Capítulo 20

Depois de passar por vários exames e ter que tomar medicação intra venosa pra aliviar a dor, eu fui liberada, com um belíssimo gesso no pé e um atestado de 15 dias de afastamento da escola.

Resumindo, serão 15 longos dias de repouso, sem apoiar o pé e sem nem pensar em subir escadas, o que seria molezinha, se eu não morasse num SO.BRA.DO.

Quase ri na cara do médico quando ele falou sobre as escadas, mas meu pai me lançou um olhar contrariado, que me fez baixar a cabeça e ficar quietinha. Ele conhece bem a língua afiada da própria filha...

- Serão só alguns dias, minha filha. - mamãe me confortou. - E você terá tempo para maratonar suas séries esquisitas de lobisomens.

- Não são esquisitas, mãe! - revirei os olhos.- Teen Wolf é uma das séries mais famosas quando se trata desse universo de lobisomens e criaturas sobrenaturais.

Ok, eu sou fã dessa série. Eu, Bianca e Sara já zeramos a série e agora estamos assistindo tudo novamente.

- E ainda tem aqueles filmes estranhos, querida. - meu pai faz uma careta, enquanto empurra a cadeira de rodas em direção ao nosso carro.- É o tal de Cremusgo..

- É Crepúsculo, pai!! - bufo, chateada. - Vocês realmente não entendem sobre clássicos.

- Amor, eu sei que posso estar sendo meio chato, mas eu não considero séries sobre lobisomens e filmes sobre vampiros, como sendo clássicos.

Ótimo, até meu namorado está contra mim e meus programas favoritos?! Esse mundo está perdido, meu povo.

Meus pais fazem umas caras engraçadas, do tipo, eu não disse?? ou Nós não somos os únicos...Aff!

-Ok, gosto não se discute e é igual umbigo, cada um tem o seu! - finalizo a conversa.

- Ok, minha emburradinha linda. - Guilherme beija minha testa. - Eu passo na sua casa hoje a noite, quando sair do meu plantão, e até lá, por favor se comporte e não apoie esse pé no chão de jeito nenhum, ouviu?

Eu tive que rir do jeito dele. Acho que ele pensa que eu sou uma criança de 10 anos de idade...

- E sim, você parece ser bem teimosa e birrenta quando quer, igual à uma criança. - nossa, essa mania dele parecer ler meus pensamentos às vezes me assusta.

- Ah, pode apostar que ela é! - meus pais falaram juntos e eu só bufei, cruzando os braços...traidores.

Me despedi do meu playboy lindo, e segui pra minha casa, mas antes meus pais passaram na farmácia pra comprar os remédios.

Depois de chegar em cada e tomar o banho mais estranho e constrangedor da minha vida, sim, acredite em mim, ter que entrar no box com sua mãe depois de uma certa idade pode sim ser extremamente vergonhoso. Enfim, eu me vesti, com a ajuda da dona Isadora, e tive que ficar na cama, deitada, o dia todo!

Até os episódios de Teen Wolf parecem ter perdido a graça, então decidi me aventurar num gênero que Sara tem me recomendado muito ultimamente, os doramas.

Procurei um, indicação da minha amiga, que se chama Amor por acidente.

As primeiras cenas parecem fofas e tal, mas acredite, quando você se pega assistindo o segundo, terceiro e quarto episódios, você está num caminho sem volta.

- Nossa, e não é que o negócio é bom mesmo?! - falo, dando play no episódio seguinte.

- O que é bom, filha?

- Mãe, senta aqui. - bato no colchão, ao meu lado. - A senhora precisa ver isso.

Minha mãe franze a testa, mas se acomoda ao meu lado,e juntas ficamos com os olhos vidrados na tela do notebook, e a atenção foi tanta, que nem percebemos o dia passar, e só paramos quando meu pai entrou no quarto, nos encarando, confuso.

- Achei que não estivessem em casa. Tudo apagado e quieto.

Nós olhamos na direção da porta, onde o senhor Dutra nos encarava, com a sobrancelha erguida.

Quando ele deu alguns passos e tentou olhar a tela, eu fechei o notebook, o fazendo me encarar, confuso.

- Pai, acredite, o senhor não quer se tornar um viciado também!

- Viciado? Mas Viciado em que, menina?

- Em doramas, pai. Esse negócio nos prendeu durante quase o dia todo!

- Ah, então quer dizer que as moças passaram o dia comendo besteiras e assistindo esse tal de dorama?

Eu e minha mãe nos olhamos, com caras de culpadas.

- Ok,ok.- meu pai meneou a cabeça, sorrindo. - Mas agora, senhora Isadora Dutra, temos que ir preparar o jantar dessa mocinha.

Minha mãe se levantou e beijou minha testa, antes de sussurrar no meu ouvido.

- Não assista o próximo episódio sem mim.

Eu apenas ri e acenei, concordando.