Sabrina, Clube das luluzinhas

Saímos da sala fomos para o escritório do meu avô, elas sentam todas a vontade nas poltronas espalhadas pela sala confortável e luxuosa do ambiente e, a minha mãe sai distribuindo taças de vinho para todas. Quando para em mim, ela entrega-me uma água de coco que estava no frigobar. Olho para ela com cara de quem não gostou e ela coloca a água de coco numa taça como se fosse vinho e diz:

__ Vinho, só depois dos dezoito, menina!

Elas agem naturalmente como se fossem solteiras, livres e desimpedidas. A minha mãe está linda e com um sorriso contagiante, Madrinha Marina retira a sandália e prende o cabelo num coque mal feito, Madrinha Laila solta o cabelo e abre um botão da camisa, parece sentir um calor horrível.

Madrinha Maria coloca a perna para cima do sofá e mexe com os pés ,como num alívio para as articulações. Já minha madrinha Giovana deita na outra poltrona com as pernas para cima e descalço, sobe e desce as pernas no ar para esticar os músculos cansados de ficarem de pé.

A minha mãe senta-se na mesa do vovô e eu fico de pé sem saber o que fazer.

__ Arruma um lugar para sentar-se, vamos te ouvir e saber dos seus planos para o futuro.

Madrinha Marina fala como uma advogada e eu estou chocada como elas fazem as suas reuniões e tratam os assuntos, são verdadeiras divas e exemplos a serem seguidos.

Olho a minha volta e vejo a cadeira do vovô, ainda vazia e só tenho essa opção ou o chão, já que elas se apossaram de todo o ambiente.

Elas começam a falar a respeito de quando viajavam e que estão precisando de uma viagem as antigas. Eu estou atenta a tudo que elas falam, mas tem muita coisa nas entrelinhas que eu ainda não entendo.

__ Então, minha querida, o que aconteceu para você querer sair de casa e vir morar com os seus avós?

Madrinha Marina pergunta, sendo direta, como se fosse uma audiência. Elas param para me ouvir e continuam a tomar seus vinhos.

__ Eu sei que um dia eu não terei mais os meus avós e quero aproveitar ao máximo de todos eles, preciso ficar muito tempo ao lado deles e se eu ficar lá em casa eu vou perder o melhor da minha vida.

Falo de uma vez e num susto elas tomam as taças de vinho num só gole, depois elas param as taças para serem servidas novamente pela minha mãe que tomando um fôlego numa respiração profunda diz:

__ Mas você não pode nos abandonar, os seus avós ainda viverão muito tempo, a vovó só quebrou a perna e mesmo assim porque estava fazendo arte.

Fico curiosa para saber como foi que aconteceu, olho para minha mãe e ela deu a entender que falou demais.

Madrinha Giovana, volta ao assunto dos motivos pelos quais eu quero ficar com eles, dizendo:

__ Todos nós vamos partir um dia, mas não podemos parar as nossas vidas por causa disso. Você tem suas atividades diárias, tem seus pais e irmãos, não poderá larga-los para ficar só por conta dos seus avós. Um dia você terá que trabalhar, namorar e casar, como você vai fazer, presa aqui na casa dos seus avós?

Fico pensativa e procurando uma maneira para me adaptar a essa rotina. Chego a conclusão de que preciso me defender, quase chamei o meu padrinho para isso, mas acho que dou conta sozinha:

__ Eu posso cuidar deles, estudar e voltar para cá. Posso trazer meu namorado para eles conhecerem e casar não está nos meus planos.

__ Onde essa menina arruma essas palavras difíceis?

Madrinha Marina pergunta, tomando outra taça. Acho que ela sairá daqui carregada. Ela como advogada já está achando meu linguajar difícil.

__ Então, minha filha! Queremos, te propor uma coisa.

A minha mãe fala já entregando a garrafa para as madrinhas que estão se deliciando no vinho e terminando com a segunda garrafa.

Estou atenta, ao mesmo tempo que chocada com o nível das integrantes do clube. Quando será que poderemos chegar a esse patamar e sermos iguais a elas. Estou louca para contar para as meninas que participei da reunião secreta e que descobri como funcionam as famosas reuniões.

__ Você volta para casa e, pode vir ficar com os seus avós, diariamente depois da aula, você faz um lanche com eles, conversam bastante e depois volta para o jantar com a sua família.

__ Mas é muito pouco, mãe!

Eu reclamo do tempo que teremos, mas minha mãe fica irredutível e faz uma chantagem de mãe:

__ É isso, ou você não poderá mais vir ficar com eles, entendeu? Seu pai não abre mão de ter você perto dele todos os dias e ele está ficando velho e daqui a pouco estará igualzinho a sua avó.

Não foi uma negociação justa, mas não tive alternativa. As minhas madrinhas apoiaram a minha mãe, quando, na verdade, elas estavam um pouco embriagadas para decidirem qualquer coisa ou opinarem.

Eu cheguei a conclusão de que todos eles estão ficando velhos e preciso curtir todos eles.

Saímos do escritório e fui obrigada a ir embora, mas já estava satisfeita por conseguir o acordo em ficar com eles o máximo que eu puder.

Durante toda a semana eu fui a casa da vovó, eles sempre me esperam para o café da tarde, com tudo que eu mais amo. Os meus irmãos aproveitaram para fazer o mesmo e assim a casa está sempre cheia de alegrias.

Descobri que os meus avós se conheceram num baile da escola, quando eram jovens, daí surgiu a ideia de fazermos um baile na escola para arrecadarmos as coisas da gincana.

Eles estão nos dando ideias de como fazer um baile as antigas. As reuniões do grupo são no escritório do vovô, tomamos sucos de uva e ficamos a vontade, igualzinho as nossas divas, porém, a vovó participa conosco e nos divertimos bastante.

Sabrina arrumou os figurinos, o vovô conseguiu a decoração do salão de festas, até um globo de luz, estilo anos oitenta. Meu pai ficará por conta do som e Tia Bel irá ajudar servir os sucos. As madrinhas irão nos ajudar com o concurso de dança. Está tudo preparado, a escola está toda decorada e as outras equipes também estão divulgando para terem arrecadação de fraldas, alimentos e roupas. Eu queria muito que o Rafael viesse, mas tia Lola disse que ele está se preparando para mudar daqui alguns dias, ele fará medicina numa cidade universitária e agora dificilmente nos veremos novamente.

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