Na madrugada, outra ligação. Sua tia havia falecido.
Não imaginava que sentiria pesar, após saber da notícia. Até então lembrava que desprezo e ressentimento eram os únicos sentimentos que restaram, após o sofrimento que tivera que suportar em relação, a brusca separação entre ela e Raul, ocasionada pela tia.
De qualquer forma, não conseguiu chorar.
Assim que amanheceu, embarcou na van, que no momento, avançava para Monte Serra. Mel percorria os olhos pela vegetação abundante à beira da estrada.
Durante o percurso observava grandes fazendas e aquela puxada rotina dos vaqueiros frente ao rebanho, fazendo com que lembrasse de como sua vida de dançarina internacional era totalmente diferente.
( Imagem meramente ilustrativa. )
Habituada com a correria das grandes cidades, conforto e regalias, não sabia qual seria sua reação ao voltar, mesmo que temporariamente, à pacata cidade natal de seu antepassados.
Preferia voltar em outra ocasião, mas era agora ou nunca.
O rápido diálogo que tivera com a sua tia ainda ressoava em seus ouvidos.
Havia dois problemas a enfrentar: convencer Raul de que a carta que recebera não era sua e descobrir onde a tia escondera as cartas verdadeiras.
Outro fato, era rever sua herança que até então estava sendo administrada por James.
Agora não tinha outro jeito. Teria que resolver o que fazer com a imobiliária do pai, onde o amigo trabalhava, e as casas e terras que agora estariam sob o seu poder.
Com tristeza, Mel avaliou, que essa era sua segunda perda em menos de três anos. Primeiro, fora seu pai, que sofrera um acidente fatal na estrada de Formosa, quando voltava para casa.
Lembrou-se que não comparecera no velório dele, pois estava numa turnê da companhia de dança e ficou sabendo apenas uma semana depois do episódio, e agora , foi a vez da sua tia, que nao resistira à gravidade de um câncer no pulmão, devido ao uso exacerbado de cigarro.
Fechando os olhos, recostou-se no banco passageiro, sentindo o cheiro típico de mato molhado. Por mais que quisesse impedir, seria impossível deixar de ter tantas lembranças do passado sabendo o que encontraria ali.
Monte Serra era o lugar que teria o apoio das suas queridas amigas de infância: Bia e Rose.
Entretanto, era também o lugar de tantos traumas causados por sua tia, que fizera de tudo para vê-la separada de Raul e conseguiu.
Sabia que teria que enfrentar o passado com determinação, para poder seguir em frente e esse dia chegou.
No celular, muitas chamadas perdidas. Certamente, sofreria as sanções por ter deixado a companhia na mão, mas sabia que bem ou mal, o destino a trouxe de volta e só sairia dali, após solucionar todas as suas pendências pessoais.
Era a hora de tirar as férias que não tivera a coragem de ter antes e quem sabe reconquistar o homem que tanto amava.
O motorista do veículo, diminuiu a marcha.
— Já estamos chegando, senhora Melissa. Você ainda lembra onde fica o cemitério?
— Sim. —Mel falou, melancólica . — O cemitério se não me engano fica à duzentos metros, à esquerda.
Ele concordou com um gesto de cabeça.
Não demorou muito, chegaram ao local.
Mel desceu do carro e avistou logo o seu primo Álvaro, sua amiga Bia com o marido, além destes, havia também alguns conhecidos.
A fúnebre situação, deu-lhe uma sensação de vazio. Não por sua tia, mas especialmente pelo primo que tinha um coração bom e era muito sensível. Ele chorava copiosamente. Em poucos segundos, eles se abraçaram.
Mel o reconfortava com palavras de consolo.
Depois Bia e Edu se aproximaram.
— Meus pêsames, Mel! — O rapaz dissera.
— Sinto muito, amiga! — Bia exclamou.
— Agradeço pelo apoio, amigos! Minha tia sofreu muito e agora ela está descansando em paz. Ainda bem que pude estar presente dessa vez.
Mel percebeu as lágrimas cairem em sua face. Lembrava do seu amado pai, na verdade.
— Desculpem -me...
Bia tomou a palavra:
— Não tem o que se desculpar, Mel. Tudo tem o seu tempo! Estamos aqui para te apoiar em
que precisar!
— Obrigada!
Edu, falou, atencioso:
— Se precisar de nós, estamos à disposição. Você adiou sua viagem?
Mel percebeu que os dois estavam preocupados. Então tranquilizou-os:
— Não, Edu...—Fixou o olhar na amiga. — Resolvi ficar por mais tempo, sem data de retorno para a companhia.
Bia não conteve a surpresa e depois disso, abraçou-a, emocionada.
— Nossa! Sei que não devia dizer isso e perdoe -me, mas até que enfim, Nalva fez o bem.
Mel, ainda abraçada à amiga, observava o primo, que sem sair de perto do caixão, recebia os cumprimentos fúnebres.
— Onde menos se espera, né? Nem eu mesma imaginava que isso fosse acontecer, mas percebi que tenho muito a fazer.
Bia afrouxou o abraço e encarou-a.
— Seja lá o que precisar, sempre pode contar conosco, amiga.
O caixão estava sendo transportado para a capela. Um cortejo se iniciou até o local. Álvaro e Mel recebiam as condolências de seus amigos e depois de orações e despedidas, houve o sepultamento de Nalva. Com exceção do filho, não havia choros.
As pessoas em respeito ao momento jogavam flores e esperaram até o final.
Após o sepultamento da tia, Mel decidira continuar por mais um tempo no local para visitar o túmulo do pai.
Queria, naquele momento, ficar à sós e então Bia e Edu se foram.
Chegando ao túmulo do pai, curvou-se e deixou que as lágrimas caíssem pelo seu rosto. Ficou por um momento, refletindo de como sentia falta dele.
O seu pai a amava e demonstrava com palavras carinhosas, diferente de sua mãe que até aquele momento, não a apoiava em nada. O interesse era egoísta e por isso se dava bem com Nalva.
Depois de algum tempo, decidiu chamar um táxi. Pegou o celular para ligar. Nesse instante, seus olhos foram atraídos para uma hilux prata, que vinha em alta velocidade.
Quando o veículo parou, Mel visualizou uma silhueta masculina. O seu coração batia descontrolado. Seria Raul?
Segundos depois, constatou que era ele mesmo.
Raul desceu e vinha em sua direção. Mel não conseguiu deixar de admirar aquela perfeição humana.
Ele trajava uma camisa polo, calça jeans desbotada e bota marrom. Mel notara que ele continuava em forma, e enquanto se aproximava, ela sentiu um tremor involuntário nas pernas enquanto sentia o palpitar frenético no coração.
Sentiu-se a adolescente de sete anos antes.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Jane Cleide
Bom ,espero que agora ela resolva os problemas do passado .
2024-12-14
1
Lele “Lele” Almeida
e eu fumando um cigarro e lendo 🤦🏻♀️
2024-08-21
2
Jeneci Nunes
é inexplicável a emoção, quando você se ver frente a frente a pessoa que você ama❤️🥹
2024-06-03
2