EXUBERANTE, MAGNÍFICA, UMA CONSTRUÇÃO digna de um rei; esses foram os primeiros pensamentos que povoaram a mente de Dália quando ela desceu da carruagem — zonza pela exposição à magia de teletransporte — e vislumbrou o castelo de três torres à sua frente.
Era uma construção toda feita de pedra — em uma tonalidade próxima ao leite —, com detalhes de ferro, ouro e prata reluzindo ao toque da luz das chamas vindas de algumas tochas acesas nas laterais. Uma escada em ladrilhos seguia em direção a uma grande porta de madeira envernizada, onde dois cavaleiros, de armaduras completas, vigiavam a entrada com total atenção.
Já era noite e não chovia no grão-ducado, embora o céu estivesse coberto por nuvens densas, quase como se a chuva que caíra quando Dália deixou a pousada pudesse surgir a qualquer momento e tentar molhar seu corpo.
Ela sentiu um arrepio subir sua espinha ao pensar na possibilidade, logo descartando-a. Já estava ali, a um passo de encontrar o Grão-Duque e ter a conversa que determinaria quanto tempo mais ela viveria; se seria só mais uma noite ou alguns dias. Fosse o que fosse, Dália desejava adiar esse momento o máximo que conseguisse.
Talvez, quem sabe, isso fosse possível.
Não custava nada acreditar.
Um suspiro em formato de lamúria escapou pelos lábios, e ela fez de tudo para manter uma caminhada lenta — embora constante — até a porta. Ao seu lado, Lieen e Ivy a acompanharam em silêncio.
Em determinado momento, a única coisa que Dália conseguia ouvir eram as batidas frenéticas de seu coração. O som forte e cada vez mais acelerado ecoava pelos ouvidos, fazendo com que o embrulho no estômago aumentasse e a deixasse mais grogue.
Tudo era uma questão de quanto tempo a garota resistiria, se teria forças o suficiente para encarar quem quer que estivesse do outro lado e se teria, de algum jeito, a força necessária para não se permitir morrer em vão. Infelizmente, a realidade não parecia muito animadora, e ela acreditava que as respostas para esses “e se's” seriam a última coisa que ela queria ouvir.
Dália apertou as mãos frente ao corpo, mordeu os lábios e contou até três. Enquanto seguia, tentou manter sua mente ligada a qualquer coisa que não fosse aquele momento, contando o movimento de seus pés cada vez que eles deslizavam pelo chão.
Um passo, dois passos; ela quis correr. Três passos, quatro passos; apertou as mãos contra o corpo e encarou a porta de madeira. Cinco passos, seis passos; sentiu a cor sumir de seu rosto, e forçou-se a parar diante da entrada quando os guardas se puseram em sinal de alerta e bloquearam a passagem com suas lanças grandes e pontiagudas. Por mais que Dália quisesse gritar com eles — ou consigo mesma —, agora restava engolir em seco e aguardar.
Para o desespero da garota, assim que os cavaleiros viram Lieen, saíram da frente da entrada e a abriram em um movimento ágil. Alguns segundos depois, Dália pôde ver o ambiente interno do lugar que seria sua última morada.
E ele era lindo.
Um amplo salão, cercado por janelas de vidros, quadros pintados e tochas decoravam o recinto. O chão era feito de mármore preto, enquanto as paredes pareciam reluzir em um cinza diferente das pedras que acompanhavam o branco leitoso do lado de fora.
Uma escada decorada, grande e majestosa, abria caminho para os andares superiores, enquanto um candelabro de cristal iluminava o teto pintado, igual à beleza de uma catedral. As figuras desenhadas ali datavam uma guerra, mas qual Dália não soube dizer.
Tudo era muito lindo, requintado, mais do que o castelo dos Lennart — que muitos nobres consideravam incrível por sua extravagância marcante.
Enquanto olhava impressionada para cada detalhe daquele lugar, Dália reparou em um homem bem-vestido, de barba branca e rara, e olhos de um vermelho que pareciam engolir até o brilho das chamas que adornavam as paredes em suas respectivas tochas. Era um senhor com uma beleza voraz, de não mais que cinquenta anos e cabelos brancos como a neve amarrados em um rapo de cavalo, posto delicadamente sobre o ombro direito.
Tinha uma aura aristocrata envolvendo-o, enquanto transbordava elegância e tranquilidade. Dália não precisou de muito para deduzir que aquele era o mordomo chefe do grão-ducado e, talvez, até um dos conselheiros de Arion.
— É um prazer receber a senhorita Lennart aqui na residência do nosso honrável amo — disse o mordomo, logo dando longos passos até estar diante de Dália. Sem muita enrolação, ele a saldou com uma pequena mensura.
