MATHEUS...
Estou a ponto de ter uma parada cardiorrespiratória, pois tive a brilhante ideia de vir até a escola onde os gêmeos estudam e acompanhar a Rafa daqui até o hospital, já que recebi uma mensagem de lá, avisando que os resultados dos exames que fiz, saíram.
Bom, agora voltando a minha parada cardiorrespiratória, na hora que desci do carro, vi a minha princesinha saindo da escola de mãos dadas com o Igor, um dos amigos deles, e não para por aí, eles vieram de mãos dadas até onde a Rafa estava e ela apenas sorria para ele.
Fiquei observando mais um pouco, mas a Ana me viu e abriu um sorriso enorme, ela gritou bem alto a palavra "papai" e isso me encheu de alegria, não sabia que precisava ouvir isso, até ouvir.
— Papai... — ela veio correndo para os meus braços, e ainda bem que eu estava perto de onde eles estavam.
— Oi minha princesa.
— Eu tava com saudade já.
— Eu também estava, princesa. Como foi a aula?
— Chata. Não tem graça sem o meu irmão aqui...
Peguei ela no colo e fomos até onde a Rafa estava com o Igor, ele estava sorrindo também, acredito que esteja feliz por ver a minha princesa sorrindo tanto, mas estou com um baita ciúmes, como a Rafa permite que esse pirralho ande de mãos dadas com a minha princesinha assim?
— Oi... Rafa, olá, Igor, não é?
— É sim, oi tio.
— Eu queria ir com vocês ver o Pedro.
— Tudo bem... Vamos.
— Tia, a Flavinha também queria ir, mas o pai dela não deixou.
— Que pena. Vamos, depois eu te deixo em casa.
Seguimos até onde a Rafa deixou o carro dela e eu ajudo a Ana e o Igor a entrarem. Vou até o meu carro e vou seguindo a Rafa até o hospital. Assim que chegamos lá, fomos direto para o quarto do Pedro, ele estava pintando.
— Pai! Você voltou.
— Oi, campeão.
Vou até ele e abraço ele com cuidado, bagunço os seus cabelos, o que faz ele rir, coloco a Ana e o Igor na cama com ele. Chamo a Rafa num canto.
— Fala.
— Os resultados dos exames que fiz na semana passada já estão prontos. Por isso vim logo... — coço a nuca — quer ir comigo ver os resultados?
— Não sei... Não quero deixar eles três sozinhos.
— Não podemos chamar uma enfermeira?
— Pode ser...
Ela sai do quarto e eu vou até as crianças, eles estavam pintando todos juntos, agora. Fico com eles até a Rafa voltar com uma enfermeira, assim que ela volta, seguimos até a sala onde recebo os resultados, de lá, fomos até o consultório do Natan.
— Boa tarde.
— Vocês aqui? Aconteceu algo? — levanto os papéis e ele assente — tudo bem. Vamos ver.
Ele pega os papéis e começa ler cada um meticulosamente, a Rafa está praticamente roendo as unhas, eu estendo a minha mão e coloco na sua perna, ela olha para mim com o olhar fulminante, então me vejo obrigado a tirar.
— Tenho duas notícias para vocês...
— Boas ou ruins? — a Rafa pergunta tremendo e eu estou quase como ela.
— Uma boa e uma ruim, querem qual primeiro?
— A ruim — falamos em uníssono.
— A ruim é que... No momento a agenda do responsável por esse tipo de cirurgia, está lotada... E ele é o melhor do país. A boa é que os seus exames estão ótimos. Bem melhor do que o esperado para esse tipo de transplante.
— Quanto tempo teremos que esperar? — a Rafa pergunta com a voz baixa.
— No mínimo dois meses — a Rafa solta um soluço alto e pela primeira vez eu entendo a dor dela.
— Dois meses? — ela pergunta já chorando.
— Infelizmente sim. Esse tipo de cirurgia é muito delicada, e o doutor Calisto é muito requisitado em todo o país. Ele é o nosso melhor médico, por isso não queremos jogar essa responsabilidade nas mãos de outro.
— Entendemos — pego a mão da Rafa mais uma vez e dessa vez ela não recusa — o que podemos fazer até lá?
— Vamos voltar com o tratamento que ele estava recebendo, para evitar que a doença se agrave. Não vai ser a solução, mas servirá para atrasar um pouco.
Nós concordamos e saímos da sala, no corredor, fora dos olhares das pessoas, a Rafa começou a chorar. Eu me aproximei dela e ela não diz nada, apenas se permite ser abraçada. Eu a aperto contra mim, e quanto mais ela chora, mais me sinto um tremendo escroto.
Começa passar algumas pessoas, mas a Rafa ainda não está recuperada da crise de choro, então entro numa sala vazia e me encosto na porta, deixando que ela continue abraçada a mim. Ela não reluta contra a minha aproximação, ou contra as carícias que estou fazendo nas suas costas.
Apenas aceita esse carinho. Vários minutos se passaram e ela permanece com a cabeça no meu peito, a minha camisa está molhada das suas lágrimas, mas foda-se minha camisa, eu não podia deixar minha mulher chorar desse tanto, sem ao menos abraçar ela.
— Está doendo tanto... Tanto, Matt... — sinto um misto de sentimento ao ouvir ela me chamar por esse apelido — só queria que essa dor passasse... Que o meu menininho ficasse bem...
— Eu sei, Rafa... Também está doendo em mim... Sei que não tanto quanto em você... Mas também está doendo em mim, saber que sou compatível, e vamos ter que esperar todo esse tempo para ver o nosso filho bem.
— Eu só queria passar a dor dele pra mim... Ele finge que não está sentindo dor, Matt... Mas ele sente... Eu vejo nos olhinhos dele que dói...
— Ele aprendeu a camuflar a dor, com a mãe... A esconder a intensidade para não preocupar os outros... Eles são tão parecidos com você... Me sinto um monstro por não acreditar em você, Rafa...
— Eu já te perdoei, Matheus... Só... Só não consigo mais acreditar totalmente em você.
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Atualizado até capítulo 69
Comments
iranete teofilo
Amando a forma como a autora está abordando esse problema e passando brilhantemente para todos envolvidos na história inclusive para seus leitores. Pois são muitas emoções sentidas. Arrasou autora. 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼🌹💐⚘️❤️
2025-03-24
2
andrea diniz
Parabéns autora, conseguiu abordar um assunto tão pesado de forma tão leve! Essa é a primeira história sua que leio e estou amando. Certamente vou querer ler as outras /Smile/
2025-03-19
1
Euridice Neta
É triste ver um filho sofrendo sem poder fazer nada ou quase nada, mais enfim é nas dores que nos fortalecemos e valorizamos aquilo que temos...
2025-03-03
2