CAPÍTULO 9 - Você está me ouvindo?

Raul vê a mãe entrando sem os seus filhos, fechando a porta em seguida.

– Cadê os meus filhos? — Raul pergunta ao ver a mãe entrando sem eles.

– Está com a futura mãe deles.

– Mãe, deixe de bobagem e vai chamar as crianças. Preciso me despedir deles, já estou atrasado, aquela maluca me fez perder tempo achando que eu a estava seguindo.

– Ela é uma ótima moça, é solteira, professora, morava com os pais no interior, tem uma irmã que é um doce e um cunhado muito simpático.

– Há quanto tempo ela está morando aqui? – Ele pergunta parado olhando para a mãe, admirado por ela ter tantas informações sobre a nova vizinha.

– Uma semana, chegou sábado passado. E por curiosidade, de onde você a conhece?

– Mãe, em uma semana a senhora já sabe tudo isso – Ele revira os olhos, balançando a cabeça em negação – Poderia chamar Betina e Pedro para eu poder dar um beijo neles.

— Você ainda não me respondeu, de onde vocês se conhecem e pelo jeito as crianças a adoram.

— Nos conhecemos na praia domingo, e hoje ela achou que eu estava a perseguindo. Chegou ao ponto de me perguntar se deve se preocupar — Raul olha para a mãe sério — A senhora acha que eu pareço ser uma pessoa do mal?

— Deixe disso, ela deve ter falado brincando, ela é muito divertida e alegre. Fico feliz por ela já ter conquistado as crianças.

— Ela é maluca isso sim, baixinha e ousada. Ela tem coragem de me enfrentar como se fosse gente grande. — Glória ri por ver que Liz conseguiu mexer com o seu filho, isso é um bom sinal.

– Vou tomar um banho enquanto eles estão com Liz. Você sabe qual é o apartamento, avisa que irei preparar o lanche para todos, todos, entendeu? Liz também. Boa Viagem filho, e aproveite para dispensar aquela cobra – Glória aconcelha entrando no banheiro e rindo ao fechar a porta, deixando um Raul sem saber o que fazer, como ele vai enfrentar aquela ruivinha de novo, se pergunta.

Raul vai até o apartamento vizinho, respira fundo e toca a companhia, consegue ouvir uma música infantil e espera a porta ser aberta.

– Oi, desculpa incomodar. É que eu vim...

– Crianças, o pai de vocês está aqui – Ela fala dando-lhe as costas e ele levanta os olhos para não olhar para a parte que mais chama a atenção naquele corpinho lindo.

– Papai, a tia Liz está dançando  com a gente – Fala Betina se jogando no colo do pai feliz – O papai já vai?

– Sim meu amor. Mas segunda passo cedo aqui para levar vocês para a escola.

– Podemos ir com a tia Liz? ela é professora onde estudamos – Ele fica surpreso por saber que as crianças sabiam desse fato e não lhes disse nada, ele olha para Liz, que parece não estar prestando atenção na conversa dos dois.

– Não precisa incomodar a Liz, eu passo aqui e os levo na segunda de manhã.

– Posso levá-los, só preciso das cadeirinhas.

– Agradeço, mas...

– Deixa de ser... – Ela olha para as crianças – ... teimoso. Eu vou para a escola mesmo, já que eu trabalho lá. Não me custa nada levá-los.

– Então os vejo a tarde depois da aula.

Ele se despede dos filhos e ia saindo, mas volta antes que Liz feche a porta.

– Minha mãe pediu para avisar que irá preparar o lanche para vocês – Eles ficam se encarando 'Que vontade de te beijar maluquinha' Raul pensa olhando aquela boca convidativa. Ele sente um formigamento pelo corpo, sente uma vontade louca de beijá-la, até lhe tirar o fôlego. 'Que loucura' ele pensa.

– Divirta-se com a loira oxigenada – Ele sorri, por ver que ela detesta Helena,  Liz apenas lhe faz careta antes de bater a porta na cara dele.

Ele não sabe o por quê, mas toda a vontade de viajar com Helena havia desaparecido, ele queria saber mais um pouco sobre a sua ruivinha bunduda.  Ele busca as duas cadeirinhas no carro e deixa no apartamento da mãe. Ele queria ter deixado com Liz, mas se a visse de novo talvez não conseguisse resistir a vontade que estava de beijá-la.

Liz volta a ficar com as crianças, ela já havia guardado as coisas que comprou no mercado e agora era só dá atenção as duas crianças que estavam com ela, que pareciam estar felizes.

Na hora do lanche eles vão para o 302 e o lanche já estava pronto, batata frita e hamburgue. As crianças quase não comiam essas coisas só quando ficavam com a avó.

