Antônio e Sabrina, coisas de adolescentes.

Subo as escadas devagar e ouço a vovó Cida cantando para Sabrina, o meu coração dispara e sinto um aperto no peito, uma coisa que eu nunca senti.

Aguardo um momento até que a conversa termine e abro a porta lentamente.

Eu aproximo-me lentamente, até que a vovó nos deixa a sós. Eu me sento ao chão para ficar bem perto do seu rosto e por um instinto, toco os seus lábios com os meus. Sinto o calor do seu corpo e o meu coração está disparado.

Eu não sei o que falar e pelo seu rosto assustado, acredito que fiz besteira. Saio correndo, pedindo desculpas até chegar ao final do corredor onde me deparo com Sandro Júnior e Alice, ela sai do quarto dele com a desculpa de que foi pegar um livro.

Eu não estou raciocinando direito, pergunto onde está Sandra, Janice e José. Eles informam-me que estão na área da piscina.

__ Você conseguiu falar com a Sabrina?

Júnior me pergunta e estou distante, viro-me na sua direção e respondo:

__ Sim, ela está bem! Muito bem! ...

__ O que deu nele?

Júnior pergunta para Alice que sarcasticamente responde:

__ Eu não sei, mas boa coisa eu garanto que não é.

Fico perto dos outros adolescentes que falam a respeito de futebol, praia, garotas e a viagem amanhã.

José conta das suas aventuras na fazenda do padrinho Renan e se gaba de dirigir com apenas doze anos. Janice já é mais delicada e gosta de ajudar a mãe na loja de decorações. Júnia fala das suas atividades na escola e Arthur está aéreo.

__ O que foi Arthur, você está distante, aconteceu alguma coisa?

Pergunto para distrair a minha cabeça que está me condenando pelo que eu fiz com a Sabrina.

__ Eu estou preocupado com a Sabrina, ela não veio ficar aqui com a gente. Acho que vou até o seu quarto.

__ Eu fui lá e ela quer ficar sozinha.

Dou uma desculpa para ele não ir, na verdade, estou morrendo de ciúmes dele ficar no quarto com ela sozinho.

__ Nem precisa, ela está chegando, bem ali.

Janice fala e sinto um frio percorrer a minha coluna, ela desce vestida com um shortinho jeans e uma camiseta branca. O cabelo num coque mal feito e um chinelo de dedo.

O padrinho Sandro ao vê-la, vai ao seu encontro e a pegando no colo, roda com ela em seus braços e a faz de boneca no ar. De longe se ouve as suas risadas gostosas e todos ficam a rir como se um brilho diferente invadisse o local e o clima mudasse de chuva para um sol brilhante.

Ela cumprimenta um a um dos padrinhos que festejam a sua chegada. As madrinhas mexem no seu cabelo, arrumando os fios soltos. A minha mãe limpa o rosto dela que estava chorando e pergunta:

__ O que aconteceu? Porquê você estava chorando?

__ Eu fiquei triste com a Sofia, as coisas que ela falou, deixou-me para baixo e eu, me senti horrível.

__ Não fica assim, você é especial e nós te amamos muito do jeitinho que você é, minha princesa.

A minha mãe beija o seu rosto e as duas se abraçam. Eu me sinto culpado e, ao mesmo tempo, confuso. Abaixo a cabeça e saio de perto para não causar mais constrangimento. Arthur vai ao seu encontro e quando eu me viro os dois estão num abraço caloroso e Arthur diz:

__ você demorou, eu já estava indo até o seu quarto, eu falei que lhe traria nas costas se você não quisesse vir.

Ela dá uma gargalhada e batendo as mãos no seu peito para afastá-lo diz:

__ Você é muito bobo, eu não viria nem arrastada se eu não quisesse.

Júnia a puxa pela mão e a leva para o grupo de meninas que trocam assuntos de malas de viagem. O seu olhar procura o meu e eu tento não olhar diretamente para ela.

__ Sabrina, chama as meninas para dançar!... Vou ligar o som.

Padrinho Sandro grita lá da churrasqueira, Sabrina concorda e sai dançando feito uma louca e todos estão rindo da sua alegria contagiante.

Eu e o Arthur estamos, na verdade, de boca aberta, pois penso que gostamos dela da mesma forma.

Sandra com o seu jeito patricinha com medo de quebrar a unha não sai do lugar, é notório que está chamando atenção do José que só quer saber de vaca, cavalo e trator.

Sabrina sai da rodinha de dança e puxa-me pela mão e obriga-me a entrar na dança. Ela sorri e está muito feliz, não parecendo em nada com a menina triste de horas antes.

Aproveito que todos estão distraídos e falo baixinho com Sabrina:

__ Eu quero te pedir desculpas, somos amigos e passei dos limites da sua confiança.

__ Não precisa pedir desculpas, eu gostei por ser você a tirar o meu BV.

__ Sério? Você não está chateada?

__ Não! Foi bom, eu gostei. Mas acho melhor esperarmos fazermos quinze anos, se o meu pai souber, ele nos mata.

Voltamos a dançar como amigos. Ela puxou o Arthur e dançou com ele, depois com o José e com todas as meninas.

A minha conclusão é de que a nossa família não é a mesma se ela não estiver por perto com a sua inocência e carisma.

As meninas ficam mais a vontade perto dela e os meninos gostam da sua companhia. Os padrinhos a protegem e as madrinhas a tratam como uma boneca e ela se sente amada e querida por todos.

Ela dançou até todos irem embora, e ao sair eu beijei-lhe o rosto com carinho e o padrinho Sandro pegou no flagra:

__ Posso saber que história é essa de beijinho no rosto?

Eu fico sem fôlego e Sabrina :

__ Pode parar, papai! Eu e o Antônio somos amigos até os quinze anos.

__ E depois dos quinze?

O padrinho pergunta-me pegando pelo pescoço e bagunçado o meu cabelo.

__ Ele será meu namorado, o senhor não terá escolha.

Ele solta-me e sai correndo atrás dela que grita por socorro, ele alcança-a e a pegando no colo, rodopia e só ouvimos os seus gritos.

O meu pai passa as suas mãos por meus ombros e leva-me até o carro dizendo:

__ Até a idade certa para namorar, você terá se apaixonado por uma dúzia de meninas.

Eu fico pensando no que ele diz e se isso seria possível se eu tenho um grande carinho por Sabrina.

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