Capítulo 4

Guilherme

O dia passou lento, como se estivesse se arrastando. Eu tive alguns pacientes que foram operados ontem, então só passei mesmo a visita do pós operatório.

- Dr. Guilherme? - minha supervisora me chama.

- Sim, Dra. Carla.

- Por hoje é só. Você já pode ir.

- Ok. Então até amanhã e, obrigada, doutora.

- Não me agradeça. Você só chegou até aqui por merecimento e competência. - ela toca meu ombro. - Você vai longe, meu rapaz. Continue se esforçando e não perca o foco.

Eu aceno em agradecimento e ela sai da sala de descanso médico.

Me jogo na cadeira e, finalmente, consigo relaxar um pouco.

Apesar de ser um dia tranquilo, toda a pressão de ser o queridinho da cardiologista chefe do hospital é uma responsabilidade muito grande, e nem vou falar das piadinhas de mal gosto que escuto pelos corredores.

Dra. Carla é uma médica de 58 anos, cirurgiã cardiovascular, extremamente competente, premiada diversas vezes por suas pesquisas inovadoras e sua contribuição para o desenvolvimento de novas técnicas para tratar doenças cardiovasculares. Ela é referência no Brasil e já ministrou palestras em diversos países da Europa. A mulher tem pós graduação, mestrado, doutorado.

Eu, como futuro cardiologista, tenho o privilégio de tê-la como minha supervisora, mas sempre tem os invejosos de plantão, né!?

Dou um longo suspiro, e meus pensamentos viajam até o que me aconteceu hoje pela manhã.

Eu passei o dia todo sem conseguir tirar aquela garota da minha cabeça. Apesar de ser bem esquentadinha, eu não posso e nem vou negar, ela é uma morena linda!

Aqueles olhos cor de chocolate, o rostinho com traços delicados, o narizinho arrebitado, a boca linda, aquele cabelão cacheado e comprido. Tudo naquela menina me chamou a atenção, mas o olhar...

- Guilherme, Guilherme. Toma jeito, sujeito! - eu me repreendendo.

Afinal, não posso e nem devo, ficar pensando numa garota que ainda está no colegial, e ainda deve ser menor de idade. Eu não posso me envolver em problemas.

Mas...bom, eu mesmo sem querer, estraguei o livro dela, então nada mais justo que eu comprar outro. Mas como eu vou fazer isso, se eu estava tão distraído admirando a beleza da irritadinha, que nem sei qual livro era? Eu sou um idiota mesmo.

Resolvo ir pra casa. O plantão já acabou e eu necessito de um banho.

Pego minhas coisas e saio do hospital. Por hoje chega!

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- Filho, como foi lá na residência? - meu pai me pergunta, durante o jantar.

- Tranquilo, pai. A dra. Carla é muito inteligente e eu tenho aprendido demais com ela. - tomo um gole do meu suco. - Semana que vem já vou atender no meu próprio consultório.

-Nossa, que bom meu filho. Fico tão feliz de ver você conquistando seu sonho. Você é o meu orgulho, meu garoto!

- Obrigado, pai. Eu sou o que sou graças ao senhor.

Eu e meu pai temos uma ligação muito forte e verdadeira. E somos os maiores incentivadores um do outro. Se um está feliz, o outro também fica, e assim nós seguimos.

- Mas parece que tem alguma coisa te preocupando...

- Aconteceu uma parada meio chata hoje de manhã..- eu conto pro meu pai tudo sobre o meu pequeno "acidente "com a tal morena brava.

- Bom, filho, mesmo sem querer, a culpa foi sua. - ele fala, calmo como sempre. - Então nada mais justo do que você comprar outro livro pra moça.

- Mas eu ofereci pai, só que ela falou pra deixar pra lá, entrou num ônibus e foi embora. Eu não sei como eu vou pagar o prejuízo dela, se eu não sei nada sobre a garota.

- Mas você sabe onde ela estuda, e em que horário...- ela fala, como se fosse óbvio. - Então o que te impede de ir até lá amanhã de manhã e resolver esse assunto?

Bom, pensando desse jeito, ele tem razão. Eu posso ir.

- É, mas e se ela vier toda nervosinha pra cima de mim? O senhor não viu, a garota parece um onça brava!

- Você, um homem feito, com barba na cara e 24 anos nas costas, com medo de uma menininha que você mesmo disse, não deve ter mais que 1,60 de altura e está no colegial? - ele ri. - Que decepção, meu filho.

Meu pai dá risada da minha cara de irritado.

- Tá bom, eu vou. - falo, resignado. - Mas se ela me atacar, a culpa é do senhor!

Eu vou lá, mesmo correndo riscos, mas eu vou.

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