Capítulo 10

Saímos da escola e ficamos conversando no portão de entrada. Mas logo o motorista da Sara veio buscá-la e eu segui pro ponto de ônibus, enquanto Bia foi em direção à estação do metrô.

Eu conheço minhas amigas desde que comecei a estudar no Educandário Castilho, no primeiro ano do ensino médio. Nós nos aproximamos no primeiro dia de aula e não desgrudamos mais uma da outra. Somos o trio mais maluquinho.

Bianca é a mais falante, Sara a mais apimentada e eu, bom, eu sou a nerd! E, como elas dizem, a única com juízo do grupo.

Elas são minhas BFF. Se bem que agora temos a mascotinha do grupo, a Clarinha. Olho a pulseirinha no meu braço e sorrio, lembrando da alegria da pequena quando a visitamos ontem e fizemos essas pulseiras.

Sara não gosta de hospital, tadinha, tem pavor até do cheiro. Ela perdeu o avô há uns anos e ficou com trauma porque ele passou muito tempo internado. Por isso, eu e Bianca que vamos visitar nossa pequena amiga.

Desço do ônibus e caminho até em casa, e assim que entro, dou um beijo na testa da minha mãe, que estava saindo.

- O que houve, meu amor? - ela pergunta. - Você parece preocupada.

Dou um longo suspiro desanimado.

- Mãe, como a gente sabe que gosta de alguém? - ela me olha e ergue a sobrancelha.

- Por um acaso, esse alguém, seria um certo rapaz que acidentalmente estragou seu livro e não sai dos seus pensamentos?

Eu a encaro, surpresa.

- Como a senhora sabe? Quero dizem...eu não...

- Filha, eu sou sua mãe e te conheço o suficiente pra saber que, se não tivesse rolando nada nessa cabecinha e nesse coraçãozinho, você não ficaria admirando a foto do rapaz no telefone, como fez ontem à noite.

- Mãe! Eu não estava admirando..- nego, mas na verdade eu estava sim.

- Ok, se você prefere negar, tudo bem. - ela dá de ombros e faz menção de sair.

- Mãe, espera! - eu seguro sua mão e ela sorri e me abraça.

- Eu não ia sair, sua boba! - ela me puxa até o sofá e senta ao meu lado. - Eu só quero que você admita o que está sentindo e se abra comigo, assim nós podemos entender melhor o que está se passando nesse coração confuso, meu amor.

Então nós conversamos e eu conto tudo, até as sensações que senti quando o Guilherme tocou meu braço na primeira vez, a forma como meu coração acelerou hoje quando eu estava nos braços dele e como eu quis que ele me beijasse, mesmo estando assustada.

Minha mãe me ouviu com atenção, sem me interromper,.

- E, antes do sinal tocar, ele me disse que não queria perder contato comigo, porque não conseguiria ficar longe de mim. - eu disse, torcendo a boca. - O que isso significa?

- Pra mim, isso significa que tanto ele quanto você, sentiram uma conexão forte um com o outro...

- Mas mãe, o Guilherme já é um homem feito, ele me disse que é médico, já tem até uma carreira e deve ter tido várias namoradas ou ficado com um monte de mulheres e eu...- suspiro. - Eu sou só uma menina tímida, que ainda está na escola e que nem beijar sabe..

- E desde quando as pessoas nascem sabendo das coisas, meu bem? - ela afaga meus cabelos, como carinho. - Esse rapaz passou pelas mesmas etapas que você, ou você acha que ele já foi direto pra faculdade sem passar pela escola? - eu aceno, negando. - Todos nós passamos por experiências ao longo da vida, minha filha e isso contribui pra nosso amadurecimento. Você ainda é muito jovem, mal começou a viver, então não se cobre tanto por ser inexperiente ou mais tímida que as outras. Seu jeitinho é o que te torna única e especial. - ela respira fundo, e continua. - Seu coração está confuso porque todos esses sentimentos são novidade e vieram feito um tsunami, bagunçado tudo. Mas eu acho que você precisa dar um tempo a si mesma e deixar tudo isso se acertar dentro de você. Deixe passar uns dias, deixe esfriar e aquietar as coisas, tente se distrair, se envolver com outros assuntos. E aí, se essa necessidade, essa vontade de estar junto do Guilherme for mais forte e não se for com o tempo, então meu bem, vá atrás do seu primeiro amor e viva ele, sem se preocupar com diferenças e sim, procurando afinidades e coisas que os aproxime e não que os afaste.

- Mas e se ele não quiser mais contato comigo depois desse tempo? - eu sinto meu coração ficar pequeno, apertado.

