Tentativa de sobreviver

Maria cuida das minhas costas. A noite me esqueço de subir para jantar e Enzo aparece brigando e gritando. Subo com ele para jantar. E mais uma vez discutimos. Retorno chorando para esse lugar.

Ao chegar no meu quarto, sinto muita saudades de Ray. Abro então a caixa de lembrança e pego uma foto nossa. Fico olhando e chorando.

Enzo aparece sem que eu perceba e quando vê a foto onde eu beijava Ray fica furioso.

- O que é isso? Agora vai me desrespeitar na minha casa também?

- Está falando do que? Pergunto sem entender ao que ele se referia.

Ele puxa a foto da minha mão.

- Essa merda vai para o lixo.

- Enzo não! Eu falo chorando.

- Devolve a minha foto, por favor.

- Enzo por favor é a última lembrança que tenho de Ray. Eu digo.

- Pois você não terá mais.

Enzo retira um esqueiro do bolso e coloca fogo na foto.

- Nããããoooo! Grito em desespero.

Tento pegar a foto, mas Enzo é maior que eu. Caiu no chão aos prantos, olhando a foto virar cinzas.

- Você é um monstro. Tirou tudo de mim.

Meu Ray, minha casa, meu dinheiro, alegria, minha vida e agora as minhas lembranças.

- Eu te odeio Enzo Ferrari.

- Você me tirou a vontade de viver. Eu digo com raiva.

- Você é minha. Me pertence Anne Ferrari.

Diz ele gritando com fúria.

Enzo vem pra cima de mim tentando me beijar, eu o empurro, viro o rosto. E como defesa chuto a sua perna esquerda próximo ao quadril.

Enzo cai no chão gritando de dor e chorando.

Me assusto. Nunca vi Enzo chorar.

Ele grita sem parar.

- Chama a Maria. Ele grita

- Aaaaaaahhhhh! Que dooorrr!!

Eu corro e chamo a Maria

- Maria? Maria? Mariaaaa.

- O que houve Sra?

- Enzo está no chão gritando de dor. Pediu para chama - la.

- Deus! Diz ela com ar de espanto.

- Estou indo.

Maria corre para o escritório e retorna com uma caixinha preta nas mãos.

- Vamos Sra!

Descemos a escada correndo.

Enzo ainda está no chão, com a mão na perna e gritando.

- Sra. ajude-me a coloca - lo na cama. Rápido!

Confesso que o meu lado mau. Me dizia para não ajuda - lo ele merecia sofrer. Depois de tudo que me fez passar.

Mas meus pais ensinaram-me a não pagar o mal com o mal e sim com o bem, com amor.

Então ajudo Maria a coloca - lo na cama.

- Sra. retire a calça dele. Diz Maria

Maria pega uma caneta como aquelas de medir glicemia.

E eu retiro a calça de Enzo o deixando de cueca.

Enquanto ele grita sem parar.

Maria abaixa a lateral direita da sua cueca próximo ao quadril e eu vejo. Enzo tem uma cicatriz de cirurgia de quase 7 cm. E Maria então aplica o conteúdo da caneta de medicação próximo à cicatriz.

Quase que instantaneamente Enzo para de gritar. E fica como se tivesse sido drogado.

Vejo Maria suspirar de alivio.

- Sra. por favor olhe ele. Logo ele estará normal.

Maria sai a andar levando a caixinha.

Eu vou atrás e pergunto.

- Maria que remédio é esse?

- Sra. Eu não sei muito bem. Só sei o que fazer quando isso acontece.

- Maria conte-me o que aconteceu com Enzo? Porque aquela cicatriz.

- A Sra. Nunca viu?

- Não Maria, nunca vi Enzo sem roupa.

Ela olha como espantada.

- Mas vocês nunca....deixa para lá. Não é dá minha conta. Boa noite! Sra.

- Maria você não me disse. O que aconteceu com ele?

- Desculpe Sra. Mas só ele pode dizer.

- Maria?

- Sra. Eu não posso falar nada sobre isso. Boa noite!

Eu retorno para lá. Enzo ainda está apagado. Sento ao seu lado no chão. E seguro a sua mão.