— Eu que me sinto honrada — respondeu ela, forçando um pequeno sorriso. O mordomo apenas assentiu.
— Onde está Vossa Alteza? — perguntou Lieen. Ele olhou para todos os lados e mordeu os lábios ao não encontrar o que procurava.
— Vossa Alteza teve que partir para uma expedição à fronteira, mas regressará amanhã até a hora do jantar.
Ao ouvir essas palavras, foi inevitável para Dália não agradecer aos deuses pela benção que eles haviam lhe oferecido. Não podia negar que o peso que sufocava seu peito, por um segundo, pareceu sumir e ela pôde até ter um pouquinho mais de esperanças. Talvez, quem sabe, algo bom estivesse prestes a acontecer?
— Um imprevisto, é? — murmurou Lieen, parecendo meio confuso. Depois de alguns segundos em silêncio, balançou a cabeça em um sinal de negação. — Deve ter sido algo muito importante para ter tirado Vossa Alteza daqui justo quando ele conhecerá sua prometida.
— É o que penso, senhor Ordus.
O mago assentiu e voltou-se para Dália, que já comemorava o adiamento de seu encontro com o Grão-Duque. Essa notícia a deixara muito feliz, embora seu rosto não transparecesse isso.
— É uma pena que isso tenha acontecido — murmurou Dália assim que notou o olhar inquisidor de Ivy sobre ela. Era bem provável que seu silêncio fosse um incômodo.
— Sim, é. — Lieen sorriu, compreensível. — Então, Senhorita Lennart, já está tarde e eu preciso me retirar. Espero que goste de sua estadia aqui.
— Tenho certeza que gostarei — respondeu ela, retribuindo o sorriso dele. Sem dizer mais nada, Lieen sumiu escada acima.
Após soltar um pequeno suspiro, e ter certeza que o mago não mais estava por perto, ela voltou-se para o mordomo com certa indiferença na voz:
— Como devo chamá-lo?
— Meu nome é Marllis, senhora. Me chamar se Marllis ou apenas de mordomo.
— Ok, Marllis. Meu quarto já está pronto?
— Somente esperando a senhora e sua bagagem. — Dália assentiu, satisfeita. Aquela era a segunda melhor notícia que recebia desde que pusera os pés ali. Não poderia ser algo melhor.
— Então, se possível, me mostre meus aposentos e mande uma criada para ajudar Ivy a preparar um banho para mim — pediu, com calma. — Essa noite não irei jantar.
Marllis apenas concordou. Com um gesto de mãos, apontou para a escada que Lieen subira há poucos minutos antes.
— Me acompanhe, senhora.
O mordomo não esperou uma resposta, apenas começou a subir degrau por degrau, enquanto era seguido por Dália e Ivy de perto. À medida que a garota ia se aproximando do meio da escada, começou a reparar nos quadros espalhados pelas paredes e iluminados pelo brilho avermelhado das tochas e do candelabro.
Era desde retratos até pinturas de paisagem na primavera e no verão. Uma mistura de cores, embora o cinza e o preto fossem as mais presentes de todas elas. Mas havia um quadro, maior do que os outros e obscurecido pela falta de luz ao seu redor, que atraiu a atenção de Dália de um jeito que a jovem não estava esperando.
Este, em especial, ficava no topo da escada. Qualquer um que subisse até ali poderia dar de cara facilmente com ele, o que deixava sua presença ser dificilmente ignorada. No entanto, sua presença parecia camuflada, como se uma magia obscura o envolvesse e impedisse que qualquer outra pessoa — tanto Marllis quanto Ivy — notassem sua presença estonteante.
Isso era estranho. Dália não sabia dizer se, devido ao efeito da magia de teletransporte em seu corpo, ela estava mais sensível ou, quem sabe, outra força estranha forçava os olhos dela a fixarem naquele quadro, desafiando-a a tentar decifrar o que havia de tão especial e misterioso ali; qual história a pintura escondia. Se escondia.
Ela balançou a cabeça, tendo como conclusão que pensar sobre isso era bobagem. Nada havia a ganhar, não havia por quê. O melhor, no fim, era seguir as escadas e, se tivesse a sorte de não estar imaginando coisas, amanhã — com a luz do sol iluminando o castelo — teria a chance de passar seus últimos momentos tentando entender o que aquele quadro escondia.
Não hoje, não no escuro. Amanhã, com certeza amanhã. Era uma promessa.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Carolini Meneget
Tô com depressão por causa da Dalia KKKKKKKK MISERICÓRDIA MULHER, REAGEEEEEE
2025-01-30
1
Brennda Germany's
a não, esse negócio, ah não quero comer, vai ser chata assim na china, Dália
2025-01-29
1
Ruby
no lugar dela eu já ia dizer ' já que não querem deixar eu entrar, vou me embora "
2025-02-18
1