- Se ele não quiser, significa que não era tão forte da parte dele. E vai doer, meu bem.- ela segura minha mão entre as dela. - Mas eu vou estar aqui e te ajudar a curar sua primeira decepção. Porque eu te amo demais pra deixar você se meter numa relação com uma pessoa que não te valorize e nem saiba esperar por você. Você é meu maior amor e sempre vai ser.

Eu abraço minha mãezinha e choro naquele colo tão carinhoso e que sempre me trouxe tanta paz.

- Mas porquê minha princesinha está chorando? - meu pai aparece, literalmente do nada, me fazendo secar o rosto rapidamente.- Não adianta esconder, eu vi...- ele me olha, com aquela cara de quem pegou o filho no flagra.

- Não é nada, Pablo. - minha mãe o encara.- São coisas de mãe e filha.

Ele nos olha, desconfiado.

- Ok, mas se eu descobrir que algum galalau fez minha menininha chorar...- lá estava o tom ameaçador típico do Sr. Pablo Dutra.

- Querido, já chega! - minha mãe diz, se levantando do sofá. - Nossa filha precisa de distração, então que tal você aproveitar que chegou mais cedo hoje e levar nossa princesa pra dar uma volta? Uma tarde de pai e filha? - ela sorri, muito animada por sinal.

- E que tal irmos nós três? - meu pai abraça minha mãe, beijando seu ombro, como ele sempre faz.

- Ah, meu bem, infelizmente hoje não posso. Tenho uma coloração e uma progressiva marcadas pra daqui a pouco. - ela olha o relógio em seu pulso. - Inclusive já estou atrasada. Dona Maria sempre chega no horário e se eu não abrir o salão, daqui a pouco ela está aqui na porta gritando. - ela sorri, divertida.

Meu pai revira os olhos e recebe um selinho da minha mãe, que o abraça em seguida, fazendo ele desmanchar a carranca e sorrir levemente… é lindo o amor deles.

Minha mãe me dá um beijo e sai, deixando eu e meu pai num clima meio estranho.

Ele senta no sofá ao meu lado e me puxa pra um abraço, me apertando contra seu peito.

Pensa num homem grande, forte, com uma postura que assusta e uma voz de Trovão...esse é o meu pai. Mulato, olhos castanhos claro, cabelos sempre bem curtinhos, sobrancelha e lábios grossos, 1,92 de altura, muitos, mas muitos músculos, tipo, o braço do meu pai parece uma tora de madeira. E pra completar, uma carranca capaz de espantar até o mais corajoso dos cidadãos. Mas não se engane, porque esse grandão tem o coração mais generoso que eu conheço e isso eu puxei dele, com certeza. Apesar de que, dona Isadora Dutra, minha mãezinha linda, é a bondade em pessoa.

Minha mãe é branquinha, tem os cabelos claros, lisos, cortados no estilo chanel. Olhos cor de mel, lábios finos e rosados, e um corpo incrível. Se¡os grandes, cintura fina, quadril largo, bundão e coxão. Minhas amigas dizem que eu saí com a parte boa dos dois. Puxei o corpo da minha mãe, cabelos do meu pai, e a cor da pele foi a mistura dos dois... aí resultou nessa belezinha que sou eu! kkk

- Filha...

- Hum...- resmungo. - Não vou sair desse abraço, se é o que está pensando. - falo, me aconchegando mais no peito dele, fazendo biquinho.

Ele sorri daquele jeito tão carinhoso que sempre teve comigo.

- Mas como você vai se arrumar se ficar aqui grudada em mim feito um chiclete, minha princesa?

- Aff...- solto ele, bufando. - Eu vou, mas eu volto e quero outro abraço. - falo e dou um beijo no rosto dele, que está com a barba maior ultimamente. - Deixando a barba crescer, Sr. Dutra? - ergo a sobrancelha, sorrindo de lado.

- É...- ele sorri, meio sem graça. - Sua mãe pediu...Sabe ..

- Uhum..sei bem..- eu sorrio e meneio a cabeça. - Vou me arrumar...garotão!

Eu falo e vejo ele ficar todo sem graça.

- Vai logo se arrumar, menina! - ele finge estar bravo, mas eu seu que está só me dando um motivo pra sair e não vê-lo todo corado.

Ah, paizinho...

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Comments

Professora Graça de Língua Portuguesa e Filosofia

Professora Graça de Língua Portuguesa e Filosofia

Que linda essa relação dos pais e a filha. O diálogo é tão importante! Parabéns, autora. Amando esse enredo...

2024-05-10

1

Josanice Barbosa Vanderlei

Josanice Barbosa Vanderlei

Que lindo, gostei de vê a Duda conversando com a mãe 👏👏👏👏🌹🌹🌹🌹🌹

2024-04-30

5

Mila Pontes

Mila Pontes

coloca foto dos personagens autora

2024-04-30

0

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