0 ESCONDERIJO DO AMOR

Assim que chegou em casa, após toda aquela confusão, Mel tomou banho e deitou-se na cama.

Longe de conciliar o sono, tentou em vão deixar de se atormentar com o passado, mas não conseguia.

Como esquecer os momentos ardentes que tivera com ele? Era tão bom ser amada por ele...

O lago das Flores não saía da sua cabeça, pois fora ali que pela primeira vez, os dois juntos, tiveram a sua primeira experiência sexual. Então, afundando-se mais ainda no sofá,  deixou-se recordar os momentos de paixão.

Ambos eram virgens.

Era uma tarde ensolarada quando tudo aconteceu.

— Raul, você tem certeza que podemos ir até o lago? Ali é de difícil acesso...

— Não se preocupe! Conheço um atalho. Ali na fazenda da família Serra, todos me conhecem e sabem que eu gosto de ir para lá,  então ninguém liga muito.

Mel estava preocupada. Tinha medo que alguém a olhasse andando de carro com Raul e contasse à sua tia.

Ainda mais indo para um lugar mais deserto. Nervosa, passou uma das mãos pelo longo cabelo encaracolado. Percebendo isso, Raul disse-lhe:

— Confie em mim, Mel! Não vamos demorar. Observamos o lago e voltamos.

Ela permaneceu em silêncio.  Ele estacionou o carro do seu pai, próximo a uma árvore.

— Daqui para frente, vamos a pé.  É uma trilha.

Ele pegou a sua viola, pôs nas costas e enlaçou os seus dedos nos dela.

— Venha, amor!

Mel seguia Raul, tentando ficar tranquila. Alguns minutos depois chegaram ao lugar.

O lago era de tirar o fôlego.

Sob a vegetação verdejante,  ipês chapados  por flores, derramavam as suas pétalas no lago. Agora Mel entendia o porquê de ser chamado lago das flores.

(Imagem meramente ilustrativa. )

O colorido das pétalas se misturavam. Encantada com tanta beleza, contemplou com avidez o lugar.

— Não imaginei que fosse tão lindo!

— Eu não disse? — Ele abraçou-a por trás.  — Pelo outro lado realmente é inacessível,  mas por dentro da Fazenda dos Serra, é mais fácil chegar até o lago.

— É tão incrível!

Ela virou-se e os dois deram-se um beijo leve, mas carregado de paixão. Embora estivessem a sós,  havia uma certa tensão entre os dois. Falavam ou faziam algo para atenuar o desejo crescente que sentiam desde quando começaram o namoro escondido.

Raul sentou-se à sombra de uma árvore e puxou-a para perto dele.

— Ainda está com medo, Mel?

— Só um pouco. Você sabe... Melhor não demorarmos... Minha tia está cada vez mais desconfiada... Ela disse que não paro em casa e fica me perguntando o que ando fazendo...

Pensativo, Raul perguntou:

— Você sabia que a sua tia já foi noiva do meu pai, após algum tempo que se separou do pai de Álvaro? Fiquei sabendo hoje.

— Verdade? Incrível! Então isso explica porque ela pega tanto no meu pé para eu não me aproximar da sua família.

— Isso mesmo. Segundo o meu pai, quando namoravam  ela era uma pessoa possessiva e eles brigavam muito. Quando ele conheceu a minha mãe e apaixonou-se, Nalva não suportou e até ameaçou a minha mãe de morte. Sei que depois de muita confusão,  ela nunca o perdoou,  então ela manteve essa postura de guerra contra a nossa família.

Ele suspirou e com o olhar fixo nela, continuou:

— Quando eu e Bia éramos crianças não entendíamos porque ela nos tratava com tanta hostilidade, mesmo o seu pai continuando amigo do meu pai e permitindo a sua amizade com Bia.

— Então só agora entendo porque ela e o meu pai discutiam tanto sobre as minhas idas até a casa de vocês, quando eu ia brincar com Bia. E agora, que o meu pai teve que se ausentar logo no período das minhas férias,  ela briga comigo direto e vive me dando ordens para ficar longe de vocês.

— Ela deveria deixar o passado para lá  e permitir-se viver mais.

— Também acho, mas ela é tão cabeça dura. Às vezes tenho medo de ela trancar-me na

casa dela e não me permitir sair.

— Se ela fizer isso eu não responderei por minhas ações,  Mel.

Ele acariava o seu rosto, enquanto falava as palavras ameaçadoras.

— Deus nos livre disso acontecer.

Ele a olhou por um instante, atenuando a fisionomia para um jeito mais carinhoso.

— Bem, vamos mudar de assunto. Essa é minha viola nova. — Mostrou-a para Mel, contente.

— Ah, que legal, uma viola caipira! Toca, vai! Bia me disse que você é muito bom, mas nunca o escutei.

— É para já,  senhorita!

Ele pegou a viola e começou a tocar uma música sertaneja. Depois de algum tempo, Mel reconheceu uma delas e  resolveu cantar.  Raul não pôde deixar de notar o quanto ela era desafinada.

— Credo, Mel! Você canta muito mal!

Ela riu do comentário.

— Não me critique! Sei que sabe tocar, mas cadê que você  canta?— Ela continuou rindo, descontraída.

— É,  mas isso não é segredo para ninguém. Agora você...

Ele voltou a tocar a viola, enquanto não tirava os olhos dela.

— Bem, então vou exercitar as minhas habilidades de bailarina. Pelo menos isso sei  fazer muito bem.

Com sorriso nos lábios, Mel se levantou. Ela estava usando short jeans, uma blusa básica branca de alcinha e um tênis branco.

MO calçado não era adequado, ainda assim, com movimentos leves e em sintonia com a música, Mel se transportou para seu mundo particular, que era a dança. 

Diante de Raul, ela dançava com perfeição. 

Os movimentos do seu corpo esbelto e bem torneado, fez com que o rapaz não conseguisse tirar os olhos de cima dela.

Ela sorria, os quadris se movimentavam sensualmente, num gingado harmonioso com o ritmo das notas de uma música country.

Num dos rodopios, foi que percebeu o jeito diferente do namorado.

Retirando o cabelo, que cobria uma parte do seu rosto e colocando -o atrás da orelha, observou-o com mais atenção e só depois de uns instantes, ao baixar mais os olhos foi que Mel notou o quanto ele estava excitado com a sua ação. 

Ela parou de dançar, constrangida e ao mesmo tempo, excitada. 

Não tinha sido intencional o seu gesto, mas sabia que agora estava numa situação deliciosamente tentadora.

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