Nada É Como Antes

“Sua dívida foi paga.”

Aqueles olhos prateados implacáveis estavam gravados em sua memória. Mesmo em seus sonhos, ela ainda os via olhando friamente para ela, sentia suas mãos insensíveis e calejadas a segurando, seus lábios quentes nos dela...

A lembrança enviava arrepios por sua espinha. Mais de uma semana havia passado desde aquela noite, e ainda assim ela não conseguia escapar dele. Esse homem tinha destruído sua mente.

“Você está ouvindo?” Uma voz falou de repente através da mesa. O rosto ligeiramente preocupado de Dário apareceu quando ela levantou o olhar da xícara de café que estava segurando em suas mãos.

“Sim, desculpe,” Angelina conseguiu dar um sorriso fraco “Só estou pensando em muitas coisas”

Mesmo em um encontro com Dário, eu não consigo tirá-lo da minha mente. Eu achava que minha vida iria voltar ao normal, mas parece que aquelas memórias estão demorando para serem esquecidas.

“É sobre a competição? Não se preocupe. Você é uma dançarina incrível.” Dário sorriu. Ele estendeu a mão pela mesa, gentilmente segurando a dela.

“Na verdade, mal posso esperar para dançar com você.” Sua voz era suave, flertante.

O rapaz de cabelos claros era totalmente diferente de Nikolai. Ele era caloroso, doce e simpático, o namorado perfeito. O que mais Angelina poderia querer?

Seus próprios lábios formaram um sorriso genuíno.

“Eu também. Embora eu precise praticar a parte do levantamento. Ainda tenho dificuldade em manter o equilíbrio.”

“Podemos praticar. Meu quarto tem espaço suficiente...” Dário pausou, limpando a garganta. “Não quis dizer nada com isso. Eu realmente quis dizer praticar a coreografia. Eu...” Ele suspirou. “Sou um idiota. O quanto estraguei tudo?”

Um riso tranquilo escapou dos lábios dela.

“Você não estragou nada. Na verdade, acho que é uma boa ideia.”

O alívio tomou conta de seu rosto ensolarado.

“Às vezes posso agir meio bobo quando estou perto de garotas bonitas.” Dário riu. “Você quer vir até minha casa e praticar então? Não é longe daqui.”

“Por que não?” Angelina disse com um sorriso, suas bochechas coradas pelo elogio travesso.

Dário era um conquistador. Ele nunca deixava o silêncio se instalar entre eles. Risadas discretas e flertes foram trocados enquanto os dois deixavam o aconchegante café.

Ele era um cavalheiro perfeito.

Enquanto guiava o carro no pela estrada, ele a segurava gentilmente pela mão e até ofereceu sua jaqueta jeans quando o frio a fez tremer.

Não havia mulher no mundo que não quisesse um namorado como ele. Ele a fez se sentir relaxada pela primeira vez em muito tempo. Talvez ela pudesse deixar aqueles eventos terríveis para trás afinal.

Inclusive, Nikolai...

"Seja bem-vinda à minha humilde casa!"

Dário abriu os braços quando entraram em uma casa de dois andares. Não era uma mansão, mas certamente uma das casas mais caras do bairro, com amplas janelas e quartos espaçosos.

"Quer algo para beber?"

"Não, obrigada." Angelina ainda estava parada na entrada.

Por que diabos ela estava hesitando em entrar no corredor? Ela estava tão relaxada na rua, e agora se sentia mais tensa do que nunca.

"Vamos, não fique parada aí. Se sinta em casa. Meus pais estão de férias, então somos só nós dois." A voz de Dário baixou um tom. Sua expressão ficou séria enquanto a olhava, antes de voltar a sorrir.

"Você não tem motivo para ficar nervosa."

"Eu não estou nervosa."

Uma mentira.

"Estou apenas tendo dificuldade para me sentir em casa na casa de um estranho."

“Mas nós não somos estranhos.”

“Não, não foi isso que eu quis dizer, é só a casa, não você...”

"Ah, entendi. Eu seria igual se fosse você. Totalmente normal. Meu quarto é lá em cima."

Aff. Se controle. Nada vai acontecer, por que diabos você está agindo tão estupidamente!?

