Rony era um cara alcoólatra, viciado em cocaína, agressivo, ele não tinha espectativa nenhuma, não se importava com nada, não trabalhava, não tomava banho regulamente nem escovava os dentes diariamente, eu era esforçada, tinha muito zelo e cuidado com a casa, muito perfeccionista, lidava com as contas, aluguel, tudo sozinha, eu queria ter ido embora, queria sumir, desaparecer, eu queria abandonar tudo no primeiro mês que estava morando junto com Rony, eu estava cansada dele bêbado, levava amigos rockeiro em casa e sujavam toda a casa, faziam festas enquanto eu estava no trabalho. Eu estava cansada, e mais uma vez não tinha ninguém para me dar apoio para me dar conselhos, eu não tinha nada, eu não podia estudar porque tinha que trabalhar para sustentar a mim e ao Rony. Conversei com a mãe de Rony sobre tudo que estava acontecendo e ela me aconselhou a engravidar dele, ela me garantiu que o homem muda e amadurece quando se torna pai, ela disse que ele iria mudar e seria um bom marido e um bom pai.
Eu acreditava que tinha que engravidar, então passei a programar mais coisas para fazer em casal, voltamos a sair juntos, ir no barzinho em casal, assistir filmes juntos, voltamos a ter uma vida mais apaixonante juntos, e não demorou muito e finalmente eu consegui. Comecei a passar mal, vomitava, sentia muita azia, muito enjôo, não conseguia usar perfume e comecei a sentir tontura, então Rony me levou ao hospital, e depois de alguns exames tivemos a notícia que eu estava grávida.
Escondemos durante meses a notícia, Rony estava envergonhado e só queria contar assim que ele conseguisse emprego, então demorou cerca de quatro meses, ele conseguiu emprego como vigilante noturno, então convidamos minha mãe, meu padrasto e irmãos para ir em casa em um jantar, então contamos juntos a notícia, eu estava com 19 anos, grávida, eu não fazia idéia de como isso seria definitivo na minha vida, eu era ingênua, mas naquela época a gravidez foi a melhor coisa que havia acontecido comigo.
Rony demonstrou ser responsável, parou com as festas, parou de sair com amigos, passou agir como um cara casado, começou a me mimar, cuidadoso comigo e com a casa, fazíamos planos, estávamos felizes. Infelizmente não durou muito tempo, os meses iam passando e meu corpo mudou, os hormônios estavam me deixando tensa, dramática, eu sentia nojo de Rony, sentia nojo do seu cheiro de nicotina, sentia pavor da sua barba, eu sentia nojo, não queria que ele ficasse perto de mim. Rony estava ficando insatisfeito comigo, insatisfeito com a vida de casados, ele começou a me trair, começou sair, ir a shows, começou a faltar no trabalho, voltou usar cocaína, eu sentia nojo dele, eu o odiava, eu sentia que estava casada com o diabo, eu estava disposta a tirar minha própria vida, eu odiava tudo, eu sentia depressão profunda, eu chorava, eu tinha que ser forte, agora não era mais somente eu, eu prometi que seria forte e lutaria com todas as forças pela vida que carregava em meu ventre.
Sai de férias e comecei a fazer faxina em casa, lavei tapete, peguei muito peso, comecei a sentir tontura, me sentia fraca, liguei para minha mãe, ela foi me visitar, logo ela me pediu para ir no médico com urgência, e eu fui, estava perdendo líquido, naquele mesmo dia eu fui internada com urgência, fiz o ultrassom e estava perdendo muito líquido e o bebê estava entrando em sofrimento fetal, seria feita uma cesárea de urgência. Liguei para Rony na espectativa dele me acompanhar no hospital, mas ele estava em um show de rock, então me deixou sozinha. Eu odiava todos, eu odiava aquelas pessoas, eu odiava ser eu, minha vontade foi de pegar meu filho e sumir, queria mudar de cidade, de estado, de nome e de país, queria desaparecer e começar uma vida do zero.
