|•Capítulo 9•|

..."O imprevisível é como se apresenta: vem a qualquer hora e em qualquer lugar. Quando se vê tudo já é ruína, o mundo desaba."...

...|•Quatro anos depois•|...

Estava na minha sala juntamente com Alicia, analisando algumas propostas que os assessores selecionaram. Algumas absurdas demais para que eu não perdesse a paciência, outras, boas até demais. Sim, quatro anos se passaram — como uma brisa calma e despreocupada. E assim como na morte de minha mãe, fui obrigada a me conformar com a morte de Sofya. Claro que não deixei de amá-la — foi algo que prometi a ela e a mim mesma — mas agora posso ver com mais clareza que talvez seja impossível voltarmos a nos encontrar. Eu devia esquecê-la da mesma forma que ela deve ter seguido em frente. De fato, não sei se ela o fez, mas se houver feito…talvez seja melhor assim.

Distantes. Esquecidas.

Fico irritada todas as vezes que penso nessa possibilidade, isto é um fato, mas faz parte de mim agora, é algo meu que já me acostumei. A nossa foto está ali até hoje, num canto da parede. Não consigo encará-lo, sequer me aproximo. Se ninguém tomar a iniciativa de tirá-lo de lá, ficará naquela parede para o resto da vida deste mundo. Quantas pessoas já me perguntaram quem é ela e eu omiti grande parte da história?

Amiga.

Apenas uma amiga próxima. Era apenas o que eu respondia. A mentira era convincente mas talvez a tristeza do meu olhar não tenha sido possível apagar. Comentavam: apenas a tristeza de haver deixado uma amiga muito próxima para trás. Não sabem que não deixei apenas uma amiga. Deixei minha companheira, irmã, namorada, amante, amiga. Deixei o amor da minha vida. Saudade dói, mas eu cansei de me explicar para estes forasteiros curiosos e enxeridos.

Quem sou agora?

Meus sorrisos já não são mais fáceis como antigamente, tudo mudou. Todos à minha volta dizem que me tornei mais fria que antes. Não é mais uma máscara como antigamente que eu poderia tirar e colocar quando quisesse. Se tornou parte de mim, não é mais necessária uma máscara. Minhas feições são gelo, mas não é possível derrete-lo, é forte como pedra. Entalho e moldo-o bem como eu quero. Mas o que posso fazer com essa nova versão de mim se o amor me deixou apenas mágoas, traumas e saudade?

Quão vívida é essa companhia que estilhaçou, dilacerou meu coração a ponto de me acorrentar neste amor que já não tem mais fundos? Sem correntes, com adagas numa parede gélida de pedra. Pulsos e tornozelos presos, fincados na parede. Um movimento e a consequência sempre é ferimentos maiores e fundos. Incicatrizável. Sentimento que tirou a minha vontade de amar novamente, e assim me fez ser uma pessoa que não é capaz de tornar o suposto sentimento de outro alguém por mim recíproco.

Fria. Covarde. Egoísta.

O que posso fazer por isso? Bem eu não sei a resposta e, não sei se um dia irei encontrá-la. Deve ser uma pergunta sem resposta, sem explicação. Fora dos padrões notáveis da humanidade. Mas… O destino é impetuoso, travesso. Brinca conosco, nos engana facilmente e depois ri de nossa cara agoniante ao se sair vencedor. Ao ver que da forma que ele queria, tivemos falsas esperanças. Alma gêmea existe? Pois então a minha não está ao meu lado — não mais, há muito tempo. Ó cupido, se és verdadeiro, se você existe de verdade, traga ela de volta para mim pois sem ela a minha vida não tem mais brilho e se tornou fria e sem cor. Um frio com o qual já me acostumei.

— Giulia! — saio de meus pensamentos um pouco desorientada e olho para Alicia confusa.

— Oi? — respondo ainda tentando conciliar a realidade com o meu mundo.

— Você estava no mundo da lua de novo? — ela bufa levemente irritada, lanço-lhe um olhar culpado. — Tente prestar um pouco mais de atenção e deixe os pensamentos para outra hora mais folgada. Não vou fazer o seu trabalho todo sozinha, o meu já me ocupa demais.

— Ah, então é isso? — sorrio preguiçosamente. — Me desculpe! — falo voltando ao trabalho, mas ouço batidas na porta, olho para a mesma e vejo meu pai entrar cumprimentando-nos com um aceno de cabeça.

— Filha, mais tarde posso trocar uma palavra com você? — levanto as sobrancelhas. — É importante — ele acrescenta hesitante.

Estranho.

— Alicia, tenho algum compromisso para a hora do almoço? — me viro para minha amiga.

— Sim, com o presidente de uma empresa que quer fazer parceria conosco — ela responde.

— Isso pode esperar. Remarque para meu almoço livre de amanhã, hoje irei almoçar com meu pai.

— Tudo bem, farei isso imediatamente — Alicia se vira para o notebook à sua frente.

— Pai, conversaremos no horário de almoço, pode ser? — me dirijo outra vez a Edgar.

— Tudo bem — parecia estar ansioso e impaciente, mas não vou ceder antes do horário, tenho muito a fazer. — Vou deixá-las continuar o que estavam fazendo — ele diz e se retira sem mais nenhuma palavra.

Poderia ter mandado uma mensagem, não era necessário vir à empresa para dizer que precisa falar comigo. Embora tenhamos uma boa relação, não abro-me para ele. É meu pai, eu sei. Mas não gosto de ser surpreendida e é estranho ele querer falar comigo assim, normalmente ele espera até que eu chegue do trabalho. Respiro fundo imaginando o que pode ter acontecido. Não faço ideia. Sinto-me um pouco nervosa.

— O que será que ele tem de tão importante para dizer para ter vindo aqui? — falo distraída outra vez, Alicia se volta para mim, desviando o olhar do notebook.

— Bem, não sei Giu — ela fala pensativa. — Pelo que sei não há nada de tão importante acontecendo, pelo menos na empresa não.

— Estranho… — falo e volto minha atenção novamente para o trabalho.

Algo me passa pela cabeça. Beatriz não veio na empresa hoje, na verdade até agora né. Essa garota às vezes me faz perder a paciência. Às vezes. O que tenho com ela? Bem, talvez pelo fato de ela se parecer um pouco com Sofya — não me culpem por isso — , ela chamou muito minha atenção, e depois do dia da boate, que se estendeu numa longa noite de sexø, começamos a ficar. Para mim, apenas diversão. Para ela, talvez algo mais. Mas hoje meu dia está carregado demais e não tenho tempo para ela. Ainda por cima com essa conversa que meu pai quer ter, que está quase me matando de ansiedade. No meu escritório, eu e Alicia ficamos o restante da manhã, entretidas com pilhas e mais pilhas de papel.

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Comments

daniele cleffs da silva

daniele cleffs da silva

É isso aí e agora Giu 🤔

2022-12-09

1

🪬⃝△𝑲𝒊𝒎 𝒚𝒆𝒐𝒏

🪬⃝△𝑲𝒊𝒎 𝒚𝒆𝒐𝒏

Mais

2022-12-13

1

M. Paula B. F.

M. Paula B. F.

quero mais 😍

2022-12-11

1

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