A indecisão

Fui para minha cama com a cabeça rodando com tudo que tinha acontecido nos últimos dias, traição, tentativa de suicídio do patrão, proposta louca, agora, para fechar com chave de ouro, uma gravidez nada planejada, sem que eu tenho nada para esse bebê. O que vou fazer? Acabei passando a noite inteira nisso. Buscando uma resposta que já sei.

Me levantei cedo, me arrumei com a mesma roupa do dia anterior que Denise havia me dado. Por sorte, lá usamos aquela espécie de farda que padroniza todos que trabalham na casa. Eu tenho que buscar minhas coisas que estão no nosso apartamento, quer dizer, apartamento de Levi. Não tem absolutamente nada meu.

— Que isso! Como você dormiu humana e acordou um panda? — Patrícia perguntou ao me ver sair do banheiro.

— Está tão ruim assim? — Perguntei me olhando no espelho. Estava ruim não, estava triste.

— Pega minha maquiagem, está na pia. É a bolsinha azul. Tenta parecer menos assustadora. — Patrícia disse apontando para a bolsa dentro do banheiro.

Nunca demorei tanto para me maquiar. Eu tava com o rosto destruído. Nem parecia eu mesma. Ao menos meu cabelo estava cortado. Sentei na mesa para tomar café já sem forças.

— Não parece está muito disposta não. Lembrando que é seu segundo dia de trabalho, você precisa desse emprego mais que tudo — Denise disse me passando uma torrada.

— Então não era um pesadelo? Passei a noite jurando que não tinha sido real. — Acho que nunca nem sequer pensei nada relacionado a maternidade. Eu não sei se quero ou não ter essa criança.

— Só aceita a maldita proposta. Você vai está ajudando alguém e se ajudando. Aquele cara passou o mesmo que você. A probabilidade dele te machucar da mesma forma é mínima. Assim como você está ferida, ele também está. Acho nem justo essa ajuda mútua de vocês disse. — Patrícia falou sentando na mesa com uma xícara de café bem preto.

— Você fala como se fosse simples. — Eu teria que casar com aquele homem e participar de um plano sinistro contra seu primo.

— Você que está complicando demais. Deveria facilitar sua vida, próximos meses não será nada fácil. Vem. Vou te deixar. Tenho reunião com um cliente lá perto. — Denise disse se levantando.

— Gente, não é fácil assim. — Falei chocada.

— Difícil é ser mãe solo. Sem casa, dinheiro ou comida. Te garanto. Um casamento falso tal como te ofereceram é uma benção nesse momento. Para de pensar besteira e prioriza o que realmente vai render algo. Agora vamos logo. Não posso me atrasar. — Denise tinha passado uns momentos bem ruins quando sei pai deixou ela e sua mãe pela amante. Acho que é sobre isso que quer dizer.

— Vamos, estou pronta. — Peguei minha bolsa e segui Denise.

Não voltando ao assunto, Denise estava quebrando a cabeça com o novo contatinho que ela conseguiu. Não sabia paquerar nas mídias sociais, estava reclamando sobre receber foguinho, curtirem seu story. Ela não fazia ideia do que tudo isso significava.

— Sigo a teoria que se ele tivesse mesmo interessado em você, não estaria aqui com dúvidas. Talvez ele apenas esteja te vendo com um plano B, sei lá. Não pilha nessa. Só chamar o próximo da fila. Tenho certeza que o próximo será bem melhor. — Falei a ela.

— Não sei, depois a gente conversa sobre isso. Não posso me atrasar. Boa sorte no seu segundo dia. — Denise me deixou dentro da casa e partiu.

Assim que entrei, Dona Ednalva estava esperando na porta. Eu não sabia se iria levar bronca, no fim, acabei me distraindo com Eduardo e não consegui terminar a limpeza do porão, na verdade, eu nem cheguei a começar.

— Bom dia, dona Ednalva. — Eu disse sorrindo. Se for levar uma broca, talvez ser simpática amenize.

— Bom dia, senhorita Sabrina. Pode me acompanhar? — Ednalva parecia não está brava, já era algo.

Seguindo ela, acabei na cozinha. Duas funcionárias também estavam lá. Ao entrarmos, as duas pararam o que estavam fazendo e ficaram uma ao lado da outra, próximo de onde estávamos.

