cap_6

— Por favor, me solte! — Gritei e o empurrei, correndo pelo medo, sem olhar para trás.

Em casa, tranco as portas em pânico, gravada na memória a ameaça de Felipe. Assustada no quarto, não ouvi os passos do Gabriel com Camila dentro de casa.

Os dois entraram sorrindo em risadas agudas como dois apaixonados. Do andar de cima ouvi o barulho despertando do medo, quis imediatamente os braços do meu esposo. Corri para lhe alcançar, pois necessitava do seu conforto, no entanto não foi isso que recebi.

— Sério, você continua muito atraente. — Diz Camila comendo um morango de maneira sedutora.

— Não me tente. — Gabriel se aproxima num olhar de desejo.

— Admita. — Diz sorrindo de lado sentada no balcão da mesa.

— Camila, pare. — Tom sério, mas aproximando pegando em suas pernas.

No meio da escada pude ver que Camila havia me visto, ela sorriu para mim e logo puxou Gabriel. O barulho do soluçar com meus passos correndo para cima fez meu marido correr atrás de mim.

Tranquei a porta do quarto deslizando entre as paredes frias numa dor terrível de suportar.

— Por favor, abra a porta. — Bate, Gabriel.

Não consigo responder, o coração está sendo arrancado do peito com a voz doce que sai de seus lábios.

— Elisa, não é o que parece. Juro nunca aconteceu nada entre nós, o que viu foi somente uma falha do momento, me desculpe.

Chorando silenciosamente, tampo minha boca sufocando as palavras que quero gritar. Gabriel insistiu por um tempo, mas logo ouvi a voz de Camila pedindo para lhe ajudar.

— Gabriel... — Voz fraca.

— Elisa, tenho que levar Camila ao hospital, por favor não fique brava. Juro que vou lhe explicar tudo quando voltar.

Foi melhor dessa forma.

Respirei um soluço de romper a garganta que está fechando num aperto que estrangula. Acabei dormindo entre os soluços da traição que obtive em anos de dedicação. O pior não tenho lugar para ir, sem reservas para me mudar ou fazer o tratamento.

No amanhecer de um dia brilhante, tudo parece vazio, arrumei minhas roupas e tomei um banho longo. Passei maquiagem para disfarçar as orelhas debaixo dos olhos da noite em choro.

Quis esconder esse sofrimento na marra, tudo que menos quero é alguém apontando o dedo na minha direção dizendo que sabia que isso ocorreria.

Acha que não sei? Claro que sabia, por isso fui contra ela desde o momento que apareceu. Tentei lutar contra um amor que durou toda a infância, separados por brigas familiares.

Fui egoísta em querer o lugar de outra no coração que só habita sua presença. Chegando no escritório a situação não estava boa para mim, documentos que haviam separado de alguma maneira foi parar na mão do concorrente.

Todos estavam me acusando de vender informações, olhando torto para meu rumo. Os chefes abaixo do meu marido gritando, me intimidando como delinquentes do colégio.

Assustada abaixo a cabeça sem conseguir pronunciar minha versão. Consideraram isso, como afirmação de que tinha realmente feito.

Fui mandada para o RH e demitida por justa causa, além de ameaçarem processar por vazar documentos secretos do escritório.

— Nunca mais vai conseguir emprego nessa cidade! — Carlos do RH, grita.

— Deve ter ficado desesperada quando viu a esposa do chefe. — Sarcasmo funcionário qualquer.

Fiz o possível para ligar ao Gabriel, mandei mensagem para confirmar que jamais faria algo do tipo. E quando ele finalmente apareceu, seu semblante não era dos melhores.

— Gabriel diga para eles... — Tento tocar nele.

— Descobrimos que os documentos foram vazados pela novata. — Carlos diz apresentando provas.

— Não é verdade! — Grito para se defender.

Gabriel coça a cabeça respirando diversas vezes.

— Deixe isso de lado, todos cometem erros. — Diz entrando no escritório.

— Chefe, um erro desses... — Insiste Carlos.

— Esqueça! — Grita Gabriel com Carlos.

— Não fiz isso! Gabriel sabe que jamais... — Ele me encara com ódio fazendo ficar calada.

— Não se preocupe com isso. Melhor que tire o dia de folga, esfrie a cabeça, amanhã volte trabalhar.

— Não fui eu. — Tento argumentar.

— Não quero brigar, pode por favor deixar isso pra lá.

Os outros funcionários ficam cochichando em volta e tento me defender de todas as maneiras, irritando Gabriel que me joga para fora da sua sala. Sem ouvir o que tenho a dizer, todos concluíram que fui uma traidora.

O ambiente foi assustador de encarar, obrigando sair mais cedo. De volta para casa sinto meu mundo quebrar, entro e sento no sofá.

Porém, não tenho um minuto de paz.

Camila vem alegre na minha direção com um belo vestido.

— Veja o que " Morceguinho" comprou para mim.

— Morceguinho?

— Esqueci!? — Diz batendo levemente na própria cabeça. — Não tem como você saber do apelido carinhoso que somente avô do Gabriel lhe chamava.

— Claro que sei desse apelido. Gabriel não permite ninguém o chamar dessa forma, essa é a maneira especial da sua pessoa especial. — Falo irritada.

— Oh? Isso significa que sou sua pessoa especial? — Diz contente.

— Está louca?

— Por que está nervosa? Gabriel foi quem pediu para o chamar com esse apelido.

— Ele nunca faria isso! Sou a mulher dele ! — Grito pegando das suas mãos o vestido.

— O que está fazendo?! Pare, Elisa! — Grita chorando Camila.

Cega pelo meu ciúmes, fui atrás de uma tesoura e picotei o vestido. Camila chorava implorando para não o fazer, mas a má sorte trouxe meu marido para casa mais cedo. Ele viu a loucura que fiz no vestido, furioso me empurrou fazendo bater a cabeça no chão com tudo.

Retalhos do vestido voam enquanto limpo o sangue que escorre da testa de um pequeno corte. Gabriel abraçado com Camila lhe consolando, não aguentei a imagem.

— O que ela é para você? Ainda a ama?! — Grito.

— Elisa, ficou louca? O que está falando? Quer constranger à todos? Deveria se envergonhar por intimidar uma pessoa frágil.

— Camila! Camila! Tudo é sobre ela! — Grito.

— Isso é por causa do que viu no outro dia? Camila não tem nada haver com isso! Nunca lhe traí, não tem motivos para agir como estúpida!

— Sou estúpida? Claro! Fica flertando o dia todo com sua amante e espera que seja paciente nessa casa como se fosse um fantasma.

Splá!

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