A vida após o término

Gostaria de dizer como me senti na noite que dormi sozinha, na noite que me separei, bom, eu estava bastante machucada, fisicamente tudo doía, fiquei com muita dor de cabeça,não conseguia nem movimentar, estava toda roxa, bastante fragilizada, mas o meu emocional me assustava, eu não chorei, eu não lamentei, eu não senti remorso, eu não sentia nada, eu tinha um sentimento de indiferença, eu não conseguia identificar o que estava sentindo, eu não me sentia viva, eu estava em uma espécie de vida adormecida, eu havia perdido tudo, a minha casinha, meus móveis, tudo, havia sido tudo doado, eu só levei coisas pessoais minha e do meu filho, eu deixei a minha vida pra trás, eu teria que lutar para reconquistar uma nova vida dali a diante. Os primeiros dias foi essa sensação de vazio, eu não chorei, não tive reação emocional, eu me travei, me fechei, não conseguia me concentrar, não conseguia ler, não conseguia prestar atenção na televisão ou no que as pessoas conversavam comigo, eu ficava flutuando, mente distante, não conseguia nem mesmo tinha vontade de socializar, eu era fria, eu era uma versão mais dura de mim mesma, estava afastada do trabalho e me isolei aqueles primeiros dias, havia perdido interesse por música, sentia insônia, não conseguia expressar emoções, faltava afeto até mesmo para com meu cachorro e meu filho.

O primeiro dia no psicólogo, eu cheguei na sala,me sentei, tentei achar uma maneira mais confortável de estar ali frente a frente ao psicólogo, nós dois nos encarando, era de manhã, mês de setembro, alguns dias após ter acontecido tudo aquilo comigo, eu ainda não havia conversado com ninguém sobre meus sentimentos, eu somente havia deposto na delegacia e conversado de forma técnica, eu ainda não havia me expressado emocionalmente, então chegou o dia, chegou a hora, eu gaguejava, tremia, e dizia com a voz baixa e trêmula, "eu não consigo", e naquele momento era como se eu tivesse acordado para minha realidade, como se eu tivesse despertado dentro de mim lembranças boa que tive com Rony e as comparava com as últimas lembranças com ele, as lembranças ruins, o nosso fim, o fim da nossa família. Após o psicólogo me deixar mais confortável, eu comecei a chorar muito,comecei a contar, vieram lembranças e entrei em choque, comecei a gritar, eu me joguei no chão e comecei entrar em crise total, naquele momento eu comecei a por para fora todo sentimento que estava preso dentro de mim, tudo que estava intalado na garganta, eu comecei a falar, chorar, gritar e comecei a vomitar enquanto tremia, eu me recordo de ter começado contando a minha frustração, porque Rony era tudo pra mim, ele havia sido meu centro do mundo, meu porto seguro durante muito tempo, eu dizia ao psicólogo como eu estava me sentindo, eu simplesmente não sentia mais nada por Rony, eu não conseguia odiar, não conseguia amar, eu não tinha sentimentos por ele, era como se não tivesse vivido momentos ao lado dele, eu me lembrava das coisas boas e dos acontecimentos ruins, mas eu não conseguia sentir nada por ele, eu só me sentia frustrada porque as coisas saíram fora de ordem, as coisas não haviam acontecido como eu planejei dentro da minha cabeça, as coisas foram muito longe da minha expectativa e isso me causa danos, eu sentia vontade de acabar com a minha vida, eu não via motivos para continuar tentando, eu me sentia um fracasso, tudo havia dado errado pra mim. Como ele podia ter sido tão injusto comigo depois de tudo ? Como ele havia sido ingrato!

No momento da crise, então o psicólogo e uma enfermeira me deram um copo d'água, eu consegui após exercício de respiração voltar a me acalmar, eu me sentei novamente na cadeira, tremendo e ainda chorando muito comecei a conversar com o psicólogo sobre como é difícil ter acabo daquele jeito, como estava sendo difícil encarar tudo daquela forma, e o quanto meus sentimentos estavam confusos e também como tudo aquilo havia me afetado, pois eu não conseguia me concentrar nem fazer tarefas simples como ler, olhar redes sociais, assistir tv, ouvir música, não estava conseguindo me relacionar com as pessoas, estava me isolando, estava tendo dificuldade de afeto com meu próprio filho, eu pedi desesperada por socorro, eu implorei por ajuda. O psicólogo me encaminhou para passar em consulta e começar fazer acompanhamento em um centro mais especializado, foi a partir daí que eu comecei a trabalhar meu psicológico, comecei a passar com a terapeuta e fazer acompanhamento com o psiquiatra, foi então que eu comecei sentir dúvidas sobre a minha personalidade, passei analisar a minha vida e querer me entender, queria saber o que havia acontecido de errado comigo para a minha vida estar sendo tão difícil.Eu era uma adulta frustrada, fragilizada.

Assim que meu pai sobe que eu estava frequentando um grupo de apoio, fazendo terapia e estava tomando medicamento receitado por um psiquiatra, ele começou a me humilhar, dizendo que eu estava me fazendo de vítima, ele dizia também que eu estava claramente colhendo as merdas que eu plantei com minhas próprias mãos, a minha paz havia acabado, eu sentia que não podia ser curada em um ambiente que eu estava novamente sofrendo agressão, eu sofria agressão patrimonial, ele jogava na minha cara o tempo todo que eu morava na casa dele e ajudava a cuidar do meu filho, sofria agressão psicológica, ele me insultou dizendo que eu me fazia de vítima e que eu não passava de uma retardada querendo chamar atenção, sofria agressão moral, ele exigia que eu não falasse nada, não aceitava que eu expresse minha opinião pois acredita que eu não sou digna. Meu pai, um cara machista, moralista, a favor do tradicional, do correto, ele me criticava em tudo,eu passei a suportar um inferno, eu estava disposta a suportar tudo aquilo porque eu tinha um plano, eu tinha um objetivo, eu precisava aturar porque eu daria a volta por cima, eu iria vencer.

Meu pai ficava me ofendendo o tempo todo dizendo que eu me fazia de vítima e era uma retardada que merecia ter apanhado mais quando criança. Eu já não tinha sentimentos bons pelo meu pai,nunca tive lembranças boa ou sentimento bom por ele, então morando na casa dele após anos sem ter contato com ele, eu passei a ter crises de ansiedade, choro contínuo, os sonhos e pesadelos passaram se tornar cada vez mais real, eu sentia desejo da morte, eu odiava a minha vida, eu odiava ser eu.

Sempre trabalhei, sempre fui responsável, perfeccionista, sempre tive uma vida patética, nunca vivi por mim para mim,sempre vivi pelos outros, para agradar aos outros, nunca fiz o que tivesse vontade de fazer, nunca fui o que tinha vontade de ser, a vida é muito ruim, as coisas nunca dão certo, eu estou sempre sendo vigiada, supervisionada pela droga do meu pai, afinal de contas chegou a hora de contar o motivo de ter tantos traumas relacionado a minha relação com meu pai.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!