— Bem, Sabrina, como você sabe, ontem você fez dois testes. Passou em ambos, entretanto, Senhor Eduardo, pediu para que você ficasse responsável pela cozinha. Ele gostou bastante da sua comida. Sendo assim, como cozinheira, você tem essas duas auxiliares, Clara e Tina, elas devem seguir todos seus comandos. A cozinha inteira é responsabilidade de vocês três. Sendo assim, deixem sem impecável. Sobre o cardápio diário, você deve entregar todo sábado para revisão e aprovação do Senhor Eduardo. Alguma dúvida? — Ednalva me perguntou olhando para o relógio.

— Preciso fazer todas as refeições? Café, almoço, janta e lanches? Gostaria de saber também os horários. — Perguntei para tentar me organizar mentalmente.

— Você é responsável por todas as refeições, mas nem sempre será necessário. Senhor Eduardo passará a agenda dele toda segunda. Quando vem ou não para casa. Você sempre terá que ficar aqui, mesmo que ele não esteja. Para em caso de qualquer mudança de planos, você está preparada. — Ednalva respondeu — E sobre os horários, o café da manhã tem que está sendo servido no máximo até 7h40. O almoço, deve está pronto 12h, já o jantar, deve ser servido 19h30. Sobremesas e lanches, devem está preparados, com mais de uma opções, para que ele possa escolher e tenha sempre disponível.

— Como comecei no meio da semana, como ficará a respeito do cardápio e os horários da agenda? — Não sei o que aconteceu com a última cozinheira.

— Bem lembrado. Todas essas informações, devem ficar visível para todos da cozinha e por mim, por todo, estão disponíveis nesse quadro de avisos. — Ednalva apontou uma um espécie de quadro de metal com imãs, que tinham diversas filhas colocadas. Números de telefone de fornecedores, agenda de Eduardo e o cardápio. Além disso, havia o número de todas as pessoas da cozinha, incluindo o meu. — O café da manhã já foi servido hoje. Se prepare para fazer alguns lanches. Não haverá almoço, apenas jantar. Então, aproveite para preparar lanches e sobremesas. Estão em falta. Alguma outra dúvida?

— Sobre a roupa da farda. Irei precisar de algo mais cozinha. Preciso prender meus cabelos. Um avental maior também. — expliquei sem graça, não queria que achasse que estava exigindo algo.

— Está no trocador dos empregados, aqui está a chave do seu armário. Pode trocar tudo e guardar lá. — Ednalva disse me entregando uma chave — Se tiver qualquer outra dúvida, pode me perguntar. Deixarei que comece suas funções e adiantarei as minhas.

— Obrigada, senhora Ednalva. Não sei como agradecer. Prometo que farei meu melhor. — Eu falei animada.

— Foque no seu trabalho, para mim é o suficiente. — Ednalva devolveu. — Saiba que o senhor Eduardo é muito exigente. Não faça besteira.

— Sim, senhora. — Respondi animada. Acho que vi um sorriso de canto de boca na Ednalva.

Estava tão feliz com o emprego novo, que esqueci totalmente da proposta, gravidez, Levi, Vanessa. Foquei totalmente no meu trabalho, era bom voltar a trabalhar. Os horários e cardápio eram bem organizados. O que facilitava todo processo. O jantar então chegou, era a única refeição que Eduardo faria na casa hoje. Como chef, eu deveria ficar a disposição até ele terminar de jantar. Caso ele tivesse alguma dúvida, queixa ou quisesse alguma troca.

Jantar servido, fiquei na ponta da sala quieta. Eduardo chegou sem dizer nada, apenas sentou. As funcionárias começaram a servir eles. Quase se jogando em seu colo. Parece que ele é realmente popular. Bem, pensando melhor, tenho que admitir que é bonito o homem. Não é de se jogar fora.

— Obrigado, todos estão dispensados, apenas Sabrina ficará. Boa a noite a todos. — Eduardo ordenou.

A sala de jantar se esvaziava com a ordem, ninguém falava nada, mas me olhavam como se pudesse me queimar com os olhos. Eu não fiz nada, porquê isso?

— Não sou de delongas, eu já dei o tempo para você pensar. Qual sua resposta? — Eduardo é mais direto que minha intolerância a lactose. E agora? O que devo fazer?

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