Qual será o plano?

Eluar chorou a volta inteira para casa, o Uber com pena, ofereceu até lenços, o que fez Eluar chorar mais ainda. Não conseguia compreender como tudo pode ter mudado tão rápido. Ela se questionava o que tinha feito de errado para se colocar nessa situação, mas sabemos bem que não é necessário fazer algo para acabar envolvida em problemas.

— Obrigada, senhor. Me desculpa qualquer coisa. — Eluar disse prestes a descer do carro, mas foi interrompida pela fala do motorista.

— Pequena, você é nova, ainda não sabe, mas a vida é assim, vivemos de cair no poço e nos levantar. O importante, na verdade, quanto está no fim do poço é tomar água, se refrescar e partir para batalha. O poço não precisa ser o fim, pode ser apenas o início. — O senhor disse com um belo sorriso, que fez Eluar chorar mais ainda. — Me desculpe se falei algo errado.

— Você está certo, alguns fins não são verdadeiramente o fim, apenas um novo começo. Muito obrigada. Eu tenho certeza que vou ficar bem depois de um bom copo de água e de uma belíssima noite de sono. — Eluar disse enquanto enxugava suas lágrimas, ela se deu conta que não tinha tempo para chorar, tinha o estágio dos seus sonhos, o amor da sua vida estava vivo e uma cobra não iria acabar com os sonhos que fizeram juntos.

Eluar entrou dentro do apartamento assustando Lisandra que esperava por ela no sofá roendo as unhas. Quando viu o rosto da amiga vermelha, tinha certeza que tudo havia terminado de pior forma possível, assim como ela imaginou.

— Quer uma xícara de chá? — Lisandra perguntou correndo para perto da amiga e envolvendo ela em um enorme abraço.

— Quero cerveja. Melhor, quero vodka. Me disseram que eu preciso me refrescar antes de voltar a luta. Acho que vodka parece muito com água. Vai dar certo. — Eluar respondeu indo para cozinha.

— Acho que você está errada de tantas formas que não sei nem como explicar, mas me diz, de 0 a 10, quão ruim foi esse jantar? — Lisandra perguntou preocupada com o que podia ter acontecido, sua amiga não era do tipo que gostava de beber e sempre vomitava horrores depois da bebida, por isso, nunca gostava de beber.

— Ah! Foi ótimo. Conheci a noiva de Rafael, já havia batido boca com ela no hospital. Descobri que o amor da minha vida vai ser pai. E que não lembra de nenhum vestígios da minha existência. Então, qual nota você daria para o jantar, gatinha? — Eluar perguntou rindo procurando nos armários onde tinha guardado a vodka.

— Acho que nós vamos precisar de vodka e limão para te refrescar. — Lisandra concordou tirando a vodka do armário e fazendo uma caipiroska bem forte, com muito açúcar e um gelo.

Com aquela batida perfeita, mega gelada que não se permite nem sentir o gosto do álcool, em pouco tempo as duas já estavam bêbadas abraçadas na sala, de frente a TV, cantando Marília Mendonça aos berros. Quando finalmente a música termina, as duas se jogam no sofá rindo sem parar, até que a risada some, sobrando apenas um enorme silêncio.

— O que você vai fazer? Desmascarar ela? Conquistar o Rafael? Fica na sua carreira? Qual é o plano para subir o poço? — Lisandra perguntou curiosa, sabia que a amiga estava sofrendo, mas não conseguia imaginar qual seria o plano dela para resolver esse problema.

— Rafael me amou desde a primeira vez que me viu, pelo que sentir fui, farei da mesma forma, serei eu mesma. Ele vai assistir de camarote a belíssima futura médica que serei. Se der errado, aí já não sei, mas entendo que não há plano melhor nesse momento — Eluar argumentou bebendo outro copo da bebida gelada. Precisava relaxar. Seria difícil encontrar alguém que tinha tanta história e não se lembrava de nada, diferente de dela, que não apenas lembrava, como sentia um sentimento profundo.

— E o que vai fazer com a jararaca? — Lisandra perguntou.

— Nada. A verdade cedo ou tarde deve aparecer. Ela não vai ter como esconder essa verdade por muito tempo. E as memórias de Rafael podem demorar, mas vão voltar mais cedo ou mais tarde. Creio que o erro dela, foi tentar dar o golpe achando que a memória dele jamais iria voltar. — Eluar respondeu relaxada nesse quesito. Já tinha visto diversos casos como esse.

— Só que quando voltar, pode ser tarde demais. Rafael sempre foi um galinha antes de te conhecer. Não sentindo nada por você, já deve ter dormido com ela. Tenho certeza que ela não iria perder tempo. Sem contar, que sentimentos podem mudar. Ele pode acabar realmente se apaixonando por ela, enquanto não faz ideia de quem é você. — Lisandra queria jogar a real na amiga, ela não podia apenas confiar no tempo para resolver tudo ou acabaria perdendo o Rafael.

— Fã ou hate? Então, o que quer que eu faça? Amarre ela em um porão, alimente com pão e água até o Rafael acorde? Não posso gastar meu réu primeiro dessa forma. — Eluar respondeu se sentindo cansada, já havia pensado bastante sobre isso, não tinha uma forma de resolver aquele problema. Não teria como simplesmente expulsar aquela mulher da vida de Rafael, apenas, tinha como ela entrar.

— Eu não sei. Talvez você esteja certa. O melhor plano é o Rafael se apaixonar por você novamente. Eu não queria está no seu lugar. Ele era muito babaca antes de você — Lisandra disse fazendo careta. Rafael havia saído com mais da metade das estudantes de medicina, ele era um carro sem freio.

— Será que isso é ruim? Pensa bem. Ele também não sente nada por essa mulher. Melhor que ele seja o playboy mimado, sem freio e pegador, do que o cara que namorava comigo. Antes ele pegando todas, menos que doa pensar nessa hipótese, do que preso a una pessoa e deixando um sentimento ser criado. Deixa ele ser vida louca e de todo mundo. — Eluar só não queria, por fim, perder o coração de Rafael. Queria continuar acreditando que era apenas uma fase e que logo melhoraria. Pensar que o namorado dela estava com outras, não era nada fácil.

— Minha dica? Se ele está solteiro, você também está. Lembre disso. Volte ao zero. De onde vocês iniciaram. Você solteira, ignorando ele e focada totalmente na sua vida. Foi assim que ele só teve olhos para você. Quando percebeu que era a única, que não estava beijando os pés dele. Seja você acima de tudo. Ou você perderá não apenas o Rafael, como a si mesmo. E se perder, é um dano terrível. — Lisandra queria que tudo desse certo, mas no fim, só se importava que sua amiga tivesse bem. Não permitiria deixar que ela se destruísse por homem algum.