Lola e Lucca, certezas e segurança

Quando Kauã nos contou a história de Rafael, eu e o Lucca ficamos mexidos com tudo que lhe aconteceu. Aquela noite não conseguimos dormir, preocupados com a hipótese dele sair do

hospital e ir direto para um abrigo para menores. Sua tia não pode ficar com ele e não tem nenhum outro parente no estado. As pessoas estão apáticas e não querem compromisso com ninguém, a fila de espera para adoção é enorme, em quanto o tempo trabalha contra o processo e essas crianças estão crescendo e quanto maiores, mais difícil é encontrar uma família, principalmente para quem precisa de cuidados especiais como o garoto que teve várias cirurgias consecutivas.

A insônia foi o nosso momento de reflexão e amadurecimento da ideia de podermos adotá-lo como o nosso filho, já que estamos casados e temos a decisão de vivermos o resto das nossas vidas juntos.

Ninguém se casa para separar e muito menos com restrições de termos ou não filhos. Casamento é constituição de uma família e devemos ceder ao desejo um do outro. Eu já tive a experiência de ser mãe e até mesmo avó, mas ele não teve essa oportunidade e tem o sonho de ser pai.

Levantamos cedo fomos até o hospital, Kauã o estava atendendo e chegamos de surpresa. Eu fiquei encantado com o lindo garoto e Lucca despertou o instinto protetor de pai no mesmo instante. Nós o abraçamos e ficamos ali com ele por um longo tempo. Depois disso ele não ficou mais sozinho, eu e Lucca cuidamos dele com carinho e dedicação. Já sentíamos que ele era nosso, independente de conseguirmos a guarda ou não.

Kauã, por amizade e consideração manteve a criança mais quinze dias internada, tempo suficiente para entrarmos com o pedido da guarda provisória.

Alex e Marina fizeram todos os trâmites e hoje ele é legalmente o nosso filho.

As lembranças do seu passado nunca foram apagadas, seis anos que está conosco e as sequelas do acidente ainda atormenta os seus sonhos e atrapalha o seu desenvolvimento.

São anos de terapia e medicamentos para ansiedade. É um menino esforçado e estudioso, não temos nenhum tipo de trabalho ou preocupação com o seu futuro, ele demonstra um caráter forte e pela sua idade já mostra ser maduro e honesto.

O nosso carinho e dedicação o tem ajudado nessa trajetória, passamos-lhe segurança e estamos sempre presentes.

Túlio o tem ajudado, sendo seu amigo e fazendo-lhe companhia, hoje ele frequenta a minha casa e damo-nos muito bem, apesar de ser filho de uma traição eu respeito-o como irmão da minha filha. Ele respeita-me e tornou-se um grande amigo para o meu filho.

Túlio já tem dezoito anos e penso que já está até de namorada, mas não entro na sua vida particular.

Rafael ainda não me chama de mãe e nem o Lucca ele chama por pai. Ele respeita-nos como tal, o que é mais importante, mas sentimos falta dessa palavra no dia a dia.

Marina conversa muito com eles e trata os dois como irmãos, a ela ambos chamam irmã e Alex de cunhado. Antônio e Alice são tratados como sobrinhos e formamos uma grande família.

Lucca formou para juiz e já está trabalhando numa comarca da capital. Ele é muito atencioso e um excelente esposo. Somos amigos, amantes e cúmplices. Tudo que precisamos para vivermos felizes.

Lucca nos convida para irmos ao cinema no sábado a tarde. Rafael fica entusiasmado, pois, está louco para assistir a um filme de lançamento. Ele liga para o Túlio e o convida para ir conosco.

Ficamos esperando o jovem chegar para sairmos, o mesmo chega com uma garota muito simpática e nos apresenta como a sua amiga do cursinho.

Não falamos nada a respeito, para ele não se sentir envergonhado, mas está na cara que é uma paquera. Depois do filme fomos comer uma pizza e Rafael está muito animado, ele comenta o tempo todo a respeito das cenas que gostou e Túlio dá corda para que cada vez ele fale mais a respeito. São jovens e estão bastante entusiasmados com pouca coisa, mas isso nos alegra e preenche as nossas vidas com um renovo.

Rafael pede para Túlio ficar na nossa casa, querem jogar videogame o final de semana, como Lucca não se importou, eles foram levar a menina em casa e depois nos encontrarmos no apartamento.

Estamos subindo o elevador, eu sinto uma pontada no peito e uma dor de estômago.

Lucca ajuda-me a chegar no apartamento e eu sinto que não estou melhorando. Ele manda uma mensagem para Túlio, avisando que vou para o hospital e que não é para falar ainda com Rafael.

__ Por enquanto, espere ele chegar em casa, pois, ficará muito ansioso se souber na rua.

Lucca fala, preocupado em como ele receberá a notícia, já que é todo traumatizado.

Estou sendo atendida e de repente chega Marina com Alex, eles estão assustados e preocupados. Lucca os acalma dizendo que foi apenas uma indisposição, para não dizer que estou velha e não posso comer coisas pesadas a noite.

Depois de algum tempo eu durmo sobre o efeito da medicação. Ouço vozes distantes e um abraço desesperado:

__ Mãe, a senhora não pode morrer! Por favor! Fica comigo.

Abro os meus olhos devagar e vejo Rafael desesperado.

__ Pai, por favor! Não deixa a minha mãe morrer.

__ Calma querido! A sua mãe está bem. Ela só teve uma indisposição.

Os dois estão abraçados e chorando, tenho certeza que Lucca não chora por minha causa e sim por ser chamado de pai.

Ergo a minha mão até as suas costas e toco o seu ombro. Ele vira-se rapidamente e debruça sobre mim num abraço desesperado e dizendo:

__ Mãe, a senhora acordou!

__ Sim, meu amor! Fica tranquilo, daqui a pouco estarei em casa, cuidando de você e do seu pai.

Olho para Lucca que se desmonta em lágrimas e nos abraça, Marina e Alex entra no quarto com toda a patota dos amigos, numa preocupação, que penso estar morrendo.

Sandro como sempre não perde a oportunidade e diz:

__ Eu conversei com o médico que lhe atendeu, ele disse que foi o sal e que não deve ficar a comer coisas pesadas a noite.

Ele bate no ombro do Lucca dando duplo sentido a frase. Alex ri da situação e pergunta ao Sandro:

__ O que pensou que fosse, Sandro?

__ Eu, pensei que estivesse grávida, vim correndo, para fazer o primeiro exame e anunciar as boas novas. Mas infelizmente não é um bebê.

Todos riem da cara que ele faz, menos Rafael que demonstra ciúmes e não quer ter mais irmãos.

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