RAFAELA...
Pensei que eu não fosse suportar o Matheus, que fosse ceder a ele a qualquer instante, e confesso que isso quase aconteceu quando me despedi dele.
— Obrigado, Rafa... Por me permitir fazer parte da vida deles.
— Só não os decepcione... Eu aguento você partir o meu coração, mas não o dos meus filhos — falo firme e ele assente.
— Amanhã posso passar no hospital para ver o Pedro?
— Ele tem que estar no hospital às sete... E a Ana tem aula... Vou ter que levar ela comigo quando for deixar o Pedro.
— Posso levar ela se você quiser — abro a boca, mas ele me interrompe — só se você quiser, Rafa... Te falei que quero dividir o fardo com você, não estou pedindo para ela passar o dia comigo, só... Para levar ela na escola, já que você tem que deixar o Pedro no hospital bem cedo. Mas é só isso que eu quero... Se você preferir pedir aos seus pais para levarem, tudo bem, não vou reclamar.
Paro e apenas ouço o que ele está falando, não sei o que ele está esperando que eu responda, e pra ser sincera, não sei o que responder a ele.
— Eu não sei... Matheus... Você acabou de entrar na vida deles... Acho que ainda tá cedo para você dar esse passo... — ele respira fundo e assente.
— Tudo bem. Mas posso ir ver o Pedro? — agora é a minha vez de respirar fundo.
— Tudo bem... Tchau, Matheus.
— Tchau, Rafa.
Antes que eu feche a porta ou ele se afaste completamente, sinto o beijo ser deixado na minha têmpora. Eu fico parada no meio da porta, observando ele se afastar, entrar no carro, e partir.
Entro depois de sair do meu transe, as crianças estão arrumadas para dormir, mas estão sentadas no sofá, assistindo.
— O papai já foi? — perguntou, o Pedro.
— Já sim, filho. Vamos para a cama? Amanhã cedinho você tem que voltar...
— Não queria, mamãe... Será que o tio Nat deixa o meu irmão ficar mais um pouquinho?
— Não pode, filha... O seu irmão precisa ficar no hospital pra ficar bom logo. Eu sei que vocês não gostam... Eu também não gosto nadinha, disso... Mas... É preciso, meus amores.
— Posso dormir com a mamãe hoje? — o Pedro pergunta com a carinha triste.
— Eu também quero...
— Podem sim, meus bebês, venham, vamos dormir com a mamãe.
Pego os dois no colo, e não me perguntem como, mas uma mãe sempre tem a força e habilidade de fazer tudo pelos filhos, inclusive pegar duas crianças de cinco anos, no colo ao mesmo tempo.
Chegamos ao meu quarto e eu coloco os dois na minha cama enquanto vou colocar o meu pijama, quando me troco, deito abraçando os meus dois bebês, os meus anjinhos.
— Durmam... A mamãe tá aqui para proteger vocês de tudo. Sempre.
— Te amo, mãe...
— Eu te amo, mamãe...
Eles falam sonolentos, eu dou um pequeno sorriso e apenas respondi baixinho, quando noto que eles já estão dormindo.
— Eu também amo vocês.
Acordo no outro dia cedo e depois de arrumar tanto a Ana, quanto o Pedro, me arrumo e dou o café deles, saímos bem cedo. Assim que deixo tudo certo no hospital, e me certifico de que o Pedro está bem instalado, eu vou deixar a Ana na escola.
— Mãe.
— Oi filha.
— O meu papai vai ver a gente de novo?
— Sim, filha...
— Eu gostei do papai... — apenas deixo um pequeno sorriso desenhar o meu rosto — mãe...
— Pode falar, querida.
— Porque o papai só apareceu agora? Onde ele tava antes?
Eu engulo em seco e antes que eu pense em uma resposta inteligente para responder a ela, chegamos a escola.
— Chegamos, filha — desço do carro e tiro ela, levando até o portão de entrada — vai lá para você não se atrasar. A mamãe te ama.
Dou um beijo no topo da sua cabeça, os amigos dela chegam também e vêm abraçar ela, acho linda a amizade deles. Vejo de longe os pais de um dos amigos dos gêmeos, os pais do Igor. Já conversamos algumas vezes, principalmente quando as crianças tiveram a ideia de fazer uma festa do pijama na casa da Luana.
