Capítulo 13

~ Hanna ~

Após uns minutos, uma senhora muito gentil me trouxe uma tigela de sopa e algumas torradas, com calma, comi tudo e me senti saciada.

Porém, logo após, as lembranças vieram como um sono em meu estômago, estou na mansão de um multimilionário, me alimentando bem enquanto meu pai está por aí, perambulando por qualquer lugar, sem dinheiro, provavelmente com fome e medo de ser morto. Não importa quantas vezes tenha sido irresponsável e imprudente, eu ainda o amo e ele é minha única família.

As lágrimas insistem em cair, me sentia sufocada dentro desse quarto enorme, porém, não queria sair pois teria a grande possibilidade de encontrar com Bruno e não estava afim de falar com ninguém nesse momento de fragilidade emocional.

Saio até a sacada, abro as cortinas e vejo que já é noite, perdi a noção de quanto tempo eu dormi. Lá fora estava frio e ventando muito, mas preferi me sentar na sacada e observar o céu estrelado, pedindo a minha mãe, onde quer que ela estivesse, sabedoria para lidar com toda essa situação, enquanto as lágrimas lavam todas as minhas mágoas.

~ Bruno ~

No meio tempo em que deixei Hanna em casa, sai até a empresa para resolver alguns assuntos. Mesmo atarefado, contava os minutos para retornar até minha casa e ver como Hanna estava, se havia se alimentando e tomado os remédios adequadamente.

Sinceramente, nos últimos dias não me reconheço, com essas novas atitudes que nunca partiram de mim em relação a outra pessoa. Fiz uma anotação mental que Hanna ficaria em minha casa somente enquanto recupera sua saúde, não é um bom sinal manter alguém que conheço tão pouco, próximo a minha vida pessoal.

Volta para casa com esse pensamento em mente, entro, subo as escadas em direção ao quarto de Hanna, bato na porta e não obtenho resposta, talvez ela estivesse dormindo novamente. Então abro cuidadosamente a porta e adento o local, para minha surpresa, ela não estava, não a vi deitada, então retornei, procurando pelos outros cômodos da casa. A noite estava fria e em breve cairia uma chuva daquelas.

Resolvo procurar novamente pelo quarto, até que percebo a porta da sacada aberta, caminho lentamente até o local e avisto Hanna sentada no chão, abraçando os joelhos e chorando em silêncio. Apenas ouvia seus soluços abafados.

Bruno: Hanna? - me abaixo até ela.

Hanna levanta o olhar inchado e vermelho, repleto de lágrimas e o encara em silêncio apenas suspirando.

Em um impulso irracional, abracei Hanna com força, como se esse gesto apagasse todo e qualquer sofrimento que estivesse passando. Após alguns minutos naquela posição, me afasto um pouco e digo calmamente.

Bruno: Vamos para dentro, aqui está muito frio. Precisamos conversar.

Hanna e Bruno levantam juntos e caminham até o quarto, fechando a porta que dava acesso a sacada de modo que impedisse a entrada do frio no local. Ambos sentam na cama, um de frente para o outro.

Bruno: Olha, eu quê ajudar você, mas antes, preciso entender o que te aconteceu.

Ouvindo essas palavras, Hanna ficou um tempo em silêncio pensando. Logo após contou tudo a Bruno, desde a morte de sua mãe, faculdade, o alcoolismo e vícios em apostas de seu pai e por último a carta e sua saída repentina de casa. Bruno ouve tudo em silêncio, quando Hanna terminou de contar sua história, ele foi até o frigobar que ficava no quarto e pegou uma água para os dois.

Bruno: Sua história é realmente muito complexa, agora entendo o porquê de estar tão abatida. Eu também já vivi uma situação parecida com a sua, fui um garoto órfão e por anos morei na rua, passando por inúmeras dificuldades. Até que um dia, encontrei com Otto Azevish e ele foi o responsável pela virada de chave da minha vida, devo tudo que tenho hoje a ele.

Bruno: Me escute, durante o pouco tempo em que você trabalhou na empresa, me ajudou bastante, vejo potencial na sua pessoa. Acredito que ainda não sabe, mas seu trabalho foi muito bem avaliado e está sendo procurada por pessoas do ramo para realizar o mesmo feito. No entanto, antes de ouvir a proposta de terceiros, gostaria que ouvisse a minha de antemão.

Gostaria de contratá-la para compor a minha equipe de marketing.

Hanna: Mas Bruno, eu nem me formei ainda, provavelmente não sou a pessoa mais qualificada para o cargo.

Bruno: Seu trabalho demonstra o contrário, você é a pessoa perfeita para compor a vaga. Me diz aí, aceita? - diz estendendo a mão.

Hanna: Humm, sim! - Aperta de volta.

Bruno: Antes que me pergunte, gostaria que ficasse em minha casa durante alguns meses, até se recuperar e para que eu te ensine o necessário para exercer sua função na empresa.

Hanna: Fico com receio de incomodá-lo... - diz com as bochechas ruborizadas.

Bruno: Deixa disso, são apenas negócios. Nossa prestação um para com o outro é mútua. kkk

Bruno e Hanna conversaram por mais um tempo, até a funcionária avisar com o jantar estava pronto. Os dois então descem até a sala de jantar e sentam na mesa que estava repleta de comidas deliciosas.

Após o jantar, os dois se desordem com um "boa noite" e vão para seus respectivos quartos. Hanna não deixou de reparar que o quarto de Bruno ficava ao lado do seu.

Naquela noite ela demorou para pegar no sono, por um lado estava feliz por alguém ter visto ela e oferecido a oportunidade que provavelmente mudaria sua vida e por outro lado, estava triste, pois não tinha seu pai para compartilhar a novidade, mas ela não desistiria dele tão fácil assim. Iria até o fim do mundo para encontrá-lo e oferecer uma vida melhor.

~ Bruno ~

Ainda deitado em minha cama, olhando para o teto, quando fecho os olhos, posso sentir o cheiro de Hanna que ficou em mim após abraçá-la.

Temos que as coisas saiam do controle, temo por minha empresa, pelo legado de Otto.

Não sei o que fiz quando coloquei uma estranha dentro de casa, que desperta curiosos sentimentos em mim.

Pego no sono com seu doce cheiro colado em meu corpo.

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