Gatilho:
(desculpem a ironia kk)
..."Dizem que o tempo cura todas as feridas, mas quanto maior a perda, mais fundo é o corte."...
Acordo procurando por Sofya, mas ela já não estava mais ali. Mas antes que eu possa raciocinar — o que com certeza eu não faço muito bem ao acabar de acordar — onde ela está, vejo-a sair do banheiro vestida em um roupão, seus cabelos molhados caídos sobre os ombros e um perfume embriagante de rosas que ainda pairava no ar.
— Bom dia mor! — ela fala manhosa se aproximando da cama e me dando um selinho.
— Bom dia razão do meu viver! — digo sorrindo e me levanto. — Vou tomar um banho e logo vamos tomar café.
— Acho que almoçar seria um palpite melhor Gul, já são quase duas da tarde…
— Isso tudo? — me sobressalto. — Ok! Vou tomar uma ducha e iremos almoçar — digo e adentro o banheiro.
[ … ]
Depois de almoçar com Sofya e deixá-la em casa volto para minha casa. Quando acabo de chegar uma das servas se dirige a mim — ela bem que me pareceu estar à minha espera por um longo tempo e tinha ar de estar irritada por isso.
— Senhorita Giulia — ela faz uma breve referência — , o senhor Edgar mandou dizer-lhe que quando chegasse, que se dirija a seu escritório, que ele estaria à sua espera.
— Há quanto tempo ele lhe ordenou isto? — arqueio a sobrancelha.
— Por volta do meio-dia na hora do almoço.
— Ok, muito obrigada! Diga a ele que apenas irei me trocar e daqui alguns minutos irei ao escritório dele — digo e me retiro, subindo as escadas e indo para o meu quarto.
Tiro o vestido da noite anterior, já que eram as únicas roupas que eu tinha comigo depois do banho no hotel e visto algo mais confortável, seguindo para o escritório de meu pai. Quando chego, bato na porta.
— Entre! — ele diz do lado de dentro da sala permitindo minha entrada e o faço.
— Me disseram que havia me chamado… — falo como cumprimento.
— Acho que precisamos conversar, filha…
— Nisso eu concordo plenamente com você — afirmo e me sento de frente para ele, que estava sentado em um dos sofás da área de estar do escritório.
— Eu queria pedir desculpas filha — declara.
— Pelo que exatamente? — franzo a testa.
— Por tudo o que eu fiz naquela noite, naquele dia Giulia, tudo o que você sabe que eu fiz. Toda aquela idiøtice que eu cometi no dia do falecimento de sua mãe…
— Minha mãe e sua esposa, ex-esposa, não sei — respiro fundo. — Sinceramente pai, eu já devo ter lhe dito, mas repito: nunca vou te perdoar por isso. Eu nunca me importei de você seguir em frente, de ficar com outra pessoa, mas você me magoou ao fazer isso para tentar esquecer minha mãe. Podia ter sido qualquer outro dia menos aquele.
— Pode ser que você nunca me perdoe mesmo, mas ao menos me dê uma chance Giulia para tentar mudar isto, não sei…eu me sinto extremamente envergonhado pelo que fiz. Eu amo sua mãe, nunca vou deixar de amá-la, mesmo que algum dia eu encontre outra pessoa ela sempre vai estar aqui — ele coloca a mão sobre o peito. — Eu confesso que nunca a esqueci, mas o amor não é algo fácil de se apagar. É algo que nos consome — suspira. — Você não pode entender o que sinto Giu.
Ah, se posso! Se você soubesse o quanto eu posso Edgar, e como posso! Porque para mim agora é como se Sofya estivesse morrendo assim como Helena morreu. Morrendo mas se tornando uma memória que nunca irá se consumir. Que mesmo que esteja com as chamas se apagando, lá no fundo nunca irá se apagar. Ficará guardado, eterno, vasto, lá no fundo da alma, do coração.
Como posso!
