|•Capítulo 1•|

Três meses se passaram desde a conversa que eu e Edgar tivemos e até hoje não tive coragem suficiente para contar a desconsolante notícia de minha próxima partida a Sofya. Na verdade, nem sei como vou contar. Ainda não consegui convencer nem a mim mesma, imagina minha namorada. Ah! Que ódio da vida! Que ódio do mundo! Que ódio do destino! Destino…destino. O que você ganha com isso? Sinceramente, acho que nada, não é?

Uma semana é o que falta para a formatura e a festa, e confesso que não estou animada como antes. Quanto mais rápido isso acontecer, mais rápido irei embora. Neste momento eu faria qualquer coisa para fazer com que o tempo pare. Que nunca chegue o dia de minha partida. Que nunca eu tenha de me separar de Sosô. Estaciono o carro em frente a casa de Sofya. Nesta noite, combinamos de sair para jantar. Aperto a buzina do carro, anunciando minha chegada. Vanessa, a mãe de Sô, sai na sacada e corre para dentro outra vez. Sorrio. Nessa foi apressar minha mulher. Pouco tempo depois ela entra no carro, radiante como sempre e me beija.

— O que aconteceu com você? — ela pergunta me encarando e suspiro, com as mãos no volante, olhando para a rua.

— Cansaço Sosô, só isso! — respondo voltando a olhá-la e acaricio seu rosto.

— Se quiser podemos ficar aqui em casa e ver um filme…

— Não, não! Eu disse que hoje íamos jantar e nós vamos, não vou fazer esse papel de mentirosa.

— Tá bom! — ela concorda e me beija outra vez. — Eu te amo Giu!

— Eu te amo mais Sofya! — digo com um sorriso triste no rosto. — Onde vai querer jantar? — ligo o carro.

— Não sei…você pode escolher.

— Ok. Vou te levar em um lugar que você vai amar, morena!

Saio com o carro pela cidade. Vou levar Sofya em um lugar muito especial. O lugar que mudou nossas vidas. Especial por ter sido onde ocorreu nosso primeiro jantar — depois de um dia cansativo na faculdade — e o pedido de namoro. O lugar que ela aceitou ser minha namorada. Hoje. A dois anos atrás. Eu quero aproveitar ao máximo esses últimos dias ao seu lado. Cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo. Mas se depois do que eu vou contar, ela não quiser mais olhar na minha cara, eu irei entender. Irei entender melhor do que qualquer outra pessoa.

— Feche os olhos!

— Por quê? — ela questiona, me encarando.

— Apenas feche os olhos, você verá. Confia em mim?

— Confio — ela diz e fecha os olhos.

Chego ao restaurante e estaciono o carro o mais perto que posso para não fazer Sofya caminhar muito de olhos fechados. Saio do mesmo e vou até o lado do passageiro, abrindo a porta de Sofya.

— Sô saia com cuidado. Estou aqui para te ajudar morena! — pego na mão dela, incentivando-a. Ela se levanta saindo do carro e eu o fecho.

— Vamos! — falo passando o braço livre por cima de seu ombro, a guiando para o lugar. — Pode abrir! — digo parando na porta do restaurante, Sofya abre os olhos e olha tudo em volta. — Se lembra daqui? Se lembra do que aconteceu aqui há dois anos atrás? — animada.

— Lembro! Como eu poderia esquecer? — ela diz emocionado e me abraça, retribuo.

— Vamos? — pergunto.

— Vamos! — ela pega em minha mão e entramos, de mãos dadas, sem vergonha do que os outros vão pensar, sem medo. Assim como saímos da última vez, há dois anos atrás.

[ … ]

Ao sairmos do restaurante Sofya agarrou meu braço e encostou a cabeça em meu ombro, assim, atravessamos a avenida. Ao chegar do outro lado, tiramos os calçados e andamos à beira-mar, com as ondas molhando nossos pés descalços. Era bom sentir o cheiro salgado do mar. Respirar livre, sem medo. Ou talvez com um pouco de medo. Sentir a noite, a areia, a água. O calor de Sofya. Senti-la. Sentir o mundo. Um tempo depois nós sentamos na areia. Abraço Sô por trás e beijou seu pescoço, tomando coragem para falar o necessário. Solto-a e me sento ao seu lado olhando as ondas, com o corpo apoiado nas mãos afundadas na areia.

— Eu sei que hoje é um dia especial para nós, mas eu tenho algo para te dizer… — começo, observando as ondas.

— Bom ou ruim? — ela brinca.

— Ruim — digo séria e calma e vejo-a abaixar a cabeça.

— Imagino o que seja… — eu a olho, esperando que continue, mas não há resposta.

— O que você…

— Você provavelmente irá me dizer que depois da formatura voltará para Nova York.

Me deito na areia, olhando o céu estrelado e suspiro.

— Como sabe? — digo com um fio de voz e ela também se deita ao meu lado.

— É só ligar os pontos…você está fazendo administração, depois de estar formada vai herdar tudo de seu pai, a sede oficial da empresa fica em Nova York, como você disse…estava meio óbvio, já era algo esperado.

— Então já sabia? Porque não disse? Eu fiquei meses pensando em como te contar isso. Foi uma bomba quando meu pai me contou. Não vai me odiar por estar te deixando?

— Não, Giulia. As coisas não são bem assim. Talvez se fosse algo que eu não tivesse imaginado, eu já teria ido embora, saído da sua vida. Mas já era algo que eu esperava, já era algo que se podia imaginar.

— Eu não queria isso! Eu tinha me acostumado com a vida aqui. Ter de ir embora era o que eu menos imaginava. Deixar você, menos ainda.

— Eu sei Giu! Mas você não pode mudar o destino. Mesmo que tentemos mudá-lo,o desfecho sempre será o mesmo.

Respiro fundo e pressiono a língua contra o céu da boca, engolindo o choro.

— Neste momento, a única coisa que eu desejaria é que o destino pudesse ser moldado com o próprio destino, o destino que eu escolhesse.

— Este é o desejo de todos. Todos desejam mudar seu próprio destino, mas será que eles conseguem? Eles sempre terminam da mesma forma. Giu, vamos apenas aproveitar esses últimos dias juntas! Será o suficiente para tão pouco tempo. Se nós deixarmos o destino se cumprir da forma certa, talvez esse destino queira que nós fiquemos juntas no final.

— Você tem razão — a abraço. — Vamos aproveitar ao máximo estes tão poucos dias que nos restam e deixar que o destino siga o seu caminho. Mas não será fácil aceitá-lo.

— Não será para nenhuma de nós.

Ficamos ali deitadas na areia trocando carícias e um longo tempo depois voltamos ao carro. Deixo-a em sua casa às onze da noite e volto para casa. Realmente, preciso descansar.

"O destino não é algo que pode ser mudado, é algo que já é traçado desde a nossa existência. Traçado com letras douradas em um papel qualquer, que com o tempo envelhecerá, será roído pelas traças. Mas sempre estará ali, nítido e completo. O destino é como uma xícara de café não adoçada. O aroma é doce e 'talvez embriagante. Mas seu sabor é amargo. Amargo como as tristes batidas de meu coração."

Mais populares

Comments

Angelica Saldanha

Angelica Saldanha

Pelo menos você não foi chifruda, pq a minha ex ficou com "amiga " dela é depois me tratou mal

2024-06-26

0

Nataly Lopes

Nataly Lopes

estou triste por elas

2022-11-18

3

Didi Oliveira

Didi Oliveira

quero mais autora!

2022-11-07

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!