MATHEUS...
Não aguento ver todo esse sofrimento da minha Rafa e não fazer nada. Eu já fui negligente de mais na vida dos meus filhos e na dela, fechei os olhos e virei as costas quando eles mais precisaram de mim, deixei que ela respirasse sem a minha presença na sua vida, por seis anos inteiros.
Foram anos em que me puni, que permiti outra mulher na minha cama apenas para que eu pudesse me sentir um pouco menos pior, para que eu me sentisse um pouco a dor da rejeição que passei para a Rafa.
Sei que nada do que eu tenha feito durante esse tempo vai me santificar e fazer eu ser digno do amor da Rafa. Mas eu fui imaturo ao extremo, senti medo de não ser para ela o príncipe dos seus sonhos, droga, eu a conhecia desde criança, ela cresceu na mesma casa que eu...
Quando eu passei a ver a sua evolução de menina para mulher... Passei a sentir ciúmes dos olhares que os homens lhe lançavam, por várias vezes eu repreendi a maioria dos seguranças da casa que passavam muito tempo olhando para ela, para a forma como ela cuidava das flores, ou da forma tímida que sentava a beira da piscina e ficava brincando com os pés dentro d'água.
Me lembro que por vezes encontrei ela sentada embaixo de alguma árvore afastada na propriedade, lendo algum livro, eram esses momentos que eu me permitia admirar a sua beleza, algumas vezes eu ia até ela e deitava na grama com a cabeça no seu colo, ela sempre fazia carinho no meu cabelo enquanto a sua atenção continuava no seu livro.
São essas lembranças que tenho daquela época, que me fazem me sentir tão culpado por todo esse sofrimento que hoje assola as nossas vidas.
— Não quero mais falhar com vocês, Rafa... Não posso...
Ela apenas balança a cabeça, negando, ainda abraçada a mim. Por mais que ela tente manter a sua postura de guerreira, ninguém consegue ser uma muralha o tempo todo.
Me inclino e deixo um beijo nos seus cabelos, olho para o nosso filho, e me dói tanto ver o meu menino assim... Caminho até ele, com a Rafa ainda abraçada a mim, passo a mão nos seus cabelos castanhos, cacheados iguais aos da Rafa.
Ficamos segurando a mão dele, fazendo carinho, enquanto as nossas lágrimas caiam dos nossos olhos. Passamos mais de dez minutos lá dentro, talvez uns 20, mas quando saímos de lá, percebi que eu teria de fazer algo a respeito do meu filho estar naquelas condições.
— Vou te deixar em casa, você não está em condições de dirigir, levo o seu carro e depois chamo um táxi até aqui para buscar o meu.
Ela não diz nada, apenas acena. Me mata ver ela assim, eu preferia que ela estivesse soltando farpas, me tratando com frieza... Não assim, aceitando tudo o que falo. Levo ela até em casa e assim que ela desce do carro e entra em casa, eu a acompanho e coloco a sua bolsa em cima do sofá.
— Vou pedir comida pra você jantar. Quer que eu peça o quê?
— Não estou com fome... — são as primeiras palavras que ela me dirige em quase uma hora.
— Precisa comer, Rafa... — odeio ter que usar esse tipo de argumento, mas sei que ela só vai aceitar comer se eu fizer isso — o nosso filho precisa que a mãe dele esteja forte...
Ela se joga no sofá, como se o peso das minhas palavras a atingissem em cheio, tem como eu ser mais escroto que isso? Usando o nosso filho para chantagear ela... O que eu me tornei?
— Não quero fastfood... — ela dá uma pausa — só quero o meu filho bem...
— Posso fazer alguma coisa, se você quiser — ela olha pra mim como se eu tivesse acabado de nascer uma segunda cabeça — não me olhe assim, eu sei o básico numa cozinha.
— Eu vou... Vou tomar um banho — ela levanta e vai até a escada, quando já subiu os dois primeiros degraus, para e olha por cima do ombro — a despensa é a segunda porta, a primeira dá na lavanderia. As panelas ficam no armário de baixo, louças no de cima... Talheres é na segunda e terceira gaveta.
Ela diz e termina de subir a escada. Eu respiro fundo e vou até a cozinha dela, já passei por aqui uma vez, então sei o caminho até ela. Paro por um instante e penso no que posso fazer para ela jantar, que seja rápido, mas que seja saudável. Penso em ligar para a minha mãe e pedir a ela para perguntar a Ana o que a Rafa gosta. Mas desisto, pois como eu explicaria a minha mãe que estou na cozinha da Rafa fazendo o jantar, sendo que toda a nossa família acha que ela não me suporta?
Bom, ela não me odeia mais completamente, mas... Enfim. Ponho as mãos na cintura e faço uma pequena prece a Deus, pedindo que ele me ajude a não queimar a cozinha ou fazer a Rafa parar no hospital com uma intoxicação alimentar.
Arrisco fazer o que sei que ela gostava na época em que éramos carne e unha: espaguete à bolonhesa. Ela sempre fazia quando estávamos sozinhos em casa, e me lembro que muitas vezes ela me disse ser o seu prato preferido. Espero que ainda seja e ela não tenha virado vegetariana.
Quando termino de fazer a janta, ela desce as escadas, vejo os seus olhos vermelhos e percebo que chorou mais. Pego um prato e coloco o macarrão, ponho o molho, as almôndegas, um pouco de queijo ralado e deslizo o prato até parar na sua frente.
— Espero que ainda goste disso aqui...
Ela olha pesarosa para o prato, mas logo abre um sorriso curto.
— É a comida preferida dele também... A Ana prefere lasanha, igual...
— Eu... Faz tempo que não como uma lasanha que preste, a sua mãe tem um dom que não é todos que têm.
Ela começa a comer, calada, devagar. Eu vou limpar o que sujei e ela me olha curiosa.
— Não vai comer também?
— Já invadi de mais o seu espaço. Em casa eu como qualquer coisa.
— Para de ser um babaca metido, Matheus — paro no meio da cozinha e olho para ela um pouco envergonhado pela forma como ela falou — se você não comer, então não como.
Ótimo, agora ela quer jogar comigo, e isso tudo por que sabe que mesmo eu sendo um babaca metido, que destruiu o seu coração, faria qualquer coisa por ela e as crianças. E é por isso que nesse momento pego um prato e coloco um pouco do espaguete.
Essa baixinha ainda vai acabar comigo, ah se vai... E mal posso esperar para isso acontecer. Para ela me colocar na mão e fazer de mim o que quiser. Eu iria até o espaço buscar o máximo de estrelas possíveis, só para fazer ela sorrir como antes. Para ver ela com a mesma expressão calma que tinha quando ficávamos sozinhos sob a sombra das árvores.
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Atualizado até capítulo 69
Comments
Regina Celia
Acho que quando a autora fala em ele se punir quer dizer que ele ficou com alguém não amava e só pensava em gastar o dinheiro dele.
Pois há uma passagem da história que ela pede pra comprar um vestido e ele diz que ela havia comprado sete.
2025-03-23
4
Andréa Debossan
E porque ele não gostava da outra e sabia que ela estava com ele por dinheiro não viu ele dizer que não suportava a voz da lacraia e que ela nunca ia dormir na cama dele por isso se punir
2025-03-29
1
Marta Campos
agora vi coisa..ele se puniu com uma mulher na sua cama por seis anos..não entendi isso autora kkkk
2025-02-20
6