..."É uma loucura como as coisas mudaram."...
Beatriz ainda dormia nüa no sofá quando me levantei e vesti minhas roupas outra vez. Indo até o encosto da minha cadeira, pego meu blazer e o coloco sob o corpo da loira. Junto alguns papéis em cima da minha mesa e deixo arrumada a pasta que preciso para a reunião. Sem cerimônia depois de arrumar tudo, volto ao banheiro anexo ao escritório para verificar minha aparência mais uma vez. Hmmm…reviro minha necessaire em busca de algo que possa disfarçar o inchaço de meus lábios. Suspiro ao não encontrar nada realmente eficiente e me encarar pelo espelho. Olho outra vez o conteúdo da necessaire, talvez um gloss ajude.
Quando termino, saio do cômodo fechando com um sibilo silencioso a porta de correr. Para minha sorte eterna — a eternidade às vezes pode durar apenas um segundo — Beatriz não se move, fazendo-me expirar com alívio enquanto pego minha bolsa e a pasta, destrancando devagar a porta e saindo de fininho da sala. Quando finalmente fecho a porta o mais devagar possível, me encosto na parede a seu lado respirando fundo de olhos fechados.
— Dessa forma até parece que você está fugindo de um monstro — ouço Alicia dizer próxima e abro meus olhos imediatamente encontrando-a encostada na parede a minha frente. — É melhor descermos para a reunião — ela olha a hora no celular franzindo a testa e o voltando para o bolso —, faltam cinco minutos. Todos já devem ter chegado.
Apenas aceno em concordância, seguindo-a para o elevador. Quando a porta se fecha, Alicia se encosta num canto da parede ao meu lado, encarando-me pelo espelho.
— Confesso que eu superestimei você quando pensei que deixaria Beatriz depois de tudo — Alicia comenta quebrando o silêncio, desvio meu olhar do espelho.
— Como sabe que ela está aqui? — questiono.
O olhar de minha amiga deixa o espelho para me encarar diretamente.
— Você tem a loira no seu pé, eu tenho a recepcionista do andar presidencial — responde com sarcasmo.
Arqueio uma sobrancelha involuntariamente.
— Você… — começo.
— Ah, não! — nega com a cabeça rindo. — Não tenho nada com ela, nem mesmo fazia ideia que ela tem preferência por mulheres apesar de se relacionar com homens também. Ela começou a se engraçar para o meu lado depois de um dia que Melody deu em cima de mim na recepção Você sabe como ela é — revira os olhos. — Melody não desiste nunca!
— Não espere que ela vá desistir Lícia. É raro Melody insistir com uma pessoa, então isso quer dizer que ela realmente te quer — asseguro com um sorriso debochado, Alicia cruza os braços com uma careta.
— Já fazem quatro anos! — exclama. — Um dia ela tem que desistir!
— Por falar nisso — me viro de frente para minha amiga encarando-a diretamente nos olhos —, nunca ousei perguntar a você sua sexualidade. Realmente não faço ideia do que seja e já fazem quatro anos isso também.
— Para mim tanto faz — dá de ombros sorrindo e retribuindo meu olhar —, então isso quer dizer que sou bissexual. Satisfeita?
— Hm — olho para o teto insinuando estar pensativa —, então você poderia dar uma chance a Melody não? Ela vem insistindo há anos — observo Alicia —, acredito que não queira somente um momento com você e sim algo mais sério — argumento.
— Apesar de Melody ser muito interessante, bonita e legal e tenha muitos atributos para fazer qualquer um se ajoelhar aos seus pés, não estou afim de me relacionar com uma modelo assassïna — afirma.
Pisco com certa surpresa e Alicia se coloca de frente à porta do elevador estendendo a mão de unhas feitas em minha direção, lhe entrego minha bolsa sem protestar e me coloco ao seu lado.
— Então quer dizer que vem a recusando porque a família dela se resume em grandes chefes da máfia? — indago.
— E seu pai não sabe disso — retruca ignorando minha pergunta, fazendo com que eu a olhe de canto de olho. — É melhor terminarmos essa conversa mais tarde no meu apartamento.
— Tudo bem — concordo quando as portas do elevador se abrem e seguimos para a sala de reuniões daquele andar.
[ … ]
— Você está fazendo um bom trabalho — Alicia me elogia de seu assento na sala de reuniões já vazia.
Solto um suspiro colocando o controle das apresentações sobre a longa mesa, enquanto o telão desliga.
— Dois anos e meio apenas observando suas apresentações e mais um de prática tem que ter seus resultados — respondo.
Alicia apenas me observa por um tempo enquanto bebo da minha garrafa de água.
— O que foi? — pergunto me sentando de frente para Lícia do outro lado da mesa, enquanto apoio a garrafa na mesma.
— Se Melody não fosse parte da máfia eu aceitaria ficar com ela — confessa, me deixando levemente surpresa pela forma repentina de abordar o assunto. A encaro.
— A família de Melody é a chefe da máfia, sempre foi — afirmo. — Melody desde bem antes de nascer já estava destinada a fazer parte dela.
— Como assassïna? — indaga.
Fico em silêncio. Não posso ficar falando da vida de Melody assim sem sua permissão, muito menos sobre suas escolhas e as consequências. É a história dela a qual só ela pode contar.
— Se quer respostas sobre as escolhas de Melody, aproveite este jantar para isso. Espaço para que fiquem a sós é algo que não irá faltar. E se quer chegar na hora marcada no compromisso supracitado, devemos ir agora — digo me levantando.
Alicia faz o mesmo sem retrucar me entregando minha bolsa e juntas saímos da empresa em nossos carros — dessa vez eu teria que dirigi-lo mesmo que não quisesse — seguindo para o apartamento da minha amiga.
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Atualizado até capítulo 27
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🪬⃝△𝑲𝒊𝒎 𝒚𝒆𝒐𝒏
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2023-01-27
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