Vou até eles que me recebem com um sorriso, noto que a mãe do Igor, que se não me engano se chama Juliane, está grávida, não me lembro de tê-la visto grávida na última vez que nos encontramos.
— Olá. São os pais do Igor, não é?
— Sim, você é a mãe dos gêmeos? — assinto — ele chegou todo alegre ontem, lá em casa, pois segundo ele, o papai da Ana e do Pedro é o máximo kkkk
— Ele está aprendendo a ser pai, ainda. Digamos que ele só começou fazer parte da vida das crianças, agora... — ela sorri para mim e olha para o marido num pedido silencioso para que ele saia.
— Te espero no carro — ele deixa um beijo nela e se afasta.
— Vocês são lindos juntos.
— Obrigada. Tem um minuto? — assinto, ela sorri mais uma vez e me conduz até um banco que tinha em baixo de uma árvore grande — mal nos apresentamos. Me chamo Juliane, e aquele ali é o Gustavo — ela aponta para o marido — eu entendi o que você quis dizer com "está aprendendo a ser pai ainda". O Gus também só apareceu na minha vida quando eu já tinha a minha primeira filha. Ele não tinha experiência nenhuma com crianças, mas fez o que pôde para ser o super pai da minha princesinha.
— Ele é pai só do Igor?
— Sim. E dessa outra princesinha aqui — ela acaricia a barriga que já está redondinha — olha, não sei qual é a sua história e não quero ser intrometida lhe pedindo para me contar ela agora. Mas... Uma vez eu recebi um conselho de uma grande amiga minha e eu levo ele comigo até hoje. Muitas vezes o amor está bem na nossa porta, só precisamos deixar ele entrar. Se o pai deles, quis assumir esse compromisso, mesmo com todos os "mas" e "e se", permita, todos têm o seu próprio tempo, a sua própria forma de curar uma ferida. Mas não há cura melhor do que o amor. Estou te falando isso, pois vi a forma como você falou do pai dos gêmeos, e eu nunca me engano quando vejo um pequeno lampejo de tristeza no olhar de alguém. A sua tristeza não é só pelo Pedro, estou certa?
— Sim... E eu nem sei mais o que fazer para não sentir isso... Pra essa dor não me consumir tanto. Mas é tão difícil... — ela põe a mão na minha perna e aperta calmamente.
— Eu também já passei por muito, antes do Gus. Principalmente antes de ir morar lá — ela aponta já direção da comunidade — no morro. Mas eu lhe digo uma coisa, quando eu resolvi me perdoar, além de perdoar qualquer outra pessoa... Foi como se um peso tivesse saído dos meus ombros. Muitas vezes o autoperdão é tudo o que nós precisamos para parar de sentir tanta dor.
— E se eu não conseguir, me perdoar?
— Então fale com Deus... Só Ele pode tudo. Não estou dizendo que você não tem fé, mas... Tente... Se perdoar. O perdão liberta. Abre caminhos. E quando você se perdoar... então aceite esse amor que eu sei que arde aqui — ela põe a mão no meu peito — no seu coração. Preciso ir, tenho uma escola para pôr nos trilhos. Pense no que eu lhe disse, aqui — ela me entrega um cartão — esse é o meu número, se precisar algum dia, é só ligar. Nem que seja só para ficar com os gêmeos enquanto você espairece a mente um pouco. Eles são uns amores, e tenho certeza que você é muito mais forte do que pensa.
Ela diz isso e sai, indo até o carro onde o seu marido a aguardava pacientemente, fiquei observando quando ele abriu a porta para ela e lhe deu um selinho antes de ajudar ela a pôr o cinto. Depois desviei o olhar para a escola, e por último, fechei os olhos, tentando enxergar dentro de mim.
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Atualizado até capítulo 69
Comments
Laura Maria Machado Carvalho
É muito bom quando encontramos alguém que nós conforta com palavras, quando em nosso interior estamos tendo dificuldades em achar uma saída.
2025-03-18
11
Andréa Debossan
tão bom quando encontramos alguém que tem as palavras certas na hora certa
2025-03-29
1
Wilma Marques Machado
Que palavras lindas da mãe do Igor.
Fiquei com os olhos cheios d'água
2025-03-06
1