"O que será que aconteceu?" Me pergunto. Talvez seja por isso que ele é assim.

De repente ele dá um pulo da cama.

- Olha o que você fez!

"Merda! O que é isso. Ele ressuscita assim" eu penso.

- Está satisfeita. Descobriu o meu ponto fraco.

- Fala de mim. Mas também está a tentando me destruir.

- Vai pagar, nunca mais sairá desse buraco.

- Enzo, eu não queria lhe machucar.

Ele bate a porta, ouço ele trancar.

- Enzo não!

- Enzo!

E ele se vai.

Acordo com Maria me trazendo o café.

Estou confinada, não posso sair.

Sou prisioneira de Enzo Ferrari.

Nas demais refeições a mesma coisa.

Já esperava Enzo aparecer para brigar comigo. Mas ele não vem.

No dia seguinte Maria trás novamente o café.

- Maria?

- Sim, Sra. Anne?

- Onde está Enzo? Ele não apareceu mais.

- Sra. Ele viajou para a Itália.

- Sabe quando volta? Talvez na próxima semana. Não sei ao certo.

Faz uma semana que eu estou presa. Como um animal enjaulado.

"Sinto falta do Enzo", penso "sentir saudades de um louco. Devo estar louca também".

Já me sentia a vontade naquele lugar horrível. O cheiro não me incomodava mais. Estava adaptada a minha prisão.

"Como queria ouvir a sua voz, sentir o seu cheiro, seus lábios, seu toque", eu não deveria estar sentindo nada disso. Mas estou.

No outro dia, ouço alguém abrir a porta. Meu coração dispara deve ser Enzo.

Mas é Maria com o café.

- Bom dia! Sra.

- Maria, Enzo ainda não retornou da Itália?

- Retornou sim.

- Pediu para abrir a porta. Mas pediu para avisa - la que durante o dia a Sra. está livre para andar pela mansão. Mas quando escurecer deve retornar para cá. E pediu também para que as suas refeições permaneçam a ser servidas aqui. Não quer a Sra. ao seu lado na mesa. E não quer vê - la também. Ela diz.

- Ta bom Maria. Não irei incomodar o Sr. Ferrari. Obrigada.

Começo a tossir, Maria percebe.

- Sra. Está com uma tosse feia. Vou fazer um xarope caseiro ótimo e trazer para a Sra. logo estará melhor. Ela diz de forma gentil.

Eu agradeço com um sorriso. No dia seguinte sinto-me cansada. A tosse não passa. Não tenho fome, não tenho animo. Fico apenas deitada.

Tento engolir a comida, mas ela não desce.

Então bebo apenas alguns golos de água.

Para não ter mais brigas e Enzo não vir gritar comigo, a comida que eu não como, jogo no lixo do banheiro. Assim ninguém percebe.

Mesmo podendo sair, não tenho vontade e por cerca de uns 20 dias, não saiu do meu quarto.

E nesse período Enzo também não aparece.

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ENZO:

- Maria? Enzo pergunta.

- Sim, Sr?

- Anne não saiu daquele quarto? Pergunta ele.

- Não Sr. A comida tem sido servida lá como pediu. Perguntei se ela não queria sair e tomar um sol. Disse estar cansada.

- Ela é muito cabeça dura. Deve estar com mais um dos seus dramas. Eu digo.

- Mas vou lá resolver isso.

- Sr. Enzinho eu o conheçk. O Sr. Gosta dela, só não sabe o que fazer. Não faça nenhum mal, ela já sofreu demais. E ela é uma boa pessoa. Maria diz.

Sigo para o porão. Abro a porta com força querendo assusta - la. Mas eu não se mexe. Está deitada coberta.

- Anne vamos parar de palhaçada. Eu digo.

- Levanta dessa cama. Eu digo.

Mas ela não diz nenhuma palavra e nem se mexe.

- Anne Ferrari eu estou mandando.

Tudo permanece igual.

- A minha paciência acabou. Eu digo com grosseria.

Quanto coloco as mãos em Anne percebo que ela queima de febre, e percebo também que ela emagreceu e respira com dificuldade.