Eu não conversava com meu pai desde meus 15 anos, eu sentia arrepios perto dele, mas foi ele quem foi me acompanhar no hospital, foram 26 dias, o meu filho ficou internado, e eu e meu pai ficamos ali, lado a lado. Um dia estava sozinha na sala de espera, eu comecei a me bater, dar socos na minha cabeça, puxar o cabelo, eu estava descontando em mim toda minha exaustão e frustração, já haviam noites sem dormir, a vergonha de ter tido um filho com um rockeiro alcoólatra drogado, e a presença do meu pai me deixava tensa, ele ficava enchendo a minha cabeça, eu gostaria que o meu momento de maternidade tivesse sido de puro amor e fraternidade, mas não foi.
É tudo culpa minha, eu acreditei, eu insisti em algo que nunca deveria ter acreditado, eu não deveria ter sido tão cruel comigo mesma, saímos do hospital e eu tive que encarar a minha realidade de perto, eu era sozinha, não tive resguardo, eu tinha que limpar a casa, fazer minha comida, esvaziar a banheira pesada, lavar as roupas na mão pois não tinha máquina, eu não tinha a ajuda de ninguém e ainda tinha meu corpo violado pelo meu companheiro, eu estava com dor, sentia meu corpo todo estranho, eu não tinha vontade nem tempo para pensar em sexo, eu estava exausta, maternidade cansa, acordar de meia em meia hora para amamentar uma criança prematura é cansativo, é desgastante, eu me sentia fragilizada, desamparada, eu estava desanimando, eu acreditava que deveria viver sozinha, Rony estava ficando cada dia mais insuportável ao meu ver, eu não o queria mais.
Os meses foram passando e eu não conseguia mais me reconhecer, eu era feia, tinha olheiras enormes, estava magra, não tinha vaidade nenhuma, eu havia chegado novamente no fundo do poço. Logo voltei a trabalhar, havia terminado a licença maternidade, eu ficava furiosa porque Rony havia pedido demissão do trabalho e passava o dia todo deitado assistindo tv, finais de semana ele vez ou outra dormia fora de casa ou chamava amigos para fazer festa em nossa casa, eu estava esgotada de ver ele de vagabundagem por aí, um dia por um acaso peguei seu celular e vi que ele marcava encontros com acompanhante, ele me traía, ele era cruel comigo, não demorou muito e eu não suportava mais a vida que levávamos, então eu comecei a exigir que ele arrumasse um emprego, e não queria mais saber dele levar amigos em casa e muito menos uma amiga em específico, cujo a qual ele estava agarrando em sua cintura um dia que cheguei mais cedo do trabalho e os peguei juntos dentro da minha própria casa.
Assim que comecei a exigir certas coisas de Rony, ele se transformou, era agressivo, nossas conversas viraram discussão, e ele quebrava tudo em casa, ele agarrava o meu braço, me empurrava, ele dava indícios de que as coisas iria dali para pior, então todo final de semana eu ia dormir na casa da minha mãe, eu deixava Rony em casa sozinho nos finais de semana pois ele bebia e usava cocaína, ele ficava transtornado, se tornava outra pessoa, ficava fora de si, eu aguentei esse casamento dos infernos durante um tempo, até que chegou ao fim.
