Capítulo 9

Irina Darkmore

Esse lugar fede!

Mesmo sendo pobre, mesmo quando morava numa outra cabana caindo aos pedaços perto da floresta huster, sempre zelávamos pela limpeza, (a pobreza não é desculpa para a falta de higiene), era o que minha tia sempre dizia.

Além disso, ela dizia que muitas doenças eram causadas por essa falta de higiene.

Estou sozinha nesta cela, não sabia que existia uma cela mista, embora esteja sozinha, algumas dessas celas estão sendo ocupadas por ladrões, assassinos e até estupradores.

Todos estão me vendo, me sinto vulnerável.

Minha presença nesse lugar não me causou apenas asco pela precária falta de higiene e o cheiro insuportável deste lugar.

Mas as palavras desagradáveis ditas por esses homens também me dava vontade de vomitar.

— Guarda, deixe essa preciosidade aqui com a gente, precisamos nos distrair um pouco, prometemos que vamos cuidar bem dela.

— Vamos deixar ela bem quentinha, por dentro e por fora.

— Ela vai ficar acordada a noite toda! Hahaha.

— Vai ser tão divertido.

Esses foram alguns dos comentários mais leves, fora outros que ficavam se tocando, me olhando e gemendo.

Aquilo estava quase me levando a loucura, o que eu fiz exatamente para trazer esse ódio ao rei, ao ponto dele me colocar num lugar misto, sendo que existe uma parte só com mulheres?

Mas, como poderia ser amante dele, seu olhar deixou bem claro que suas intenções, não era de deixar a minha vida mais fácil se optasse ficar com ele.

Conforme ordenado, o guarda só me trouxe água numa caneca.

Acabei bebendo só a metade, e usei a outra para me lavar um pouco e assim me sentir menos "imunda".

Quando ele percebeu que eu usava para me lavar, ele passou a trazer uma caneca e uma bacia, ambas com água.

Ainda existem pessoas boas nesse lugar.

Não podia tomar banho propriamente dito, por causa daqueles olhares assustadores, mas conseguia me refrescar.

No terceiro dia, estava sem forças até pra me mexer, estava com muita fome.

Eu li uma vez, num livro, que uma pessoa pode viver até sete dias sem comer, mas acho que vou durar bem menos que isso.

Cleng! Tum!

A cela ao meu lado que estava vazia, foi aberta, fiquei com medo pois pensei que alguém que poderia querer me fazer mal ficasse do meu lado, não existem paredes, então eu usava aquele lado que estava vazio para ficar longe do outro, que tinha um assassino e um ladrão junto.

Como eu ficava encolhida por causa da fome estava com as minhas juntas doendo, então eu quase não me mexia, só levantei a cabeça, e fui tentando me mexer para tentar ficar no meio da cela então, o guarda colocou um homem todo ensanguentado, mas ele não carregou de um jeito rude, como os guardas costumavam entregar alguns deles.

Ele olhou pra mim, e deixou a pessoa no canto, ao lado da minha cela.

Achei estranho aquele comportamento, quando dei uma olhada mais cuidadosa, quase perdi o que restava da minha força quando reconheci:

Declan!

Ele ainda estava desacordado, juntei um pouco de força que tinha, olhei para o guarda e agradeci com um suspiro por ter deixado ele ao lado da minha cela, possibilitando que eu o ajudasse.

Mas a única coisa que eu tinha era água, e foi isso que eu dei para ele, ele bebeu bem pouco, por estar desacordado.

Ele fez mais pelo instinto de sobrevivência.

De repente ouço uma voz entrando naquela cela:

— Mas que cena comovente e ao mesmo tempo interessante, você se importa com alguém afinal.

Do que esse lunático está falando? é claro que me importo, não seguiria os passos da minha tia se não me importasse, mas estava sem forças para retrucar, e também sabia que seria algo inútil de se fazer.

— Ele é inocente.

Foi a única coisa que eu consegui falar.

Ele me olhou e respondeu:

— Ele é um pobre coitado que vai continuar sofrendo se você continuar negando o meu pedido.

— Aquilo não era um pedido.

— Tem razão! Mas o que você precisa entender é, VOCÊ NÃO TEM ESCOLHA! Eu juro que isso será apenas o começo do que pretendo fazer com esse homem.

— Por favor, não.

Com um meio sorriso, daqueles que não atingem os olhos, ele respondeu:

— Sua falsa pena me enoja. Só você pode acabar com o sofrimento dele.

Não tinha mais saída, estava esgotada, e com fome e o Declan estava muito mal, decidi que seria melhor me render a esse pedido, e quem sabe ele poderia mudar de ideia mais a frente.

— Está bem! Eu aceito.

— Então fale corretamente.

Desgraçado, ele quer que eu me humilhe mais, mas não tem problema, desde que o Declan fique bem.

— Eu a-aceito ser sua amante! Vossa Majestade.

Com um sorriso vitorioso ele diz:

— Guardas! Tirem ela daqui.

— Espera! E o Declan?

Eu sei que fui precipitada, deixei bem claro com essa minha atitude, que estava fazendo por ele, mas na hora eu fiquei apavorada de ver o meu bom amigo daquele jeito.

Ele parou e disse:

— Levem esse homem para ser cuidado, de agora em diante, ele será um dos criados do Palácio.

— Ele tem o seu próprio trabalho, deixe ele ir.

— Fico impressionado em como você consegue me enfrentar, vou adorar te ver quebrar. Mas até esse dia chegar, ele será o que te manterá na linha.

Fui levada daquele lugar com um Declan desacordado logo atrás de mim.

— Leve ela para o quarto da amante, assim que ela estiver limpa e depois de se alimentar, leve-a para o meu escritório.

Não vou negar que a palavra "amante" me causou mais repugnância do que o cheiro daquela cela, ele tinha toda razão quando disse que usaria o Declan para me manter na linha, pois se não fosse por ele, eu preferiria morrer naquele lugar imundo, do que ser chamada de amante.

Chegando naquele quarto, que pelo menos era limpo e arejado e ficava na parte mais alta do Palácio.

Haviam três empregadas me esperando, uma delas se apresentou a mim com muito ódio, só um pouco mais controlado do que o rei.

Me chamo Ayla, e estamos aqui para ajudar a se arrumar para o rei, preste atenção a tudo o que faremos com você, pois é deste modo que você passará a se apresentar toda vez que o rei a convocar... AMANTE.

Esse título... Eu odeio esse título, mas estava apreensiva demais para ficar me incomodando com as palavras duras dessa mulher e deixei elas me guiarem.

Não foi nada demais, acho que como sou de um nível baixo as pessoas acham que não tenho uma noção básica de higiene.

Claro que na hora do banho, essa Ayla usou de uma força excessiva demais em algumas partes, que deixaram a minha pele vermelha.

Mas, perto do que eu iria enfrentar, preferia que fosse ela ao invés do rei.

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