SENTADA EM UMA POLTRONA DE VELUDO, em frente a janela, Dália observava com os olhos vazios Penélope se despedir de suas amigas. Os cabelos castanhos, alguns tons mais escuros que o dela, reluziam em meio a luz vinda dos relâmpagos que cortavam o céu.
A pele pálida parecia mais viva sob a proteção do guarda-chuva. Os olhos cinzentos — única diferença física e estrondosa entre as duas — pareciam encantadores, vivos. Tudo o que Dália desejava para si e não tinha a oportunidade de ter.
Dália sentiu uma pontada no coração.
Inveja, era isso que se instalava em seu peito toda vez que observava, a sós, a filha do Duque. Ela odiava a si mesma por se sentir assim, mas era inevitável. Tudo de bom no mundo estava reservado para aquela garota, desde a realização de seus sonhos a uma vida tranquila e feliz com quem tivesse a chance de conquistar seu coração.
Em vez disso, para Dália, o destino havia sido mais cruel. Como uma criança birrenta, ele havia lhe reservado dor e sofrimento. Uma vida com um propósito que mal a mantinha respirando. E agora uma morte dolorosa — se tivesse o azar de acabar como a última prometida do Grão-Duque, ao qual perdera a cabeça após ter sua barriga perfurada por uma espada, em frente ao sacerdote, no altar.
E o pior disso tudo era aquela parte dela, submissa e já conformada, que rejeitava sua inveja e lhe dizia que morrer por Penélope não deveria ser algo tão ruim. Ela fora criada para isso, não é? Não tinha outra motivação. Não tinha outro destino. Aceitar parecia melhor do que lutar contra o impossível.
Um riso amargo e cruel saiu de sua garganta, e ela sentiu cada pelo do corpo se arrepiar. Poderia jurar que ouvira a voz de Diord saindo de seus lábios, o mesmo som que a deixava com as mãos suadas e os olhos baixos; trêmula e com um gosto amargo na boca.
Dália balançou sua cabeça. Pensar nisso não mudaria nada. Ao desviar os olhos da janela, quase não notou o olhar que Penélope lhe lançou da entrada da mansão. Ela parecia aliviada, vitoriosa. Quase como se soubesse que a notícia da troca de destinos já tivesse chegado aos ouvidos de Dália e agora ela sofria intensamente.
Não seria surpresa nenhuma se fosse isso.
Antes que Dália pensasse na verdadeira personalidade de Penélope, ouviu a porta do quarto bater. E ali estava a filha do Duque, como se o percurso até ali não passasse de um pequeno salto, fácil e simples, nada que alguém como ela não pudesse executar.
Magia. De um cinza denso, como nuvens carregadas de chuva e toques esverdeados como a luz dos raios que cortavam o céu naquele momento. O verde dos olhos de Dália. O verde do jardim. O verde que provavelmente teria a bile insistente que subia de sua garganta.
— Parece que papai já lhe contou — Penélope constatou, observando a expressão que Dália fez ao vê-la ali. Era provável que não fosse algo muito acolhedor.
— O suficiente — Dália murmurou, atônita, sem saber se ficava impressionada pela aura de magia, que pouco a pouco se dissolvia no ambiente, ou pela expressão deliciada de sua querida senhorita.
— Sua expressão diz tudo, o que me deixa bastante curiosa. Achou mesmo que viveria no conforto, como algo que não é, por toda sua miserável vida?
— Se suas palavras são para me ofender, senhorita, saiba que já estou cansada demais para algo tão… mínimo surtir efeito.
— Você e sua etiqueta impecável — Penélope grunhiu. Não parecia muito feliz. — Não se cansa de ser tão…
— Odiosa? Repulsiva? Estraga prazeres? — Dália sugeriu, a interrompendo. Uma de suas sobrancelhas se ergueu, mas isso não foi o suficiente para esconder o cansaço em sua voz. — Você já me chamou disso e de coisa muito pior, senhorita Penélope. Não acho que haja algo capaz de me ofender a essa altura.
— Tem certeza? — Penélope sorriu, fria. Havia algo ali, um lampejo, que fez Dália estremecer. — Talvez o melhor a se dizer é morta. Não se cansa de parecer tão sem vida assim?
Um silêncio pesado recaiu no quarto. Dália não soube o que responder; Penélope havia tocado na ferida. Aquela mulher, com rosto angelical e dois anos mais nova, sabia ser cruel quando lhe convinha, e isso era na maior parte do tempo. Mas até naquela tarde, com o som da chuva e trovões como plano de fundo, nunca havia ousado falar da lamúria presente nos olhos verdes de Dália. De sua morbidez.
Aquilo fora uma gota d'água em uma tigela pronta para transbordar.
Silenciosa e sem pressa, uma lágrima salgada escorreu pela pele clara de Dália. Logo outras irromperam, uma após a outra, e a garota se sentiu tão inútil, tão pequena, tão… só, que não pôde acreditar no sentimento que invadiu seu peito.
Ela sempre estava vazia. Sua vida era vazia. Viver, de verdade, era um sonho inalcançável. E agora estava prestes a morrer, por Penélope. Poderia haver no mundo pior castigo do que este?
Dália não sabia. Não queria saber. Ela estava tão cansada, tão infeliz, tão quebrada, que nem se importou com o sorriso vitorioso que surgiu no rosto de sua senhorita. Apenas fechou os olhos, deixando as lágrimas correrem, deixando seu peito afundar, lento e constante. Não parecia haver nada que pudesse curar ou mudar isso.
Apenas, e inutilmente, aguardar.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Auzy Holanda
ela é muito idiota eu tinha metido a mão na cara dela tinha da uma surra nela e viveria os meus últimos 6 dia fazendo tudo que eu não fiz a vida toda kkk já ia morrer A conta já foi paga tem com normalizar minha conexão por favor menos ia matar ela antes do casamento
2025-03-02
3
Vicki Hungria
Meu Deus será que esses Duque é tão mal assim??
2025-01-07
2
Cherry_Switter
Ai cara, vai arrumar um guarda-chuva pra ficar segurando enquanto dá suas caminhadas com suas amiguinhas ricas/Smug//Speechless/
2025-01-09
1