Depois da conversa com Bia , Mel almoçou em um pequeno restaurante e ao chegar em casa, resolveu fazer uma faxina na casa do pai.
Enquanto fazia a limpeza o seu celular ligou. Era a coreógrafa da Companhia de Dança.
Depois dos cumprimentos iniciais ela disse:
— Mel, que saudade! Espero que resolva logo os seus assuntos pessoais, pois aqui todo mundo está sentindo a sua falta!
— Ah, Deni, também estou sentindo falta de vocês...
— Imagino que daqui a uma semana, você já consiga voltar para nós, não é mesmo?
— Creio que não! Há muito o que resolver sobre a minha herança...
— Puxa, você é a melhor dançarina que tenho e você me deixou num momento crucial, mas eu compreendo...
—É, nem eu mesma imaginava que estaria aqui num tempo desse... Não é uma situação muito confortável... Porém necessária.
Após um breve silêncio, a coreógrafa continuou:
— Mel... Quando você estava se despedindo de nós, notei que estava meio tensa e como sei que não era por causa da sua tia, eu quero te perguntar... É só isso mesmo? Será que a Mel, que nunca cedeu a homem algum durante esse tempo todo na companhia tem uma grande paixão na sua terra natal? — Ela riu.
Mel reteve a respiração. Na mente, ficou sem saber se deveria contar sobre isso, mas preferiu manter a discrição.
O pessoal da Companhia especulava sobre esse assunto há muito tempo, porém nunca revelara nada sobre sua vida pessoal. Preocupava-se com a repercussão que isso pudesse causar, já que no meio em que vivia isso podia ser usado contra ela mesma.
— Não... É só minha herança mesmo, mas também tenho pensado em tirar um tempo para mim... Já comuniquei para o dono da Companhia.
— Ah, que pena... Bom, então não demore muito ...
— Ok, querida, um abraço a todos. Obrigada por se lembrar de mim.
Mel suspirou. A companhia era uma espécie de segunda família. Todos se ajudavam e o que deu forças para ficar distante de Raul, foi o apoio deles, que mesmo sem saber do seu passado, ajudaram-na a não cair numa terrível depressão.
Porém, lembrava-se de como uma simples amizade entre sexos opostos, podia ser um alvo perfeito para boatos e mentiras sensacionalistas, por isso era importante manter-se apenas no nível profissional com todos da Companhia.
Após terminar a faxina, pegou um taça de vinho e começou a tomar alguns goles. As lembranças vinham toda vez que estava sem fazer nada e naquele instante as memórias levaram-na a um episódio com a sua tia, dias antes do casamento de sua amiga Bia.
Logo, viu -se novamente com 17 anos, arrumando -se para sair.
Ouviu batidas na porta.
A tia Nalva abriu-a, e em seguida, com um olhar sem emoção, a voz autoritária:
— Onde você pensa que vai?
Pelo reflexo do espelho, Mel observou a mulher de cinquenta e cinco anos, cabelo grisalho, que apesar da idade, manteve o rosto e o corpo em forma.
A aparência dela poderia ser mais bonita, se não fosse a fisionomia carrancuda, com rugas ocasionadas pela sisudez.
A garota falou com cautela:
— Eu... Eu vou para o ensaio de casamento de Bia, lembra?
A tia fez um muxoxo de desprezo com os lábios.
— Você não acha que tem saído demais, Melissa? Já estou desconfiada que há mais a me contar!
Mel estremeceu. A cidade era pequena e a tia tinha alguns amigos, que assim como ela, não apreciava ver as pessoas felizes.
Além disso, tinha medo da tia desde criança, devido a mania dela de mudar de ideia muito rapidamente e não tolerar ser contrariada.
Muitas vezes fora castigada fisicamente na infância e ainda era ameaçada para que não contasse ao pai.
A maioria das vezes, era porque ela insistia em deixá-la brincando sozinha. A maior raiva de Nalva era quando Brandão, o pai de Mel, permitia que ela fosse brincar na casa de Bia.
A mulher foi implacável:
— Hoje você não vai!
Mel, virando-se de frente para ela, tentou convencê-la a mudar suas palavras:
—Por que, tia? Tenho permissão do meu pai!
Mel observou que Nalva já estava com a feição carregada de raiva.
— Você é surda?! — Gritou. — Eu que determino se pode sair ou não! Vou falar com o seu pai sobre essas constantes saídas! Não é porque você está de férias que pode fazer o que quer! Enquanto não for dona do seu próprio nariz, sou eu que determino e não entendo para que tanta frescura nesse casamento!
— Por favor, tia...Eu imploro... Não faça isso...
— Vamos, menina teimosa! Tira já essa roupa e põe pijama para dormir cedo! Você vai ficar em casa e ponto final!
Mel podia ver o prazer que a tia sentia em fazer o mal. Especialmente quando fosse algo que pudesse interferir na família, que ela considerava sua inimiga.
— Essa Bia é uma idiota! Onde já se viu, casar com um desconhecido qualquer?
Ela saiu, satisfeita, após ver que Mel, tinha os olhos entristecidos.
As lágrimas quentes rolaram pela sua face, enquanto, tirava a roupa nova.
Enquanto, trocava de roupa, Mel sentia o cheiro da nicotina do cigarro exalando por todo o ambiente. A tia fumava muito.
Deitou-se na cama e o choro ficou mais forte, até que depois de algum tempo, sentou-se conformada.
Passado algumas horas ouviu alguém na porta conversando com Nalva. Reconheceu a voz de Rose.
Logo em seguida, ouviu uma batida leve na porta.
— Pode entrar!
A tia vinha junto com Rose.
— Veja, Rose, pobrezinha da Mel! Ela passou o dia todo indisposta, por isso não pôde ir ao ensaio.
Mel conteve a raiva e permaneceu calada.
Nalva a olhava ameacadora, com a intenção de que Mel confirmasse a mentira.
— Vou deixar vocês a sós.
Tudo bem, Dona Nalva.
Ela saiu, fechando a porta.
Rose e Mel ficaram um tempo se encarando. As duas conheciam o mau hábito da tia, de encostar o ouvido na porta para ouvir conversas.
Assim que perceberam que podiam conversar sem serem ouvidas, por perceberem a mulher se distanciando, Rose correu para Mel, preocupada.
Ela se abraçou à amiga, na beirada da cama.
— Amiga! Meu Deus! O que aconteceu?! — A voz era sussurrante.
No mesmo tom de voz, Mel relatou o que aconteceu.
Rose, após ouvir tudo,disse:
— Sua tia é uma mal-amada! Ela tem inveja da sua juventude! Não fique desse jeito, amiga!
Mel segurou as lágrimas. Estava só pensando em Raul.
— Amanhã vamos dar um jeito de mudar essa situação... Mas adivinha quem está morrendo de saudade? — Rose falou num tom de suspense.
Mel percebeu o coração saltar desenfreado. Os olhos ficaram brilhantes.
—Ai... Rose, não me mata de curiosidade...Fale-me de Raul!
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Elizabeth Fernandes
Ela tinha que ter contado para o pai tudo o que a tia fazia
2024-11-13
1
Marlene Souza
não é possível que o pai dela não via o que a tia fazia com ela
2023-12-27
12
Maria Gonçalves Xavier
Por isso que o pai do Raul desistiu de casar com essa megera 😡😡😡😡😡 mal amada
2023-12-06
4