— Que delícia vovó — Betina elogia enquanto come o hamburgue — Tia Liz não vai comer?

— Tia Liz engorda se comer essas coisas, mas o bolo de sua vó eu não resisto — Liz fala enquanto come uma fatia de bolo de cenoura com cobertura de chocolate. No sítio todos os dias tinha bolo, e ela já sentia saudade dos pais, mesmo ligando para eles quase todos os dias.

— Liz o que achou do meu filho? — Glória pergunta curiosa.

— Lindo — Liz responde rindo — Mas eu sei que ele tem uma namorada, os vi juntos na praia no domingo passado.

— Eles não são namorados... — Glória tenta responder.

— São sim vovó, ela dorme sempre lá em casa com o papai. — Betina responde naturalmente, e Liz apenas olha para Glória.

...

Raul passa na casa de Helena, mas todo o ânimo que estava foi embora, ele só queria poder voltar para o prédio onde a sua ruivinha morava, queria a conhecer, saber do que gostava e o que a fazia feliz.

Ele sorri ao pensar como ela era debochada e provocativa, mas isso só fazia com que ele se interessasse ainda mais por ela.

Raul quando conheceu Cecília logo se apaixonou, ele quando a viu foi como se fosse puxado para ela, desde que Cecília morreu ele não havia sentido isso novamente, mas desde que conheceu Liz na praia se sentiu sendo puxado para ela.

Raul olha para Helena ao seu lado que falava algo, mas ele não havia escutado uma única palavra. Ele nunca foi apaixonado por ela, mas ela havia estado com ele no momento em que ele estava fragilizado. Transaram pela primeira vez quando ele estava bêbado, depois disso eles começaram a ficar juntos, mas nunca houve amor entre eles, apenas sexo.

Ver o jeito que as crianças eram com Liz, mesmo a conhecendo há uma semana fazia o seu coração se aquecer. Helena era próxima a eles desde que Cecília se foi, mas ela nunca os pegou no colo, nunca os beijou, nunca os abraçou. Era como se as crianças não existisse para ela. Isso nunca o incomodou, pois as crianças eram suas, ele como pai devia dar amor, ele devia cuidar e não outra pessoa, mas ver como Liz lhes dava carinho mexeu com ele.

Raul pensa em Cecília. A ruivinha era o oposto dela, Liz era ousada, debochada e gostosa. Cecília era meiga, delicada e recatada. Com certeza Liz não gemeria baixo e nem seria delicada na cama, ela tinha cara de gemer alto e se contorcer de prazer.

Raul se sente incomodado ao comparar as duas, ele conhecia Liz a uma semana, e só tinha estado com ela por alguns minutos, mas ele queria voltar a vê-la, queria experimentar aquela boca, queria a pegar no colo e fazê-la gemer de prazer. O que está acontecendo com ele? Se pergunta sem resposta.

— Raul você está me ouvindo? — Helena pergunta depois de ter feito uma pergunta a ele e não obter resposta.

— Me desculpe, estava pensando no restaurante.

— Você vai comigo nas bodas de ouro dos meus pais? Acho que podemos aproveitar para assumirmos de vez o nosso relacionamento em algo mais sério.

— Não entendi...

— Até quando vamos ficar com esse tipo de relacionamento?

— Primeiro, eu não vou poder ir nas bodas de seus pais, segundo se não estiver satisfeita com  o nosso relacionamento, saiba que é livre, nunca te obriguei a ficar comigo.

— Você está me dizendo que o nosso relacionamento...

— Helena, se for para a gente discutir mais uma vez por bobagens é melhor a gente voltar.

— Raul, porquê está agindo assim comigo? Eu sempre fiz tudo por você.

— Por mim. Por mim Helena, mas eu tenho dois filhos, os quais você não faz questão de se aproximar, e você ainda vem com esse papo de mudarmos o nosso tipo de relacionamento.

— Você está pensando naquela bunduda — Raul para o carro no acostamento.

— Se você falar mais uma vez sobre ela, eu te juro que desisto dessa merda de viagem e volto para ficar com os meus filhos. — Ele a olha aborrecido — Você nunca me fez cobranças, você sempre aceitou sermos apenas amantes, o que mudou? Se for para ter mudanças paramos por aqui.

Helena começa a chorar e isso deixa Raul ainda mais irritado.

— Me desculpe, eu tenho medo de você me deixar.

— Se continuar agindo assim, com certeza teremos que nos separar. Eu nunca te fiz promessas, eu ainda amo Cecília, mesmo que ela não esteja mais entre nós, eu sempre irei amá-la e não consigo pensar em me casar com outra pessoa. Se não for capaz de aceitar isso, você está livre para encontrar alguém com quem possa se casar.

— Me desculpe, eu não vou mais falar sobre esse assunto.

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