CAPÍTULO TREZE

YARA NARRANDO

Tive um sonho atordoado, vi a minha família sendo queimada, meus irmãos agonizando, o Olhar de Cauê parecia tão real, éramos tão apegados, Cauê pedia-me Ajuda com aquele olhar triste.

Acordei e fiquei sentada na cama, sentindo uma angústia no meu peito, fugi de lá, agora estou do outro lado do mundo, eu não podia ter fugido, era para estar junto com a minha família agora, no mundo dos ancestrais.

Nesse momento senti o vento da repreensão, meus ancestrais não gostaram do meu pensamento.

Não sei o que esse sonho quis me dizer, mas fiquei um tanto triste, como eu queria estar com a minha família e com minha nova Família também, meu pai aprovaria o pajé, e a minha mãe iria cuidar da Thais como se fosse uma filha disso tenho certeza.

A minha mãe era amada por todos na nossa tribo, acolhia e ajudava sem se preocupar com a idade, ela ajudava as crianças, defendia as mulheres e lutava pelas famílias, aprendi grandes ensinamentos com a minha mãe.

 Quero ser como ela, determinada e certa do que quer, defender os meus objetivos e sonhos, assim como também o meu povo, que é agora o morro.

 O morro do Rodo, pajé me ensinou, quero ser a guerreira do Morro.

Levantei, saudei o Grande deus, Cantei e dancei, pedindo ao sol que ilumine e aqueça a minha vida e a vida de todos que moram nesse Morro, aqui é minha nova morada, então é pra cá que devo chamar as coisas boas.

 Sem o grande deus não tem como sobreviver, por isso devemos Sauda-lo em respeito e gratidão, quando ele chora a terra fica triste e na mata nós sofriamos muito, tudo fica molhado, frio e sem vida.

Fiz minha rotina matinal, fui acordar a Thais e fomos ficar um pouco no jardim, no jardim da casa do Pajé, além das rosas e da grama, Tem uma parte que tem algumas árvores, isso me remete muito a mata, às vezes quando lembro da minha família e a tristeza passa por mim eu fico embaixo das Árvores Pois é o lugar que eu consigo sentir melhor a mãe natureza acalentando o meu coração.

Enquanto estávamos ali meditando comecei a cantar uma canção que alegra o coração e renova a nossa alma, eu vi como se eu estivesse na minha tribo cantando com meu povo, levantei as mãos fazendo a minha reverência a mãe natureza.

Senti o vento soprando a brisa invadindo a nossa alma, pedia a Thais para que respirasse fundo pois era o sopro de vida da mãe natureza entrando pelas nossas narinas para nos dar força.

Quando já estava no horário, a Thais me abraçou e agradeceu.

— Muito Obrigada Yara, você é maravilhosa, nunca nenhuma amiga fez isso por mim se preocupar a esse ponto.

— Não precisa me agradecer Thais, somos todos filhos do mesmo criador e é o nosso dever e obrigação ajudar nossa tribo.

A Thais ficou rindo e me perguntou se ela é da minha tribo, falei que sim que o morro é a minha nova tribo, tribo é a família é onde somos acolhidos e onde vivemos, e foi o morro que me acolheu e onde estou vivendo.

Entramos na casa para fazer a nossa primeira refeição, o pajé já estava sentado à mesa, o Lobão também abracei o Lobão que beijou a minha testa a feição do Pajé mudou de imediato.

Às vezes ele tem um comportamento de muita raiva e isso não faz bem para ele, a conexão que tenho com Lobão é a mesma que eu tinha com meu irmão Avaré.

Depois da primeira refeição pajé foi trabalhar, Thais foi para o seu estágio ajudar cuidar dos enfermos Isso é uma missão muito linda e importante.

Fui para o Jardim e vi um belo espaço embaixo do sol que dá para fazer uma horta, plantar e cultivar nossos próprios legumes, chamei a Fabiana para mostrar o lugar para ela.

— Vou falar com o pajé se ele autorizar vou começar a plantar.

— Se precisar de ajuda pode falar comigo, eu tenho certeza que o pajé vai autorizar, ele está apaixonado por você meu anjo.

Fiquei toda boa sorrindo quando ela falou que ele está apaixonado por mim, eu também estou muito apaixonada por ele.

Quando voltamos para dentro da casa, um dos Homens que trabalham armados na frente entrou bastante zangado e falou que a Paloma estava no portão exigindo falar comigo.

— Yara você não é obrigada a falar com ela, Ninão, mande ela ir embora o pajé não vai gostar nada de saber que ela voltou aqui para importunar a Yara

Quando O Homem já ia saindo, pedi a ele que esperasse, não sou de fugir de conversa, se ela quer falar comigo é porque tem algum assunto, fui com ele ver o que ela estava querendo falar comigo, e tive a pior das notícias para mim. pois para ela e o pajé Com certeza é motivo de alegria e comemoração.

— A Sra. Quer falar comigo?

Ela me olhou da cabeça aos pés parecia sentir nojo de mim, mas isso não me abala, eu sei que diante dos deuses somos iguais independente da cor da raça e da idade.

— Sim, vim apenas te dar a notícia eu e o pajé vamos ter um filho então eu vim aqui te pedir para que desocupe o meu lugar.

Nessa hora o pajé apareceu e já foi descendo da sua motocicleta, ele pegou no braço da Paloma bruscamente a fazendo sacolejar.

— Pajé não faz isso, ela está esperando um filho seu.

Falei aquelas poucas palavras com nó na garganta, um aperto em meu coração corri para dentro de casa subi para o quarto pois as lágrimas insistiam em rolar no meu rosto.

O pajé vai construir família com a Paloma, mas o Rudá falou que ele é o meu prometido, devo ter me enganado.

Eu estava deitada chorando quando ouvi as batidas do Pajé na porta, Me chamando, pedindo para abrir, preciso desse momento sozinha e depois vamos conversar. vou pedir para ele seguir sua vida com a mãe e o filho.

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