CAPÍTULO 10 - A nora Perfeita

O casal faz o restantes da viagem praticamente em silêncio. Chegando no hotel, Raul liga para a mãe para saber dos filhos, mas quando a mãe atende ele já pode ouvir risos.

— Oi meu filho.

— Como estão as crianças?

— Eles estão ótimos, estão assistindo desenho com Liz ela prometeu os colocar para dormir e eles estão animados com a ideia.

— Tudo bem, o importante é que eles se sintam felizes.

— Eles estão meu filho, eles estão.

Quando Raul encerra a ligação, Helena se aproxima e tenta sentar em seu colo, mas ele se levanta indo em direção ao banheiro.

— Como estão as crianças? — Raul para e a olha com um olhar de descaso.

— Acho que é um pouco tarde para isso.

Raul entra no banheiro e tranca a porta, ele começa a se arrepender dessa viagem. Ele sempre soube que Helena só tinha olhos para ele e isso nunca o incomodou, pois não queria que os seus filhos se apegasse a outra mulher, eles tinham Cecília no coração, mas agora a atitude dela o irrita profundamente.

Glória  fica olhando para os netos deitados ao lado de Liz, que fazia carinho na cabeça de Pedro, tendo Betina deitada em seu braço. Quem olhasse pensaria que ela os conhecia há muito tempo. Os três riem juntos com o desenho que estavam assistindo, Pedro sempre foi muito tímido, mas com Liz ele ficava a vontade, era possível ouvir a risada infantil dele  e isso deixou Glória ainda mais feliz.

— Hora de dormir.

— Tia Liz você vai dormir aqui também?

— Hoje eu só vou colocar vocês na cama, amanhã podemos fazer uma sessão cinema se a vovó deixar.

— Vovó, a senhora deixa? — Betina senta no colo da avó a abraçando pelo pescoço.

— Hum... deixa eu pensar — Glória finge está pensando

— Cinema vovó — Pedro pula animado.

— pedindo assim eu só posso dizer... simmmmmm — Glória responde rindo e abraçando os netos.

— Heeeeee...

— Agora vamos pra cama — Liz os leva para o quarto, segurando as mãozinhas deles.

Ela coloca a fralda de Pedro e coloca o seu pijama azul com estampas de dinossauros. Depois troca a roupa de Betina, colocando um pijama rosa com desenho de fadas. Os coloca em suas camas e senta no tapete com as pernas cruzadas. Ela tinha levado um livro que continha várias histórias, ela escolhe a dos três porquinhos. Eles não conheciam a história e ficaram fazendo perguntas enquanto Liz lia.

Liz aproveitou para contar a eles onde ela morava antes, as crianças ficaram eufóricos querendo saber como era morar em um sítio com vários animais.

— Amanhã eu conto para vocês, mas agora vocês precisam dormir.

Liz os esperou dormir antes de sair do quarto e fechar a porta.

— Dormiram. — Liz chega na sala onde Glória estava.

— Eles gostam muito de você.

— Eu também sinto imenso carinho por eles.

— Eles sentem falta de uma figura materna.

— Raul é separado?

— Raul é viúvo, Cecília faleceu ao dar a luz a Pedro — Liz põe as mãos na boca, ela não esperava ouvir isso.

Glória conta a história de Cecília e Liz sente que a situação é mais complicada do que havia pensado. Helena é apenas um tapa buraco, ele não gosta dela e nem tem intenção de fazê-la madrasta de seus filhos. Liz volta para o seu apartamento abalada pelo que ouviu. Raul seria um ótimo amante, mas ela não pode se envolver com ele por causa das crianças.

Elas precisavam de alguém que as amasse e desse o carinho e o cuidado de uma mãe e ela não estava preparada para isso e nem sonhava com isso. O melhor era dar a eles todo o amor que pudesse como tia Liz.

Depois que os netos já estão dormindo e Liz já tinha ido embora, Glória vai para o seu quarto e se deita, ela queria muito que o filho encontrasse um novo amor, queria que ele encontrasse alguém que desse amor não só aos seus netos, mas que conseguisse fazer Raul abrir novamente o coração.

Ela sabia que o filho amou muito a esposa, assim como sabia que ninguém poderia substituí-la, mas alguém poderia fazer ele amar novamente. Ela queria muito que essa pessoa fosse Liz, as crianças gostavam dela e era nítido que ela também os adorava. Liz era muito diferente de Cecília, e talvez fosse a melhor coisa, pois Liz não teria nada que o  fizesse lembrar da falecida esposa.