E a hora que eu subir naquele avião será o golpe final, fatal, que ali ela morrerá de uma vez por todas…se tornará eterna enfim. Morrerá uma parte de mim também.
Partida. Dolorida. Incapaz.
Eu entendo muito bem a dor estranguladora que você sente Edgar. Mordo minha língua com força o bastante para não pronunciar sequer uma palavra do que pensei, luto contra meus sentimentos e emoções que tentam falar mais alto e finalmente consigo dizer:
— Esqueçamos isto Edgar, mas que não se repita! — digo com menos rispidez do que o desejado.
Me levanto e vou até ele, que já estava de pé e num ato surpreendente o abraço.
— Me desculpe minha filha e obrigado. Obrigado por me fazer enxergar toda a idiotice que eu estava fazendo.
Não digo nada. Apenas aproveito aquele toque que eu não recebia há muito tempo. E vamos ser francos, eu estava sentindo muita falta. Quando foi a última vez que eu disse "pai eu te amo"? Pois então eu digo: Edgar, eu te amo.
— Tenho mais uma coisa a dizer — ele fala me soltando e me encarando com seriedade.
— Siga em frente — incentivo.
— Teremos de ir ainda hoje para Nova York.
[ … ]
As malas estavam prontas. Tudo já estava pronto na verdade exceto eu. Meu pai já tinha partido um pouco depois de nossa conversa, para adiantar algumas coisas por lá e agora — daqui a alguns minutos na verdade, mas não faz diferença — seria a minha vez. Quinze minutos faltavam para eu ter de embarcar no jatinho, que já estava à minha espera a um bom tempo.
Sô foi a primeira a saber da minha próxima partida e se encarregou de avisar os outros — nossos amigos. Meus amigos, amigas mais próximas, todos estão aqui. E eu estou me despedindo de cada um deles que fizeram parte de todos estes anos da minha vida em que morei aqui. E enquanto me despedia o tempo passou e apenas cinco minutos me restavam e só faltava Sofya.
Me dirijo a ela — que estava chorando assim como eu — e a abraço com força, afundando o meu rosto em seu pescoço, podendo sentir pela última vez seu aroma de morangos suculentos em meio a frutas vermelhas silvestres. Não existe e nunca existirá perfume mais doce que este em minha opinião. Levanto meu rosto e a beijo delicadamente, apreciando seus lábios macios nos meus e depois encostando nossas cabeças uma na outra a encarando, guardando cada detalhe de seu rosto em minha memória.
— Eu te amo Sofya! — digo tentando engolir o choro.
— Eu te amo Giulia! — ela diz em meio a um soluço.
— Eu ainda vou voltar Sô, para ficar com você. Se isso não acontecer, eu sinto que de alguma forma nos veremos novamente, em breve, então me espere Sofya.
— Irei Giulia, irei — ela promete.
Sinto a mão de alguém apertar meu ombro levemente.
— Giu o jato vai decolar em um minuto — Any diz por trás de mim.
Puxo Sofya para mais um beijo.
— Adeus! — falo por fim e me afasto em direção a jato sem olhar para trás. Any ao meu lado.
Subo as escadas e no meio delas olho para trás novamente, somente para encontrar Sofya de joelhos no chão aos prantos, o que faz com que eu sinta meu coração se dilacerar.
— Sinto muito Giu, mas nós precisamos ir — Any sussurra e eu aceno em concordância e me apresso para entrar no avião.
Quando me sento, deixo que as lágrimas caiam, o ar falta, meu coração dói. Está apertado, destruído em mim e um cacos cortantes como de vidro. Algo foi arrancado de mim, me sinto vazia como se houvesse decepado parte de meu corpo. Quebrado minha alma. E é necessário remendá-la. Um processo lento e extremamente doloroso. Sofya, eu te amo e te amarei até os últimos dias de minha vida, até minha última respiração, meu último suspiro.
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Ana Maria
Sempre é triste uma despedida 😢
2023-02-21
1
Silvia Galdino
Caiu um cisco no meu olho
2023-02-15
1