Capítulo 16

Me enfiei em uma calça e moletom e já descia pela janela com uma corda que eu amarrei no pé da escrivaninha. Não vi mamãe e papai o resto do dia, e também estava irritada e triste demais para pensar nisso agora.

Fugir nunca pareceu ser tão bom assim.

Astaroth, apesar de tentar chamá-lo ele não me responde. Acho que está bravo demais por eu ter escolhido não sujar meu quarto inteiro de sangue como ele desejava no momento.

Jake, por outro lado conversou comigo o dia inteiro, e até mesmo me ouviu falar dos problemas de casa, foi compreensivo e assistimos até mesmo um filme em chamada. Foi uma experiência maravilhosa, jamais tive a oportunidade de fazer isso com alguém, mas com Jake parece tão bom, tão...

Não tenho palavras pra explicar!

— Ei, princesa — ele acenou quando me viu me aproximar do banco.

— Obrigada por me esperar. Acho que do jeito que sou não teria coragem de sair tão tarde da noite sozinha.

— Mas você foi pra nossa festa naquele dia sozinha, não foi?

" Astaroth estava comigo, agora não."

Fico um pouco envergonhada com a lembrança.

— Sim, foi um pouco impulsivo da minha parte. Mas acho que era a empolgação do momento. Além disso, foi a primeira vez que fiz algo assim, e eu realmente queria ir à festa.

Jake ri suavemente.

— Entendo. Fico feliz que tenha vindo, caso contrário, nunca teríamos nos conhecido.

Olho para ele com um sorriso tímido.

— É verdade. E estou feliz por isso também.

— Bom, vamos indo. Todos já devem estar lá — ele segura minha mão.

A medida que nos aproximamos da cachoeira, o som ensurdecedor da água caindo preenche meus ouvidos, adicionando uma sensação de adrenalina à minha ansiedade. Jake permanece ao meu lado, e sinto um misto de nervosismo e felicidade por estar compartilhando esse momento com ele.

Eloise, usando um biquíni ousado, vem em minha direção e me abraça com entusiasmo. Sua animação é contagiosa, mas também percebo que ela está bêbada, o que me deixa um pouco preocupada.

"Será que é seguro ela estar tão animada e bêbada assim perto da cachoeira?", penso, mas decido aproveitar o momento sem estragar sua alegria.

— Aneor, finalmente chegou! — exclama Eloise, com um sorriso radiante.

— Sim, finalmente! — respondo, retribuindo seu sorriso, embora ainda me sinta um pouco insegura.

Jake parece perceber minha preocupação e me oferece um olhar tranquilizador. Ele conhece melhor o grupo e parece saber como lidar com situações assim.

— Vamos aproveitar a noite, pessoal! — diz Jake, animado, buscando desviar o foco da situação.

O grupo começa a se espalhar pela margem da cachoeira, encontrando seus lugares para relaxar e curtir o momento. Eloise parece não se importar com nada e já se joga na água, rindo alto.

Observo os outros membros do grupo, e logo me sinto mais confortável com suas presenças. Todos parecem se dar bem e estar ali para se divertir.

Jake me estende a mão, convidando-me para acompanhá-lo até a beira da cachoeira. A água parece convidativa e, com um pouco de hesitação, decido seguir em frente.

Eloise continua a nadar e rir, e, apesar de sua animação exagerada, ela parece estar se divertindo genuinamente. Decido deixar de lado minhas preocupações e me permitir desfrutar desse momento único.

— A garotinha sem graça da igreja vai fazer o desafio? — a garota de tranças, que pensei que nem estava conosco naquele dia falou, enquanto abraçava um homem muito maior que ela em todos os quesitos.

" Desafio?"

— Ela não vai — Jake disse por mim.

— Do que você estão falando?

— Todos nós já pulamos lá de cima, e se quiser se enturmar você terá que fazer o mesmo. Não acham injusto só a gente fazer, galera?! — ela grita pra que todos escutem e eles respondem em um sim que ecoou por todo lugar.

Eu fiquei surpresa e um pouco nervosa com o que a garota disse. "Pular lá de cima? Desafio? O que está acontecendo?", pensei, tentando entender a situação. Jake pareceu perceber minha confusão e me explicou brevemente.

— É uma espécie de tradição aqui entre eles. Pular de cima da cachoeira é uma forma de mostrar coragem e se enturmar com o grupo. Mas não se preocupe, você não precisa fazer isso se não quiser.

Eu respirei aliviada por saber que não era obrigada a participar do desafio, mas ainda assim, a pressão do grupo me deixava desconfortável. As pessoas ao redor começaram a incentivar e provocar, deixando o clima ainda mais tenso.

— Vai lá, garota da igreja! Mostre que não é tão certinha quanto parece! — alguém gritou.

Eu olhei para a cachoeira lá de cima e vi as pessoas saltando com empolgação. O coração acelerou e uma pequena voz dentro de mim sussurrou que eu deveria enfrentar esse desafio, superar meus medos e mostrar que posso ser corajosa.

Por outro lado, sabia que poderia ser perigoso e que a pressão do grupo não era saudável. Jake notou minha hesitação e colocou a mão no meu ombro, oferecendo apoio silencioso.

— Você não precisa fazer isso se não quiser, Aneor. O importante é que você se sinta bem e segura.

Senti uma mistura de gratidão e alívio com suas palavras. Ele me entendia e me respeitava o suficiente para não me forçar a fazer algo que não queria.

— Eu acho que não vou pular — respondi, com firmeza.

Algumas pessoas pareceram decepcionadas, mas outras entenderam minha decisão. Eloise, que ainda estava um pouco bêbada, deu de ombros e disse:

— Tudo bem, cada um faz o que quer.

— Não! — ela grita irritada, se levantando do chão e vindo em minha direção.