Glória era uma mulher forte e determinada, era viúva há quase dez anos, conheceu Gustavo muito jovem e ela entendia como Raul se sentia em relação a Cecília, pois mesmo depois de tantos anos, continuava sentindo saudade de seu falecido marido.

Gloria morava no interior do Rio em uma cidade turística, conheceu Gustavo  quando o mesmo estava visitando a sua cidade com um grupo de turistas. Ela trabalhava atendendo no restaurante do pai, que cozinhava muito bem, Raul tinha herdado o talento do avô na cozinha. O amor deles foi, como ela costumava dizer,  amor a primeira vista. Eles não demoraram muito para se casarem e foram muito felizes. Depois de muitas tentativas para engravidar e de um longo tratamento, ela conseguiu engravidar de Raul aos 29 anos, ela não pode ter outros filhos, mas Raul foi tudo na vida do casal. Ficou viúva quando Raul ainda estava na faculdade de Gastronomia. Gustavo não pôde conhecer a nora e nem os netos, mas  acreditava que ele gostasse da nora se a conhecesse e entenderia o sofrimento do filho, que mesmo depois de três anos sem ela ainda sofria por amá-la.

Depois que Raul se casou, ela optou por vender a casa onde moravam e comprou o apartamento onde mora, pois seria difícil para ela continuar morando na mesma casa onde viveu por anos com o seu grande amor.

Raul ter se apaixonado de forma rápida e ter se casado em pouco mais de um ano de namoro, não a deixou surpresa, pois ela conhecia essa sensação e ao conhecer Cecília sabia que eles seriam felizes, a felicidade pode não ter sido duradoura, mas foi até que a morte os separasse.

Pensar em Raul com Cecília fazia ela pensar em como seria Raul e Liz, Cecília era a calmaria, Liz a tempestade, e talvez seja o que o seu filho precise, alguém que o tire do comodismo e abale as suas estruturas.

Liz ali deitada com os seus netos a fez acreditar que Liz já havia os conquistado, agora era esperar para ver o que aconteceria em relação ao pai deles. Talves tenha sido bom eles se conhecerem antes das apresentações, pois parecia que algo já havia acontecido dentro dele.

Glória está com 61 anos e o seu maior desejo é encontrar uma nora, que ame o seu filho e o conquiste para que os seus netos tenham uma mãe. Aquela cena, Liz com os seus netos, a fez acreditar ter encontrado a nora perfeita.

....

Quando Liz chega em seu apartamento ela liga para Beth.

— Eu não acredito que poseidon é o filho de Glória.

— Não só isso, ele foi viajar com a loira oxigenada.

— E você está se roendo de ciúmes do lindão. E ainda está dando uma de babá para eles de novo — Beth cai na gargalhada.

— As crianças não têm culpa, eles são lindos e fofos. Betina perdeu a mãe com dois anos e Pedro nem a conheceu, Glória me disse que ela morreu no parto, antes mesmo de Pedro vir ao mundo.

— Que triste. — Beth lamenta — E o pior é que pelo jeito a namorada não os trata como filhos.

— Aquela megera só tem olhos para o pai. E o pior é ele aceitar.

— Deve ser difícil para ele também.

— Hoje eu coloquei as crianças na cama e lhes contei uma história, você tinha que ver os olhinhos deles, como brilhavam.

— Cuidado para eles não se apegarem a você, pois pelo que parece as crianças são carentes de amor de mãe.

— Mas eles tem Glória que os ama.

— Mas é diferente você sabe, as avós são muito boas para fazerem as vontades.

— Eu não tenho coragem de os afastar de mim, o que eu puder fazer para eles se sentirem amados eu farei.

— Só tenha cuidado para não se machucar.

— Eu não vou, sei que não posso ter nada com Raul, até mesmo você sabe que não me envolveria com ele tendo as crianças no meio. Eles merecem ter uma mãe, alguém que cuide deles com carinho e dedicação. Eu não me vejo preparada para isso.

— O que pretende fazer?

— Nada. Não há nada que eu possa fazer, a não ser amar Betina e Pedro como a tia Liz. — Liz suspira — Em relação ao pai, irei manter distância, com ele não é possível nem mesmo uma transa. Não posso fazer isso, nem com ele e nem com as crianças.

— Porquê diz nem com ele?

— Ele ainda ama a falecida.

— Se é assim, você está certa então, já que você não quer nada sério com ninguém, não é justo deixar ele se apaixonar por você.

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