Um Pequeno Pedido

“Moça!” Uma voz angustiada ecoou na escuridão.

“Moça! Por favor, acorde!”

Angelina sentiu seus ombros sendo sacudidos, tirando-a de um sono profundo do qual ela não queria mais acordar.

Lentamente, ela abriu os olhos pesados. A primeira coisa que viu foi a expressão preocupada de Irina. A empregada estava inclinada sobre ela, onde ela tinha desmaiado no dia anterior, ainda encostada na parede.

“Obrigada, Deus”, suspirou Irina quando viu seus olhos finalmente abertos. “Você está bem, moça? Quer que eu chame um médico?”

“Não”, ela respondeu com a voz rouca como lixa. “Não chame ninguém.”

Não tinha sido um pesadelo afinal.

A gaiola dourada era tão real quanto as algemas invisíveis em seus pulsos e o peso pesado em seus ombros.

“Tem certeza? Você está pálida”, insistiu Irina.

“Eu já disse que estou bem”, Angelina respondeu, sem querer ser rude, apesar de estar de mau humor. Irina não era culpada pelo que tinha acontecido.

“Desculpe, não foi minha intenção...”

“Está tudo bem, moça”, a mulher sorriu ironicamente.

“Vou preparar um banho para você.”

Angelina quis recusar, mas não conseguiu articular palavras. Seus olhos pararam em uma caixa que Irina estava segurando.

Como se lesse seus pensamentos, a mulher explicou: “É um vestido. O Sr. Ivanov quer que você o use no jantar de hoje à noite.”

“Jantar...com ele?”

“Claro. Ele pediu a sua presença.” Irina entregou a caixa antes de ir para o banheiro.

O som de água corrente ecoou em seus ouvidos. Ela sentiu o estômago se contrair ao pensar em ver aquele homem novamente. Olhando para a caixa, encontrou um belo vestido branco e um conjunto de lingerie combinando. Suas mãos tremiam e o nó em sua garganta a impedia de respirar.

“Você dormiu por muito tempo. Eu estava começando a me preocupar”, a voz de Irina cortou seus pensamentos tumultuados.

Pouco depois, a empregada saiu do luxuoso banheiro com um sorriso discreto nos lábios.

“Seu banho estará pronto em breve. Vou deixá-la a sós, mas por favor, chame se precisar de algo.” Seu olhar persistiu, aguardando uma resposta que não veio.

Depois que Irina saiu, um silêncio assustador tomou conta do quarto. Angelina respirou fundo, ainda meio tonta.

Seja corajosa.

A água quente acalmou só um pouco seus nervos em pedaços. Ela desejou mais do que nunca que os minutos se transformassem em horas, que o mundo parasse, uma bomba explodisse, qualquer coisa para evitar encarar aquele monstro de novo.  

Angelina ficou na banheira até que a água ficasse fria e seus dedos enrugados.

Uma hora depois, ela estava vestida e pronta. Irina voltou para ajudá-la com o cabelo e maquiagem.

Sua respiração era superficial e seus dedos se agarravam ao tecido macio do vestido enquanto a empregada a condizia pelos corredores luxuosos, até a sala de jantar.

Nikolai já estava esperando quando ela entrou. Ele estava sentado como um rei no final da mesa, seu olhar implacável se fixou nela, assim que a notou.

Seus braços tatuados estavam expostos com sua camisa preta dobrada. Um calor e um nervosismo nada agradável se espalhou por ela como fogo quando ele a avaliou de cima a baixo.

Um som satisfeito ressoou em seu peito.

"Você está linda." Sua voz estava rouca e sua expressão de pedra. Ela não conseguia ler o que ele estava pensando, mas viu uma chama de luxúria por trás daqueles olhos cinzentos afiados.

"Sente-se", ele ordenou.

Angelina hesitou antes de se sentar em uma cadeira bem longe dele.

Nikolai pareceu bastante insatisfeito com isso, mas não disse uma palavra. Seu olhar nunca demonstrava nada do que ele não queria.

Ela sentia aquele olhar a queimar, mesmo quando não olhava para ele.

Seus olhos estavam fixos no prato vazio à sua frente.

"Você acha que eu sou um monstro, não é?" Sua voz ecoou, forçando-a a olhar para ele. Nikolai acariciou o queixo, com os lábios meio apertados.

"Você provou ser um", disse Angelina, sua voz suave e feminina contrastando com o tom áspero dele.

Nikolai a observou em silêncio por mais um momento.

"Você realmente não se lembra de mim, não é?"

Isso a fez franzir a testa.

"Lembrar de você?" Angelina perguntou, sem entender nada. Antes da noite no clube, ela nunca o tinha conhecido.

Ele não respondeu.

Ele afundou de volta na cadeira, suas sobrancelhas grossas pressionando um pouco.

“O quarto é do seu agrado, Angel?" Ele mudou de assunto, deixando-a profundamente confusa.

"Gosto dele tanto quanto gostaria de uma cela de prisão."

"Aqui nunca vai faltar nada a você. Você pertence a mim agora, e eu me certificarei de que tenha tudo o que quiser. Só precisa me dizer e eu darei."

"Eu quero minha liberdade."

O olhar dele se intensificou para logo ficar frio como gelo.

"Tudo, exceto isso."

"Então eu não quero nada de você." O silêncio se instalou entre eles, interrompido pelo som de serviçais entrando com bandejas de comida.

Nikolai não deu sequer uma olhada neles. Ele não desviava os olhos dela, como se ela desaparecesse no ar se ele não fizesse isso.

O delicioso cheiro fez o estômago dela roncar. Ela não tinha percebido o quão faminta estava até agora. Com fome o suficiente para ignorar o olhar inflexível dele, ela começou a mexer na comida.

Eles comeram em silêncio por um tempo, até que um pensamento cruzou sua mente.

"Tem mais uma coisa que eu quero de você." Angelina disse no meio da refeição. Nikolai não disse nada, mas ela sabia que ele estava ouvindo. Ela sentia seus olhos sobre ela.

"Tem um concurso de dança chegando. Eu tenho o papel principal. Eu quero... participar."

A dança era sua vida. Ela tinha dado seu sangue e suor para se preparar. O destino pode ter distorcido sua vida, mas não havia nada que ela desejasse mais do que participar daquele concurso.

Nikolai pareceu estar considerando a ideia, até que uma resposta fria interrompeu a esperança de Angelina.

"Não." A única palavra cortou como uma faca.

"A dança é tudo que me resta de bom nessa vida. Por favor." Ela olhou para os olhos prateados e frios dele.

"Gosto quando você implora."

As palavras cruéis ressuscitaram sua esperança, que rapidamente se transformou em medo.

"Vou permitir se você merecer."

De repente, a comida parecia querer subir pela garganta.

“Como?" A pergunta enviou ondas de terror através dela.

Que coisa monstruosa ele estava pensando em fazer com ela?

“Com seu corpo.”

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