a verdade temperada com vinho

Após a troca de roupa, Rafael conduziu Eluar até o carro. Que por mais louco que fosse, era o mesmo que ele usava na universidade, bem, pelo menos, era o que ela pensava. Na verdade, ele tinha um lá e outro em casa. ambos idênticos.

— Eu pensei que você tivesse deixado o carro na universidade. — Eluar perguntou olhando o carro, ela estava totalmente confusa.

— Deixei? Eu não sei. Quando cheguei esse casa, o carro já estava a minha disposição e com muita poeira. Certeza que fazia séculos que não era usado. — Rafael respondeu abrindo a porta do carro para Eluar que riu.

— Não precisa abrir a porta do carro para mim, eu sei que você odeia fazer isso. — Eluar disse antes de entrar no carro. Rafael parou uns segundos olhando e pensando sobre como aquela garota conhecia bem ele.

Entrou no carro e deu partida, saindo do hospital, caindo direito na avenida que estava completamente engarrafada. Por dentro, Rafael agradeceu pela primeira vez na vida um engarrafamento, tinha absoluta certeza que assim que tivesse chance, Eluar fugiria do carro.

— Você está morando sozinha? — Rafael perguntou puxando assunto.

— Não, depois de tudo, Lisandra também passou para um programa aqui, acabei vindo para o apartamento dela ... Com tudo que aconteceu, foi um pouco complicado para mim. Muitos planos tiveram que ser mudados. — Eluar respondeu.

— Eu não faço a mínima ideia de quem é Lisandra. Não queria usar essa carta, mas meio que estou com amnésia. — Rafael brincou.

— Me desculpe, eu esqueci. Bem, Lisandra era nossa amiga, bem, ela é minha melhor amiga e acabou se tornando sua também. — Eluar explicou, mesmo sabendo que era um pouco mais complicado que isso, já que Lisandra sempre teve um pé atrás com Rafael.

— Então, eu tinha mais amigas como você na universidade? — Rafael questionou.

— Eu espero que não. Ou você estaria bastante encrencado, mas tinham muitas interessadas. — Eluar brincou, por mais que no passado Rafael fosse um galinha, havia mudado bastante para ficar com ela.

— E você, não tem namorado? Você é linda. Dúvido muito que seja solteira. — Rafael perguntou e na mesma hora Elora olhou nos olhos dele.

— Eu tenho um namorado, pelo menos, eu acho. Não tenho certeza. Tudo parece cada vez mais bagunçado. — Eluar respondeu um pouco chateada com a pergunta de Rafael.

— Se eu fosse ele, não ia deixar minha namorada linda assim, andando no carro com outro homem. Além do mais, um tão lindo quanto eu. — Rafael disse sem tirar os olhos da pista, com um sorriso.

— Alô, humilde! Alguém precisa de você aqui. Aliás, meu namorado é extremamente ciumento. Do tipo que apenas de olhar para mim demais, já incomoda ele, mas com você eu posso. Ele ainda não chegou a esse nível de ciúmes. — Eluar explicou sorrindo, estava imaginando o que Rafael pensaria quando lembrasse dessa conversa.

— Ele acha que sou gay? — Rafael estava assustado. Será que algo rolava na universidade e ele não sabia?

— Com toda certeza do mundo, ele não pensa isso. — Eluar gargalhou com a ideia de Rafael.

— Bem, se eu te levar daqui para um restaurante, conta como sequestro? encontro? ou boas-vindas? — Rafael perguntou olhando nos olhos de Eluar, fazendo com que ela tremesse.

— Eu quero... mas tenho medo.. — Eluar disse olhando para Rafael.

— Do seu namorado brigar? Não se preocupe. Eu não farei nada. Apenas quero saber um pouco mais sobre meu passado. Me sinto estranho em saber que esqueci anos que podem ter sido tão importantes para mim. — Rafael explicou.

— Você não está feliz com a vida? Quero dizer, ela da forma que está hoje, não te faz feliz? — Eluar tinha receio de como a verdade cairia no colo de Rafael. Ele conseguiria lidar com ela e o todo o caos que está sua vida?

— Eu sinto que algo está faltando. Como se algo não tivesse encaixando em tudo isso. Eu sei que parece loucura. Também pode ser apenas meu cérebro avisando que as memórias estão faltando. Eu não sei, mas me parece está faltando algo que era essencial. — Rafael explicou, foi o suficiente para convencer a Eluar que ele merecia a verdade sem rodeios.

— Então, que tal irmãos para sua pizzaria favorita? Você disse que a pizza da filial daqui não se compara a de nenhum outro. Pode me levar para conhecer a tão famosa pizza? — Eluar sugeriu. Realmente era curiosa para saber qual a diferença daquelas para as outras.

— Adorei a ideia, vamos. — Rafael concordou caindo em uma rua, saindo da avenida e fazendo o contra-fluxo, por ruas mais afastadas.

— Se você me deixar aqui, eu nunca mais volto para casa. Não tenho a mínima ideia de onde estou. Você se meteu em cada ruazinha. — Eluar disse olhando ao redor, tentando se localizar.

— Está com medo de mim? — Rafael perguntou um pouco preocupado. Não queria causar medo a Eluar.

— Você é a única pessoa que não me causaria medo, Rafael. Muito pelo contrário, você me traz confiança e segurança. — Eluar deixou sair sem querer, Rafael logo percebeu que ela tinha dito com tanta naturalidade, que só percebeu o que falou depois que saiu, deixando ela completamente envergonhada.

— Fico muto feliz em saber disso. E... Chegamos! Aqui é minha pizzaria favorita. — Rafael respondeu antes de descer do carro.

— Ela é idêntica a todas as outras. — Eluar comentou ao olhar a fachada.

— O exterior pode ser igual, mas dentro muda completamente. Vamos entrar? — Rafael estava sorrindo como criança.

— Vamos. Estou morrendo de fome já. Não almocei direito. Alguém me atrapalhou. — Eluar concordou sorrindo e entrando.

Assim que entraram sentaram em uma mesa mais afastada, Rafael logo colocou os óculos, ele não queria ser reconhecido. Por mais que Eluar fosse para ele apenas uma colega, a mídia não informaria dessa forma. Concordaram facilmente sobre a pizza, ele podia não lembrar, mas ela sabia muito bem qual qual pizza eles costumavam comer juntos.

Enquanto a pizza estava sendo preparada, Rafael pediu uma taça de vinho. Uma para ele e outro para Eluar. E começaram a tomar enquanto esperavam o jantar.

— Pode me contar agora, o que realmente nós éramos? Sem enrolação? Estamos só nós dois. O clima está ótimo e o vinho uma delícia. Acho que melhor momento você não terá. — Rafael disse sorrindo.

— Concordo com você. E acho que quanto mais eu demorar para falar, mais eu terei dificuldade para falar e no fim, vai acabar ficando chateado por eu não ter contado. Enfim — Eluar disse revirando a sua bolsa e tirando de lá uma caixinha preta e entregando para Rafael. Que curioso, logo abriu, encontrando dois alianças, com uma data gravada e seus nomes. — Nós estávamos namorado, antes de você sofrer o acidente, tinha alguns anos, você tinha planos de me pedir em casamento, achei as alianças alguns dias antes de você viajar. Só nunca entendi o motivo da data está no futuro.

Rafael que estava segurando uma taça, ao se levantar surpreso olhando para aliança, deixou com que caísse, se estilhaçando no chão. Ele estava completamente confuso com a informação. Isso queria dizer que ele traia Eluar? Que ela está mentindo? Que Lisandra está mentindo? E se questionava, se no fim, o grande mentiroso da história era ele.

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