Angelina repreendeu a si mesma, finalmente dando um passo para dentro da sala de estar.

Dário havia mencionado que sua mãe era designer de interiores. Isso certamente ficava evidente. Tudo estava arranjado com a precisão de alguém que se importa com os detalhes e combinações de cores.

"É uma casa linda." Ela falou de repente, seguindo-o pela escadaria curva.

"Eu costumava querer ser designer. Mas nunca tive jeito para isso."

"Estranho, eu acho que você seria uma ótima designer." Dário olhou para ela por cima do ombro. "Você passa a impressão de ser boa em tudo."

"Isso não é verdade!" Angelina balançou a cabeça. "Na verdade, é o oposto da verdade. Sou ruim em tantas coisas que deveria ser proibido deixarem eu fazer algumas coisas."

"Por exemplo?"

"Estacionar de ré."

"Alguém é bom nisso?" Ele deu um sorriso de lado, fechando a porta atrás dela.

Seu quarto estava mais arrumado do que ela esperava de um rapaz da faculdade, quase como se ele tivesse limpado de propósito.

Dário logo encheu o quarto com batidas de música muito familiares e empurrou uma poltrona para o canto para abrir mais espaço.

"Pronta?"

Angelina assentiu, deixando sua bolsa na cama dele. Seu corpo entrou em movimento, movimentos ágeis a aproximaram do parceiro de dança que a observava atentamente. Seus braços fortes se apoiaram em sua cintura fina, guiando-a no ritmo.

Rapidamente, ele a girou e a ergueu acima de sua cabeça. Dário não era muito musculoso, mas era forte. Seu peso se equilibrou, permitindo que suas mãos a posicionassem corretamente. Isso não era como dançar ao redor do poste. Isso não era apenas dança sensual. Era arte.

Quando Angelina dançava, todos os problemas pareciam desaparecer. Era só eles dois. Quando seus pés tocavam o chão, ela já estava se movendo para o próximo passo que os aproximava. O aperto de Dário em suas curvas ficou mais forte do que deveria, fazendo-a parar. De repente, ele não estava mais dançando. Ele estava olhando para ela.

Angelina sentiu seu coração pular. Sem dizer uma palavra, ele se aproximou dela com um olhar apaixonado.

"Dari-" Seus lábios foram pressionados contra os dela num beijo leve como uma borboleta.

Os lábios macios dele roçaram contra os dela, saboreando cada centímetro de sua boca. Era o que ela vinha sonhando há muito tempo, e agora estava acontecendo, mas...

"Droga." Angelina afastou-se, criando uma distância entre os dois.

Dário ficou sem palavras, ofegante.

"Desculpe, achei que você queria isso. Não quis assustar você."

"Não." Ela balançou a cabeça. A ansiedade invadindo em ondas avassaladoras.

"Vou embora agora."

"Angel, espera-"

"Não me chame assim!"

Dário nunca a tinha ouvido falar assim. O rapaz ficou paralisado no meio do quarto, com uma cara confusa, enquanto a música tocava ao fundo. Sem jeito, Angelina saiu correndo pelo quarto.

"Desculpe! Eu não sabia que estava fazendo algo errado! Por favor, espere! Prometo que não farei mais nada!"

Ela não respondeu. A porta se fechou com um estrondo atrás dela. Seu coração parecia bater em seus ouvidos como um tambor de guerra.

Seus passos apressados rapidamente a levaram para longe da casa de Dário. A garota não ousou diminuir o ritmo da corrida até que a residência estivesse fora de vista. Somente então ela voltou a um ritmo normal, respirações pesadas queimando seus pulmões.

Angel. Por que diabos ele me chamou de Angel!?

Ela não suportava ouvir aquele nome vindo de um garoto que ela gostava. Ele tinha prometido apenas dançar, mas parece que para os homens, isso simplesmente não era o suficiente.

"Sou uma idiota..." Ela murmurou, passando a mão em frustração, em seus cabelos loiros.

A noite já tinha tingido o céu de escuro, e poucas pessoas estavam caminhando pelas ruas.

Na pressa, ela não tinha percebido o ambiente um tanto sinistro ao seu redor, nem os passos que tinham se aproximado dela.

"Angel." Uma voz grave e rouca ecoou atrás dela.

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