Segunda Chance

Bianca

Dante não fala comigo há dias, chegando em casa depois que eu já tinha ido para a cama e saindo antes que eu acordasse. Eu parei de chorar depois de quatro dias, mas meu coração ainda está despedaçado.

Ele para na porta, debruçando sobre o batente e olha para mim, estremeço e ajeito a coluna, desencostando da cabeceira, sinto uma ansiedade crescente no meu peito e minha visão fica turva.

- Posso entrar?

Concordo.

Dante anda calmamente até a cama e senta na lateral, evitando olhar para mim. Me pergunto se é nesse momento que ele vai dizer que tudo acabou, que vai pegar suas coisas e sair ou pior, que eu devo deixar o apartamento.

Automaticamente começo a pensar em todos os lugares que eu poderia ir e logo depois penso em Samuel vivendo em um quarto de hotel.

- Me desculpe\, Bianca.

Olho para Dante, surpresa com suas palavras e mais ainda com a calma e pesar em sua voz.

- Pelo que? – minha voz saí baixa\, mas é o suficiente para que ele ouça.

- Ter magoado você\, você merece algo melhor.

- Está falando sobre...

- A traição. Eu fui fraco e acabei caindo na tentação\, Melissa é uma mulher persistente e você sabe como eu posso ser convencido.

- Ela te seduziu?

Eu me considero uma mulher inteligente, sei que ele não escorregou e caiu dentro dela, assim como sei que Melissa não teria forças para obrigá-lo, tampouco parece ser uma hipnologia. Mas nesse momento, eu só quero que tudo acabe e que minha vida volte ao normal, então aceito sua desculpa.

- Eu não queria admitir porque me faz parecer fraco. Mas perder você me fez ver que tudo não passou de uma ilusão.

- Você não me perdeu\, Dante. Eu ainda estou aqui. Só não sei como te perdoar.

- Eu vou mostrar a você que eu mudei.

- Só não traia outra vez.

Meus olhos se enchem d’agua. Odeio ser aquela que perdoa uma traição, mas odeio ainda mais ser a que perdoa ser tratada da forma que ele me tratou, mas não quero que ele lembre que eu perdi o valor quando ganhei alguns quilos, então não todo no assunto.

Dante olha para mim e aperta os lábios finos entre os dentes.

- Desculpe.

- As coisas vão ser diferentes?

- Vão sim\, eu prometo.

Tenho esperança que ele entenda o que quero dizer e peço um abraço, ele abre os braços e deito meu rosto na curva do seu pescoço, aos soluços enquanto ele está esfregando minhas costas, levanto o rosto e o beijo, é um beijo breve e não tem emoção, mas é um beijo que se transforma em outro, desço a mão pelo seu peito e abdômen e ele a segura.

- Ainda não estou pronto para isso.

- Podemos fazer as pazes assim.

- Não gosto disso\, Bianca. Você sabe.

Não existe motivo para duas pessoas que se amam não transar depois de fazer as pazes, isso eu tenho certeza, mas aceito. Vou conquistar meu marido de volta de um jeito ou de outro e isso é questão de tempo.

Mas pensar em Melissa se oferecendo a ele toda vez que tem uma reunião de condomínio ou quando se encontram nos corredores faz meu estomago revirar.

Somos surpreendidos por uma batida na porta, e nos olhamos alarmados.

- Está esperando alguém? – Dante pergunta\, mesmo sabendo a resposta.

- Não\, e você?

Ele se levanta e caminha para a porta, eu o acompanho, mas quando ele abre eu estou fora de vista. Ainda posso ver a expressão de Dante, indo de confusão para raiva.

- O que você quer?

- Com você nada – reconheço a voz de Samuel e estremeço\, minhas pernas viram gelatina e me apoio na aparador – quero falar com a Bianca.

- E posso saber o que quer com a minha mulher?

Posso sentir a energia violenta que emana da junção deles dois e não sei porque Dante está tão furioso até ouvir a próxima frase de Samuel.

- Se eu disser que é o mesmo que você quis com a minha?

Sinto meus olhos se arregalarem por conta própria até doerem, minhas mãos estão suando frio e tremendo. Não entendo por que ele diria algo assim.

Dante olha para mim e estou negando com a cabeça, ele sorri falso e retorna seu rosto para frente.

- É melhor você ir embora.

- Depois de falar com a Bianca – Samuel é firme em suas palavras.

Dante dá um passo atrás e abre a porta totalmente, me deixando bem na frente da visão de Samuel, nossos olhares se cruzam e percebo o queixo dele tremer, me dou conta que estou vestindo uma camisola decotada de seda vermelha e curta, parece sexual.

De repente, quero dizer a ele que não é o que ele está pensando, mas não entendo por quê.

- Vai ficar com ele? – Samuel engole a última palavra\, seu peito está subindo e descendo com força\, vejo um urso\, um tigre\, um predador feroz. Não respondo porque sei que basta um movimento para ele explodir.

Dante não tem o mesmo cuidado.

- O que a minha esposa...

A frase é cortada por um golpe de punho fechado que atinge o queixo de Dante. Eu grito, mas não me aproximo, leva um segundo para que eles estejam se agarrando como dois animais. Corro para o interfone e ligo para a portaria pedindo ajuda, aos prantos, mas o porteiro me entende e manda a segurança.

- Solta ele – Grito quando olho outra vez e vejo Samuel segurando Dante pelo colarinho e acertando o rosto dele diversas vezes. Seguro o braço grande de Samuel\, eu não tenho força para  pará-lo\, mas imploro – por favor\, não faça isso.

Ele para com o punho fechado no alto, sua expressão me enche de medo, mas ele olha para mim e aos poucos solta Dante que se arrasta para longe. Samuel ainda está me encarando quando o som do elevador chegando ao andar é ouvido e os seguranças saem.

- Não faz isso com você – sua voz agora é baixa e sem emoção.

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