- Maria?

- Maria? Eu grito

Maria chega correndo.

- O que houve Sr? Ela diz.

- Maria, Anne não está bem. Como não viu isso? Ela queima de febre, está pálida e muito fraca.

- Encha a banheira com água morna. Precisamos baixar essa febre. Ele diz.

Maria segue para o banheiro.

- Ah! meu Deus! Maria grita.

- O que foi Maria! Eu pergunto.

- Sr ela não tem comido. A comida está toda aqui no lixo. Ela esconde.

Eu tiro a sua roupa. A pego no colo e coloco na água. Seu corpo doí, ela reclama e começa a tremer.

- Aaaaaaahhhhh. Ela resmunda sem nem abrir os olhos.

- Maria ligue para o Dr. Paulo peça para vir urgente. Eu digo e ela corre.

Eu a deito na banheira e a molho, depois a retiro, enxugo e a visto com uma camisola.

Logo o Dr Paulo chega.

- Vim o mais rápido que pude. Ele diz ao entrar.

- Dr ela não está bem. Eu digo preocupado.

- Deixe - me examina - lá. Ele diz.

- Sr. Enzo ela está com 40° de febre isso é muito alto. Respira com esforço e pela escuta os seus pulmões não estão bem. Recomendo levar com urgência para o hospital, ela precisa ser internada. Pode ser pneumonia grave.

- Vou chamar a ambulância. Explica o Dr.

Eu a acompanho na ambulância segurando a sua mão.

No hospital os exames são realizados. E o Dr Paulo me chama de canto.

- Sr Enzo sabe que trabalho para sua família a anos. E sempre hajo com a verdade. A sua esposa está com pneumonia grave, e corre risco de vida. Ela está fraca, desnutrida e desidratada.

Ela vai precisar de muitos dias para se recuperar e os remédios fazerem efeito.

- Sr Enzo, Anne tem sinais claros de maus tratos e abandono.

- É mentira Dr. Eu digo retrucando.

- Sr. Enzo ela tem marcas de agressão nas costas. Tem marcas no pescoço como de sufocamento e nos pulsos. E estava em um local totalmente inapropriado. Eu não posso fingir não ver. Preciso reportar o caso a polícia.

- Dr espere. Não faça isso. Eu digo.

- Sr. Enzo não posso fazer isso. Ou perco o direito de exercer a profissão.

- Dr. Eu te entendo. Mas te peço, me dê mais um dia. Amanhã cedo, pode fazer a denúncia. Assim o Sr se dedica totalmente a minha esposa e eu posso acompanhar - la. Eu digo.

- Tudo bem. Mas cedinho envio as informações a delegacia.

- Eu agradeço Dr. Eu digo

Enzo vai em direção ao carro. Pega o telefone e faz uma ligação.

— Márcia ligue para Roberto o empreiteiro. Diga que preciso de uma reforma urgente no meu porão para hoje. Ele precisa terminar hoje antes de o pôr do sol. Pague o valor que ele quiser. Mas precisa ser feito.

Ligue também para Tânia decoradora. Peça para decorar o quarto e banheiro para hoje.

Fui claro? Obrigada e encerra a ligação.

Enzo faz outra ligação.

- Maria, o Roberto irá fazer uma reforma em todo o porão hoje. E Tânia vai decorar.

Pegue todas as coisas do quarto de cima que era de Anne e passe para o meu quarto. Precisa parecer que ela sempre dormiu comigo. E o quarto dela como de visitas.

- Mas Sr. porque tudo isso? Pergunta Maria

- Maria serei acusado amanhã cedo de maus tratos e abandono. Sei que o delegado vai ir à mansão para verificar se o Dr. falou a verdade sobre o lugar onde Anne estava.

E se ele vir agora, serei culpado. E Anne por não ter ninguém será levada para um abrigo de vítimas de violência. Terá outro nome e nunca mais vou encontrar - la.

Maria eu errei. Mas não posso perder a minha Anne e nem permitir que ela viva em um abrigo pelo resto da vida. Eu devo isso a ela. Digo com tristeza.

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