ele assente.

O taxista me deixa no destino, entro no carro e volto a respirar fundo. É um sentimento sufocante e melancólico. Bato no volante algumas vezes com força, ligo o carro indo em direção a mansão. Ligo o rádio, está passando uma música melancólica, eu rio e deixo ela tocar. A letra... porra, que merda.

"Lençóis frios, oh, mas onde está meu amor?

À noite, eu estou procurando por toda parte

Será que ela sabe que nós sangramos da mesma forma?

Não quero chorar, mas me quebro assim

Você fugiu?

Você fugiu? Eu não preciso saber

Mas se você fugiu

Se você fugiu, volte para casa

Apenas volte para casa"

Aperto o volante com raiva e grito. O que eu estou fazendo? Tudo em mim está dizendo para me afastar e os meus impulsos levam-me a ele. Eu realmente deveria me afastar, enquanto há tempo. Ou simplesmente matá-lo, assim poderei me ver livre destes malditos impulsos.

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