Capítulo 18

— Tenho uma pequena dúvida, Aneor — Astaroth diz do outro lado da porta enquanto eu tomo meu banho. Claro que ele podia passar por ela facilmente, mas o ameacei dizendo que caso o fizesse ele teria sérios problemas.

— Estou ouvindo.

— Por que disse para seu amiguinho que era seu primeiro beijo?

— Talvez porque eu até pouco tempo sequer saia de casa no meio da noite para encontrar pessoas no meio da floresta? Astaroth, é óbvio que todos pensam que por eu ter começado a tomar iniciativa na minha própria vida tudo é novo pra mim.

— E? — disse sem dar importância.

— Como quer que eu fale que já beijei e que beijei um demônio!?

— Você está de tpm?

— Não, Astaroth.

— Está ovulando? Humanas ficam um pé no saco ovulando.

— Da pra você calar a boca! — gritei e ele riu do outro lado da porta como se tivesse conseguido o que realmente queria.

Eu terminei meu banho com um misto de raiva e constrangimento. Astaroth sabia como me provocar e parecia se divertir com isso. Mas eu também sabia que ele estava certo em certa medida. Como eu poderia contar para alguém sobre o meu envolvimento com um demônio? Era algo tão surreal e perigoso que parecia loucura até mesmo para mim.

Vesti-me e saí do banheiro, encontrando Astaroth sentado na beirada da minha cama, com um sorriso malicioso no rosto.

— Você realmente gosta de me deixar constrangida, não é? — eu disse, cruzando os braços.

— É divertido ver suas reações, princesa. — Ele se levantou e se aproximou de mim. — Mas falando sério, eu entendo suas preocupações. Nossa relação é... complicada, para dizer o mínimo.

— Complicada é um eufemismo.

Ele riu e passou um dedo pelo meu rosto, de forma suave, mas suas unhas longas e negras passando pelo meu rosto deixou um caminho de marcas um pouco mais bruto, não que ele tivesse colocado força para me machucar, mas são realmente afiadas.

— Você está diferente... Primeiro a calda e agora as unhas, tudo que esperava ver de você era seus chifres e olhos diferentes.

— Estou passando por um momento estranho no momento.

— Estranho?

Antes que ele tirasse minha dúvida a porta foi aberta com brutalidade e mamãe entrou com tudo.

— Mãe?

Não tive tempo para nada, mamãe me segurou pela roupa enquanto chora e gritou comigo

— O que você fez com o seu pai!?

— Do que a senhora está falando?

— Desde que aquilo aconteceu seu pai fala coisas sobre uma entidade que atentou contra sua vida, que você está possuída por um demônio, que vai destruir nossa familia. O que você fez Aneor?!

— Eu não fiz nada — tentei segurar o choro.

— Mentirosa! — repentinamente ela levantou a cruz em minha direção.

A cruz foi erguida como um escudo, como se minha mãe acreditasse que aquele símbolo sagrado fosse me proteger de alguma forma. Mas eu sabia que as coisas não eram tão simples. A presença de Astaroth, a marca em minha orelha, tudo isso era uma realidade que estava além da compreensão dela, da minha e de qualquer outra pessoa.

— Mãe, não é o que você está pensando. Eu não fiz nada para prejudicar o papai. Eu... eu nem entendo completamente o que está acontecendo comigo, mas eu não sou a causa dos problemas dele.

Minha voz tremia enquanto eu tentava explicar. A pressão da situação era avassaladora, e a cruz que ela segurava como se fosse uma arma me deixava ainda mais angustiada.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto, misturando-se à angústia que eu sentia. A presença de Astaroth no quarto parecia ainda mais intensa agora, como se ele estivesse esperando, observando, mas sem interferir diretamente.

Minha mãe, ainda com a cruz em mãos, me olhava com desespero e medo. Ela não sabia o que fazer, como lidar com a situação. E eu entendia, pois eu mesma estava me sentindo perdida.

Ela parecia se acalmar, eu podia jurar que sim, mas algo aconteceu. Mamãe me acertou com uma das pontas da cruz.

A dor foi instantânea, um choque que percorreu meu corpo quando a cruz me atingiu. O objeto sagrado que ela segurava, agora usado como uma arma contra mim, me fez sentir uma mistura de agonia física e profunda tristeza. Minha mãe, desesperada e temendo por minha suposta ligação com Astaroth, não estava mais se segurando.

— Mãe! — gritei de dor e surpresa, caindo de joelhos. Minhas mãos instintivamente foram para o local onde a cruz me acertou, uma marca começando a se formar ali junto ao sangue.

Lágrimas de dor e tristeza escorriam pelo meu rosto, enquanto Astaroth assistia à cena, uma expressão sombria e inexpressiva em seu rosto. Ele sabia que essa era uma batalha que eu não poderia vencer diretamente. Minha mãe estava possuída pelo medo e pela crença de que eu era uma ameaça.

— Afastem-se de mim! — minha mãe gritou, brandindo a cruz como um escudo contra qualquer coisa que ela não entendesse.

— Mamãe, por favor... — minha voz saiu fraca, quase suplicante, enquanto lágrimas caíam dos meus olhos. Eu estava machucada não apenas fisicamente, mas também pelo fato de que minha própria mãe estava me vendo como uma ameaça.

Ela me machucaria novamente, sem pensar duas vezes.

O momento pareceu congelar quando Astaroth avançou, rápido como uma sombra, em direção à minha mãe. Seus movimentos eram fluidos e intensos, como se a escuridão que o cercava lhe desse uma força sobrenatural. Ele agarrou o pulso dela com uma mão e a cruz caiu ao chão, o impacto ecoando como um eco do que acabara de acontecer.

Minha mãe estava paralisada, o medo em seus olhos se misturando com perplexidade. Ela não esperava essa reação de Astaroth, e isso a deixou momentaneamente sem ação.

— D-demonio!

— Você não pode tocá-la, Astaroth! — gritei, tentando me levantar apesar da dor, a preocupação em meu tom era clara. Eu não queria que minha mãe se machucasse ainda mais.

Astaroth estava segurando o pulso dela com firmeza, sua expressão escura e intensa. Eu podia sentir a tensão no ar, como se o mundo inteiro estivesse segurando a respiração. Era uma luta entre a escuridão e a luz, o medo e a coragem, e eu estava no meio disso tudo.

— Como ousa tocar minha mulher, sua maldita — a voz de Astaroth era um sussurro ameaçador, cheio de autoridade e uma energia assustadora. Ele não parecia o demônio sedutor que eu havia conhecido antes; era uma força sombria que não estava disposta a permitir mais danos.

— Astaroth, por favor, solte-a — implorei, ainda tentando me levantar. A dor em meu corpo era aguda, mas eu estava mais preocupada com o que aconteceria a seguir.

Ele olhou para mim, seus olhos negros como a noite, e pareceu hesitar por um momento. Depois, ele soltou o pulso da minha mãe, mas manteve seu olhar fixo nela.

Mamãe caiu no chão aos gritos, olhando para ele como se fosse a coisa mais horrenda que já viu em toda sua vida, uma luz azul e vermelha iluminou o quarto. A polícia está do lado de fora após escutar toda aquela gritaria.

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