Capítulo 2

Maria Eduarda

Encharcada, com o livro destruído e com uma baita dor de cabeça. Foi assim que eu subi as escadas até a minha casa, na zona leste de São Paulo.

Eu e meus pais moramos num sobrado. No andar de baixo temos o nosso salão de beleza, o Toda Bella, e no andar de cima fica a nossa casa.

- Mãe, cheguei..- gritei, assim que abri a porta, tirando meus tênis e colocando ao lado do tapete.

- Ué mas você já...- ela arregalou os olhos quando me olhou. - Filha! O que aconteceu, minha princesa? Tá toda amassada...

Minha mãe veio correndo, secando as mãos no pano de prato que estava em seu ombro.

- Oh, meu amor, o que foi isso? Sua roupa tá úmida? O que foi que houve?

- Ah, mãe, foi um rapaz que passou numa poça e me deu um banho. Mas o meu livro, mãe..- eu falei, triste. - Estragou tudo...

- Minha filha, o livro a gente dá um jeito. - ela fez carinho no meu rosto. - O importante é que você não se machucou. E esse tal rapaz pelo menos parou pra ver se você estava bem?

- Parou, mas eu que fui até o carro dele e falei umas poucas e boas! - falei, irritada.

-Ai, ai, até imagino a cena. - ela fala, sorrindo. - Você é igualzinha a sua avó, não leva desaforo pra casa.

- Ai, mãe. Mas depois eu até deixei pra lá sabe.

- Ué, brigou com o moço e depois deixou pra lá? - ela franziu a testa. - O que aconteceu? Você nunca deixa nada pra lá, Duda.

- Sei lá, o moço veio com maior cara de cachorro que caiu da mudança, daí eu deixei. Ele nem deve ter visto a poça mesmo. - dei de ombros.

- Sei. Queria saber o nome desse santo milagroso que fez minha encrenqueirinha baixar a guarda desse jeito. - ela me olha e ergue a sobrancelha. - Era bonito, o moço?

-Mãe! - falo, levantando irritada. - Vou tomar banho, isso sim.

- Tá bom, vai antes que pega um resfriado. - ela mal falou e eu já espirrei. - Aí, tá vendo só! Vai logo, vou fazer um leite quente pra você, já levo lá no seu quarto.

- Sim, sargento! - eu bato continência e saio correndo pelo corredor, vendo ela rir e tentar acertar meu traseiro com o pano de prato.

- Menina abusada! Igual ao pai...- ela sai resmungando.

Meu pai a essa hora deve estar no trabalho. Ele é gerente de um supermercado.

Meus pais são casados há 20 anos. Eu não tenho irmãos, porque minha mãe teve complicações muito graves depois que eu nasci, por isso os médicos a aconselharam a não tentar outra gravidez, pois era arriscado tanto pra ela quanto pro bebê. Mas dona Isadora e seu Pablo dizem que eu sou o milagre da vida deles e que só eu já dou alegrias e dores de cabeça suficientes...Ah o amor dos pais...

Eu jogo minha mochila na cadeira, e olhando bem pra ela, a pobrezinha já teve dias melhores.

Eu até estava juntando uma graninha pra comprar uma mochila nova, porque não queria pedir pros meus pais, poxa eles já fazem tanto por mim. Eu consegui uma bolsa de 50% no Educandário Castilho, mas mesmo assim, a metade do valor ainda é salgado, porque aquele é um dos melhores colégios da cidade.

Só meus livros desse ano ficaram em quase três mil reais. Fora a condução todo dia, o dinheiro do lanche, enfim é muita coisa.

Daí, há uns dois anos, eu fiz um curso de manicure e comecei a trabalhar no salão, junto com a minha mãe, que é cabeleireira. Hoje eu quem faço as unhas da mulherada. Minha mãe abriu uma conta no banco pra mim, e lá eu deposito meu dinheirinho, já pensando em ajudar a pagar minha faculdade. Pode ser pouco, mas como diz minha avó, de grão em grão a galinha enche o papo!

Pego um moletom e uma leggin no meu guarda roupas e vou tomar banho. Meu pai fez um banheiro só pra mim, porque disse que filha menina tem que ter privacidade e eu precisava do meu próprio banheiro. E eu vou discutir? É ruim, hen!

Começo lavando meus cabelos, sério, eles estão batendo no bumbum. E cabelo cacheado é aquilo, tem que lavar, hidratar, condicionar, tudo direitinho, senão vira um ninho de mafagafos.

Então, depois da cabeleira estar devidamente ok, eu tomo um banho quentinho e relaxo. Saio do box, me seco e visto minhas roupas, depois faço minha fitagem pra finalizar meus cachinhos e pronto! Vida de cacheada não é fácil, mas eu amo meus cabelos, bem cacheados e cheios de personalidade.

Sento na cadeira, em frente à minha escrivaninha, e abro meu notebook, que ganhei de presente da minha avó, no ano passado.

Começo a pesquisar valores do tal livro de química. Eu sei, só faltam 4 meses pra terminar o ano letivo, mas eu preciso desse livro ou não vou conseguir acompanhar a matéria direito. Então, encontro num site por um valor até razoável. Como só vou ter aula dessa matéria na próxima semana, vou por o livro no carrinho e amanhã, quando meu cartão virar, eu compro. Assim eu tenho um mês pra trabalhar no salão e pagar o livro na próxima fatura, daí não preciso mexer no dinheiro que estou guardando. Isso, garota! penso, animada.

- Filha...- minha mãe bate na porta e eu falo pra ela entrar. - Trouxe seu leite.

- Obrigada mãezinha! - dou um beijo nela e pego meu copo de leite quentinho, dando um longo gole. - Hum.. bom! - sorrio.

- Bebe tudinho. Depois a gente vai no shopping.

- Fazer o que no shopping, dona Isadora? Em plena segunda feira?

- Comprar uma mochila nova pra você, porque essa sua já está pedindo socorro!

- Mãe, dá pra aguentar mais um pouquinho...- eu retruco.

- Ah, não dá não! - ela fala, séria. - Se você estivesse com uma mochila boa, não precisaria carregar os livros na mão com medo dela não aguentar o peso e rasgar. E aí, mesmo tomando um banho de água, como aconteceu hoje, o seu livro estaria protegido dentro da mochila e não ia estragar, não é mocinha?!

Eu torço a boca, mas aceno, concordando. Afinal de contas, ela está certa.

- Então não tem conversa, nós vamos comprar outra mochila sim. E também uns tênis novos, porque hoje cedo o seu All Star já descolou e você teve que vir trocar.

- É, e perdi o ônibus por causa disso..

- Tá vendo? Mais um motivo. Vamos lá sim. - ela se vira, mas para na porta. - E vê se não demora pra se arrumar.

- Tá, mas a mochila eu pago. - eu falo e ela me olho por cima do ombro.

- Até parece que eu vou deixar. - ela fecha a porta e eu bufo.

Oh, mãezinha teimosa essa minha!

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Comments

Josanice Barbosa Vanderlei

Josanice Barbosa Vanderlei

Estou começando a ler 🌹 estou gostando 🌹🌹🌹

2024-04-30

4

Cleidilene Silva

Cleidilene Silva

começando a ler,me parece bom

2024-04-21

0

Márcia Jungken

Márcia Jungken

e parece que a Maria Eduarda também é bem teimosa 🤣🤣🤣🤣

2024-04-12

0

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