— Qual é a porra do seu problema, Sabrina?! — Jake me defende.

— Ou ela pula ou ela vaza!

— Tudo bem... Eu vou.

— Se for para ir precisa ir nua — cruzou os braços.

— O quê?? — arregalei os olhos.

— Como sou muito boazinha você pode ir de calcinha e sutiã, já que a toda santíssima não gostaria de mostrar seu corpo imaculado pra sujos como nós.

— Aneor, não precisa fazer nada disso, podemos apenas sentar, beber alguma coisa e conversar. Deixe Sabrina pra lá.

— Eu já me decidi, eu vou.

Ao ouvir minha resposta, Jake pareceu frustrado e preocupado ao mesmo tempo. Ele segurou meu rosto com carinho e disse:

— Aneor, você não precisa fazer isso para provar nada para ninguém. Essa não é a forma certa de se enturmar ou ganhar respeito. Se você fizer isso, vai se arrepender depois e se sentir ainda pior.

Suas palavras tocaram meu coração, mas eu estava determinada a enfrentar a situação, mesmo que isso significasse me expor de uma maneira desconfortável. Uma parte de mim queria provar que não era fraca, que não iria ceder à pressão dos outros.

— Eu sei que parece errado, mas quero mostrar que não tenho medo deles. Quero que eles saibam que não podem me controlar. Se eu não fizer isso, vão continuar me tratando como se eu fosse inferior.

Jake suspirou, compreendendo a minha posição, mas ainda preocupado comigo.

— Tudo bem, se é isso que você realmente quer fazer, eu vou respeitar sua decisão. Mas estarei aqui para te apoiar e te proteger, não importa o que aconteça.

Eu sorri, grata por ter alguém como Jake ao meu lado. Ele era um verdadeiro amigo, alguém que se importava comigo e estava disposto a me ajudar, mesmo quando discordava das minhas escolhas.

— Obrigada, Jake. É bom saber que tenho você ao meu lado.

Seguimos juntos até a beira da cachoeira, onde Sabrina e os outros estavam reunidos. Eu sentia a pressão e o nervosismo aumentando a cada passo, mas mantive a cabeça erguida, determinada a não mostrar fraqueza.

Sabrina me lançou um olhar vitorioso quando me aproximei, e eu tentei ignorá-la, focando na decisão que tinha tomado.

— Aqui está ela, a garotinha da igreja finalmente vai se juntar a nós. — Ela riu, zombando de mim.

Eu ignorei suas palavras e me concentrei em me despir, ficando apenas de calcinha e sutiã, como ela havia exigido. Apesar da vergonha, eu me mantive firme, lembrando-me de que aquela era minha escolha e que eu estava fazendo isso para mostrar meu valor, não para satisfa o desejo cruel de Sabrina.

Quando finalmente estava pronta, olhei para Jake, buscando seu apoio silencioso. Ele assentiu com um olhar encorajador, e isso me deu a força para seguir em frente.

 consigo mesma e com os outros era a melhor forma de se relacionar com o mundo ao meu redor. E eu estava determinada a não deixar que ninguém me colocasse para baixo ou me fizesse sentir inferior novamente. Eu era Aneor, e estava pronta para enfrentar a vida de frente, com coragem e autoestima.

O empurrão inesperado me fez perder o controle do meu corpo, e antes que pudesse pensar ou reagir, senti-me sendo impulsionada em direção à queda d'água. O coração acelerou, e um grito escapou da minha garganta ao sentir o vazio sob meus pés. Em um instante, a adrenalina tomou conta de mim, e eu me entreguei ao momento.

A queda foi vertiginosa, o vento soprando em meu rosto enquanto a água se aproximava cada vez mais. O medo e a empolgação se misturavam, criando uma emoção indescritível. Em um piscar de olhos, a água gelada me envolveu por completo, e a sensação foi arrebatadora.

A água escura me envolvia, e a noite tornava tudo ainda mais assustador. Minhas pernas pareciam ter perdido toda a força, e eu me debatia para tentar voltar à superfície. O desespero tomou conta de mim, e o ar parecia faltar em meus pulmões.

Tentei gritar, mas a água engoliu qualquer som que eu pudesse produzir. Minhas mãos se moviam freneticamente, buscando qualquer apoio, mas nada estava ao meu alcance. Minha mente ficou turva, e o pensamento de que poderia morrer ali, naquele momento, me invadiu com um terror avassalador.

Mas então, uma mão forte e firme agarrou a minha, puxando-me para cima com uma força surpreendente. Era Jake, que havia mergulhado para me resgatar. Ele me trouxe para a superfície, e eu ofegava desesperadamente por ar, como se nunca o tivesse apreciado tanto antes.

— Você está bem? — sua voz preocupada soou perto do meu ouvido.

Balancei a cabeça, sem conseguir falar. Meus olhos encontraram os dele, e vi o alívio em seu rosto ao constatar que eu estava viva. Ele me abraçou forte, e eu me agarrei a ele como se fosse minha tábua de salvação.

— Não faça mais isso, Aneor. Você me assustou demais — disse ele, acariciando meus cabelos molhados.

Consegui recuperar um pouco do fôlego e murmurar um agradecimento. Jake me levou de volta à margem, e lá, entre lágrimas e soluços, contei o que havia acontecido.

— Está tudo transparente... — ele disse desviando o olhar do meu corpo e foi aí que eu percebi — precisa tirar isso e colocar a roupa seca.

— Você entrou com roupa pra me ajudar, vai ficar doente...

— Se preocupe com você, Aneor. É mais fácil você ficar doente do que eu — riu e eu apenas o acompanhei.

Céus. Nunca mais pularei de uma cachoeira.

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Comments

K. Demes

K. Demes

quem empurrou ela de supresa

2024-03-02

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