12 de julho, 2009 - O cárcere.

...|Vincent Vantoch|...

...Oito dias antes...

...do homicídio...

NAS PRIMEIRAS HORAS DA MANHÃ, Jennifer Grayson encontrava-se em seu quarto. A garota estava parada próxima a uma janela de vidro. Seu olhar tristonho deslizou vagamente por toda a paisagem tranquila que se encontrava diante de si. Onde ela estava com a cabeça quando aceitou viver dessa maneira?

Mais um suspiro pesaroso escapa de seus lábios. Seus olhos haviam se fechado mais uma vez para o mundo lá fora, e focaram apenas em sua nova realidade. Mas nem sempre foi assim. Por muitas vezes, ela tentou ligar para sua mãe. As mãos eram trêmulas ao segurar o aparelho celular, e as muitas lágrimas que escorriam sobre sua face alva eram um indicativo óbvio de seu desespero. Entretanto as coisas mudaram. Ou ao menos ela pensou que haviam mudado.

...• • •...

Vestindo apenas uma camisa larga e um par de meias brancas em seus pés, a garota caminhou até a cozinha. Como de costume, naquela manhã quando acordara, ela não encontrou Vincent ao seu lado. E agora caminhando calmamente pelo longo corredor vazio da casa, ela sentiu o cheiro atrativo do café invadir suas narinas.

— Bom dia, Jenny! – uma voz grave fez-se presente.

O olhar vazio da garota deslizou por todo o lugar, e logo foi-se ao encontro dos olhos castanhos-escuros de Vincent. Ele estava sorridente, muito mais do que ela podia imaginar. O homem continuou encarando-a, seus olhos pareciam reluzir um brilho estranho. Ao seu lado, uma criança pequena – de uns 6 anos, talvez – tinha um giz de cera em mãos e implorava por sua atenção, já que a mesma ansiava por mostrá-lo a sua mais nova "obra de arte": um desenho infantil, feito a partir de rabiscos.

Amelie Vantoch é um amor. Uma criança muito meiga e de personalidade amável. A menina, de cabelos lisos e um par de olhos similares aos de seu pai, contava com uma pouquíssima idade, era muito sorridente, e, acima de tudo, era o bem mais precioso de Vincent. Depois de Jennifer Grayson, sua filha era o seu maior tesouro.

— Por quê não me acordou? – Jennifer perguntou, atraindo prontamente o olhar de Vincent à si. — Eu poderia ter te ajudado com o café da manhã...

— Não. Não seria preciso. – o homem rebatou, erguendo-se da cadeira. Jennifer o acompanhou com o olhar. — Você estava ótima dormindo.

As palavras de Vincent eram ríspidas mas o seu sorriso ainda continuava lá, adornando sua face. O corpo de Jennifer estremeceu por inteiro. Ela não sabia o que mais lhe dava medo: o sorriso atípico em seus lábios ou a rispidez presente em suas palavras.

Vestindo uma camisa casual, de cor amarela, e com seus cabelos negros devidamente penteados, Vincent caminhou até o balcão da cozinha, preparou o lanche da filha, e logo voltou-se em direção à Jennifer.

— Vão sair? – Jennifer ousou em perguntar. A resposta não foi imediata, e como se nada houvesse sido perguntado, ele a ignorou. Jennifer Grayson não se deu por vencida, então insistiu, mais uma vez, em refazer a mesma pergunta: — Vincent, vocês vão sair agora?

Vincent a fitou em silêncio por alguns segundos, mas logo declarou:

— Sim. Nós vamos sair, mas você irá ficar aqui. – ele diz, calmamente. Era incrível que um crime de cárcere privado fosse tratado como algo tão normal e natural por Vincent.

— Não! – Jennifer disse, esboçando uma expressão de profunda tristeza. — Vincent, por favor, eu preciso visitar os meus pais!

— Não tente criar outra discussão, Jennifer! – Vincent elevou o seu tom de voz. — Eu apenas vou levar Amelie à escola, e logo mais estarei de volta.

Uma lágrima dolorida escorreu por sobre a face alva da garota.

— Por favor, só por alguns minutos... – ela dizia, entretando logo fora interrompida por Vincent.

— Eu já disse que não, porra!

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