— VOSSA GRAÇA SÓ PODE TER FICADO LOUCO! — A voz de Dália verberou por todo o cômodo abafado, mas logo foi suprimida por um trovão que ecoou ao longe.
Isso a faz despertar de seu pudor.
— Louco? — O Duque riu, cruel. — Quem você pensa que é para afirmar isso?
Dália ficou em silêncio. Ela não era ninguém, não ali. Como Alzzefre havia lhe dito, aquela seria sua maior tarefa — provavelmente a última. Morreria antes que o Grão-Duque descobrisse que fora enganado, e caso tivesse sorte — algo que ela tivera, se considerasse sua existência luxuosa, superficial e sem propósito — duraria o suficiente para exercer uma vida só para ela.
Finalmente poderia tomar as rédeas da situação. Viver para si, lutar por si.
Que sonho mais utópico.
— Como eu poderia? — A voz de Dália falhou. Mesmo que tentasse pensar pelo lado positivo, tudo soava uma desculpa esfarrapada em seus ouvidos. — Eu não posso assumir um noivado que não é meu. Principalmente com alguém tão importante como o Grão-Duque.
— É aí que está. — Ele sorriu, um sorriso gélido e sem piedade ou amor. — Esse é o seu destino. A prova final.
— Como assim?
Diord se levantou, ficando em pé, e deu a volta na mesa para ficar de frente para a jovem ainda no chão.
— A vida toda você foi treinada para este momento. Não, bem antes do seu nascimento, você já era requisitada para substituir minha filha em uma morte certa.
— O senhor nem conhecia meus pais, como pode dizer isso? — Dália esbravejou, sentindo ódio pingar de sua voz pela primeira vez desde seu aniversário de quinze anos. As lembranças que vieram, do que o Duque lhe fez naquele dia, afogou o sentimento bem fundo em seu coração e ela estremeceu.
— Você que se engana, Dália. — A voz de Diord ecoou com tanta certeza, que por um segundo a jovem pensou mesmo que estava enganada. Mas logo lembrou que fora um acaso do destino que a reuniu com aquele homem. Um mero capricho. Ou será que…?
— Vossa Graça… — A boca de Dália secou, e ela engoliu em seco. Sua voz fina e perturbada. — Vossa Graça conheceu meus pais.
Não foi uma pergunta. E nem precisava. Só foi preciso encarar aqueles olhos cinza que Dália soube a verdade. Aquilo que ninguém ousara contar a ela durante todos os anos que viveu ali.
— Seu pai, para ser mais exato — corrigiu o Duque, satisfeito pela inteligência demonstrada pela garota. — Ele era o meu melhor cavalariço. Homem bom, mas muito ambicioso. Não foi difícil usar isso ao meu favor.
— O que fez?
— Nada muito mirabolante. Ele já tinha tudo que eu precisava, era estranhamente parecido comigo. Para um plebeu, poderia afirmar que era encantador.
“Você tem ideia de como foi difícil criar um plano para evitar ter que enviar minha futura filha para um grão-ducado de loucos? Eu nunca quis esse pacto que meus antepassados fizeram com os Vespehlla. Não, nenhuma das famílias nobres da elite, aqueles covardes, quiseram. Mesmo assim, durante décadas, eles, como bom cachorrinhos, obedeceram aos Vespehlla como seus donos. Aqueles porcos imundos!
“Então eu precisava de uma saída. E aí surgiu seu pai. Tão parecido comigo na aparência. Era inevitável que eu me perguntasse: o que aconteceria se este homem tivesse uma filha com uma mulher parecida com a minha? Quais as chances do fruto dessa união ser comparável com uma filha minha aos olhos de qualquer um que a visse?
“Eu não hesitei em conversar com ele. E a ganância do homem, um mero moribundo sem esperanças, pareceu se tornar o dobro na minha frente. Logo começou o que carinhosamente apelidei de “caça a felizarda”. Depois de várias tentativas, vários filhos homens com mulheres distintas, então, o cavalariço conheceu alguém em uma estalagem à beira de estrada. Uma mulher, quase idêntica à minha. Era a mais parecida até então.
“Acho que ele se apaixonou por ela durante os dias que ficou ali, rondando-a, cortejando-a. Afinal, diferente das outras que estavam mais de olho em suas roupas bem-vestidas e no saco de moedas de ouro que ele guardava (presentes meus para facilitar sua tarefa), sua mãe apenas queria um sentimento verdadeiro. E seu pai deu a ela. Durante aqueles meses de conquista, durante sua gravidez, tudo foi lindo. Mas, como tudo tem fim, chegou a hora de você nascer.”
— E o senhor me tomou deles? — Como se a fúria fosse uma inimiga brutal e amarga, quase desconhecida, que a impressionava para cima, Dália se levantou.
Diord observou-a por alguns instantes. Calmo, tranquilo. A frieza presente ali era como água sendo jogada na brasa que queimava o peito de Dália. Não demorou muito para esta começasse a se extinguir.
— Não. Acredite se quiser, Dália, mas os dois pombinhos a abandonaram.
Havia uma firmeza na voz do Duque, uma certeza, que a garota se sentiu tola por um segundo ao pensar que seus pais a quiseram em algum momento de sua vida. Ela cresceu acreditando que não, então, por mais que quisesse, isso não mudaria agora. Nem se a resposta de Diord fosse outra.
— Então, o que aconteceu? Como me achou?
— Calma, eu te explico. — Ele sorriu. Novamente a garota se sentiu ameaçada por esse pequeno ato. — Após seu pai pegar a recompensa comigo, ele fugiu com sua mãe, te deixando em uma lata de lixo. Uma cria abandonada.
— Por… Por quê?
A surpresa e o espanto que vieram com as palavras de Dália pareceu surpreender o Duque. Ela logo se tocou que não havia espaço para isso. Querendo ou não, era a única verdade que conhecia até aquele momento.
— Eu já não te disse antes? Você nasceu doente. Foi um milagre dos Deuses você ter sobrevivido.
Dália ficou em silêncio mais uma vez. Era muita informação para processar de uma vez só.
Lá fora, outro estrondo cortou o céu e ela tremeu. Desviou os olhos para a mobília do escritório, todo entalhado em mogno, carvalho e qualquer outra madeira nobre que a garota não reconhecia.
Mesmo a beleza do cômodo, à meia luz, não foi o suficiente para ajudá-la a organizar os pensamentos. A mente de Dália era um turbilhão. Ela só conseguia repetir para si mesma, com enorme pesar, que sua vida realmente só servia ao propósito que fora criada para ser.
Nascer, crescer, viver e morrer por outra pessoa. Por Penélope.
Ela quis chorar.
— Você está dispensada — falou Diord, atraindo os olhos verdes de Dália para si. Naquele momento, a garota pôde jurar que toda a piedade que o homem possuía para com outras pessoas que não fosse sua família foi usada ali. Tudo de uma só vez.
Dália assentiu. Não havia o que fazer. Com os pés arrastados, mas ainda com toda a elegância incrustada nos ossos durante todos os seus vinte e dois anos, ela saiu do escritório, em direção ao seu quarto.
Mas, antes da porta bater, outro trovão ecoou. E Dália pode jurar que os céus estavam rindo dela.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Vicki Hungria
Coitada da Dália, pior que ela não pode fazer nada😰
2025-01-07
2
Carolini Meneget
Essa história tá muito mal contada, acho que ele fez alguma coisa.
2025-01-09
1
autora_Mabell_dark
ela chamou ele de louco que louca 🤣🤣🤣
2025-01-08
2