Capítulo 19

Ulisses travou o maxilar e a olhou por alguns segundos, ainda tinha suas dúvidas se ela não estava mesmo querendo nada de dinheiro.

— Então qual é o seu plano? — ainda permaneceu de frente para ela.

— Primeiro me responda, se for comprovada a sua paternidade, você planeja levar a Zoe embora?

Thayná queria ter certeza da resposta dele, assim saberia como agir. Se ele dissesse que não, então não precisaria falar nada sobre o casamento, mas se a resposta fosse o oposto, teria que arriscar naquela oferta.

— Se ela é minha filha, como você diz. Natural que eu assuma a paternidade e a leve para morar comigo.

 A resposta que ela temia, foi a que ela ouviu da boca de Ulisses e como percebeu que o homem era bem desconfiado, imaginava que poderia, sim, querer afastar Zoe dela. Thayná reuniu toda a sua coragem para fazer aquela proposta para Ulisses, mesmo sabendo que ainda corria o risco de ele recusar.

 — Então posso deduzir que você também iria acabar me afastando da Zoe, e restringindo as minhas visitas, estou certa?

Ulisses, tinha que admitir, que realmente pensou naquela ideia, como não a conhecia, não sabia se ela estava apenas se fazendo de boa samaritana e no final, acabasse querendo usar o plano original de alguma forma, mesmo não sendo a mãe biológica da menina.

— Se eu perceber que de alguma forma você seria um mau exemplo para ela, ou que fosse a prejudicar, esse seria o mais lógico a se fazer. Além disso, quando eu me casar, a minha esposa pode fazer o seu papel.

Thayná estava apertando tanto os seus dentes, que achou que fossem quebrar. A sua vontade naquele momento era dar um soco na cara de Ulisses, além de dizer umas boas verdades e deixar escapar seus melhores xingamentos, mas precisava se conter e tentar manter a calma, mas ficou indignada, por ele dizer que outra mulher faria o seu papel com Zoe.

— Nesse caso tenho uma proposta, um acordo, como você quiser chamar, para te fazer.

Ulisses ouviu o que ela disse e se sentou, antes de dizer para ela continuar.

— Já que mencionou casamento, seria nesse sentido a minha proposta. Sei que seu pai quer que você se case e você não tem uma noiva.

— Isso é algo particular, não tenho por que falar com você sobre isso, ou você está se candidatando? — sorriu se divertindo.

— Exatamente — respondeu e observou sua reação.

Ulisses parou de sorrir e olhou sério para ela, Thayná amava tirar aquele sorriso do rosto dele e foi a vez de ela deixar um sorriso no rosto.

— Você deve estar brincando! Você não faz meu tipo, então não tem a mínima possibilidade de que eu passe a gostar de você.

— Eu não falei nada sobre gostar. Olha, você também não me interessa como homem, então serei mais clara. Podemos fazer um acordo de um casamento falso, seu pai fica feliz porque o filhinho se casou, e já ganhará a neta de brinde. Como eu já percebi que você acha que tudo envolve dinheiro, você pode fazer um contrato, nós nos casamos com separação de bens, quando você encontrar alguém que você ame, nós nos divorciamos, mas a minha exigência seria apenas uma.

— Estou ouvindo — falou de uma forma seca.

— Se você aceitar, quando nos divorciarmos, eu posso continuar vendo a Zoe, mesmo que não seja na sua casa. Acompanhei desde a gestação até o nascimento dessa menina, não é justo você me deixar longe dela.

Ulisses ficou pensativo por um tempo, se levantou e andou pelo escritório, pensando e ponderando o que ela disse, se lembrou do que seu amigo disse no clube, e aquela poderia mesmo ser uma solução. Ele se aproximou de seu assistente o puxando um pouco mais para o lado, enquanto Thayná parecia impaciente.

— Você acha que isso pode funcionar?

— Acho que sim, senhor. Pense, ela diz que não gosta do senhor, não quer dinheiro, apenas quer ficar perto da menina, o senhor sairá na vantagem, seu pai ficará feliz e não vai te pressionar. Como ela disse, quando o senhor se apaixonar, vocês dizem que não dá mais e se separam, seu pai não pode te culpar.

Ulisses voltou a olhar para ela, que estava sentada em sua mesa, achava que ela era bem abusada, mas poderia conseguir domar aquele jeito selvagem e mudar como ela se comportava, se conseguissem entrar em um bom acordo, é claro.

— Thayná, é o seu nome, certo? Vamos por partes, primeiro farei o teste de DNA, se der positivo como você diz e como a carta descreve, então vamos nos sentar e conversar melhor sobre isso, mas por agora, onde está a menina?

— Ela está no hospital.

— Hospital? — fez uma expressão de preocupação.

O assistente de Ulisses, que estava ao lado, empurrou os óculos um pouco mais, achando interessante como ele parecia preocupado e nem sabia se a menina era mesmo filha dele, e achou aquele fato peculiar.

— Sim, ele passou por um quadro de pneumonia, mas já está melhor. Como ela já está no hospital, isso facilitará para você. Para que você não diga que adulterei a amostra, já que parece que você é bem desconfiado, pode escolher o laboratório e até mandar uma escolta levar o sangue até o local de testes, assim você não fica com dúvidas em relação ao resultado.

— Pode ter certeza de que era isso que eu iria fazer. Vou providenciar o laboratório e te aviso — estendeu seu celular para ela — Aqui, coloque seu número, assim podemos entrar em contato.

Thayná pegou o celular, que estava desbloqueado e anotou seu número, em seguida ligou em seu celular, o número dele apareceu e ela desligou.

— Aqui — devolveu a ele — Acho que consegui resolver parte dessa situação, vou voltar para o hospital agora, e quero que saiba senhor Ulisses, se não aparecer e fazer o teste, eu volto para te atormentar, como um fantasma ressentido — deu um sorriso e piscou para ele.

Ela apenas virou as costas e saiu, deixando Ulisses bufando na sala.

— Ela já parece uma alma penada, como poderia me assombrar ainda mais? — suspirou voltando para sua mesa.

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