Eu estava no meu trabalho, de repente recebi uma ligação da escola, a diretora da creche onde meu filho estudava havia dito que Rony estava embriagado, fez ameaças e havia pego nosso filho na escola, eu precisava ser rápida e tentar encontrá-los. Meu coração disparou, me veio um nó na garganta e comecei entrar em pânico, sai correndo em disparada, encontrei Rony com nosso filho, ele estava cambaleando, estava claramente bêbado, eu peguei o bebê no colo e não conversei nenhuma palavra com Rony, até que chegamos em casa, dei banho no meu filho, dei janta, e o coloquei no berço para dormir. Segui arrumando as coisas em silêncio, eu só estava chorando bastante, Rony me olhava com ódio e gritava comigo, ele sempre era valentão quando bebia, então eu implorava para que ele parece de me humilhar, a gente morava em um cortiço, eram várias casas no mesmo quintal, eu somente pedia para que Rony fosse descansar, implorando para ele parar, ele praguejando, insultando nomes horríveis a meu respeito, eu ajoelhei em seus pés e implorei que parasse com tudo aquilo, eu disse que ele tivesse pena de mim, para que me desse a chance de ter uma vida normal e pedi a ele para me dar paz, então Rony enfurecido me puxou pelos cabelos e disse que iria mostrar a paz que tanto quero. Ele começou a dar socos na minha cara, eu me senti sufocada no meu próprio sangue, eu tentei pedir socorro, mas ele me enforcava e dizia o tempo todo que ele iria me matar porque ele não ia deixar que eu destruísse a vida dele, meu ouvido estava zunindo, eu não conseguia respirar, não sei como, mas criei forças, consegui me levantar, eu corri e tentei entrar no banheiro, ele me pegou antes que conseguisse trancar a porta, então ele bateu meu rosto várias vezes contra o vazo, eu fui perdendo a consciência, não conseguia mais pedir por socorro, ali eu senti que era o meu fim, senti que ia morrer, eu senti na pele como é pedir por socorro e as pessoas te ignorar, ali eu entendi porque a vida é tão frágil e como acontece quando milhares de mulheres são mortas por feminicidio dentro de suas próprias casas . Ele me enforcou, eu senti um alívio, senti que não precisava mais lutar,eu senti que estava morrendo, senti que meu corpo relaxou, eu senti uma paz e então pensei que estivesse morta, minha vista estava escura, visão embaçada, não conseguia ouvir, mas Rony estava apressado, ele trocou de roupa, estava falando no celular e fumava me olhando na porta do banheiro, eu me fingi de morta, pensei que ele fosse jogar fogo na casa e matar a mim e meu filho, eu senti medo, fiz xixi nas calças, eu precisei me fingir de morta para ele não tentar finalizar o trabalho,ele poderia voltar e tentar me matar, rapidamente ele saiu da casa. Eu me levantei, estava com tontura, trêmula, estava assustava, meu corpo todo doía, eu fiquei com medo de entrar no quarto onde estava o meu filho no berço,eu temia que Rony o tivesse matado, eu corri na primeira casa ao lado, minha vizinha crente, eu implorei por ajuda, o marido dela pediu pra me deixar entrar, assim que viu meu rosto cheio de sangue ela me empurrou para fora se negando a me ajudar, então eu voltei para casa e comecei a revirar procurando meu celular, então eu o encontrei e liguei para a polícia, fiquei trancada dentro do banheiro, a polícia estava demorando a chegar, então eu entendi porque as mulheres que tem medida protetiva morrem, eu entendi que temos um sistema falho, entendi que somos frágeis quanto mulher, dominada pelo medo eu corri e liguei para o meu pai, e pedi socorro, somente disse que o Rony tentou me matar, então em dez minutos chegou meu pai e sua namorada assistente social, eu estava muito mais machucada do que imaginava, fui para o hospital com uma fratura no nariz, hemorragia, alguns vasos sanguíneo estourado dentro da boca, a língua muito inchada, muitas marcas roxa por todo o corpo, psicológico abalado. Na mesma noite recebi a notícia de que Rony havia forjado um "suicídio" ele ligou para minha mãe e avisou que eu havia me matado, ele realmente acreditou que eu estava morta, então ele fugiu, saiu da cidade, ele recebeu apoio financeiro de sua família; eu precisei depor, fiquei afastada do trabalho, fui na delegacia da mulher, consegui uma medida protetiva, comecei a ter uma nova vida, comecei a frequentar um grupo de apoio, mulheres que sofrem ou sofreram agressão doméstica, um grupo de fortalecimento, eu fui morar com meu pai, minha vida começa mudar totalmente, Lia começa uma nova jornada, essa agressão, essa tentativa de feminicidio, serviu como uma forma de livrar do relacionamento tóxico, do relacionamento autodestrutivo, eu passo a me enxergar diferente, a ver a vida com outros olhos. A minha história com Rony teve um início, um meio e o nosso fim, porém o fim foi sem haver um acordo, sem a gente dizer coisas legais, tipo, "foi bom te conhecer", "preciso de espaço"', "o problema não é você, o problema sou eu", como eu gostaria de ter dito frases típicas, mas não, não aconteceu como eu gostaria, ele buscou nosso filho bêbado na escola, me espancou, me enforcou, tentou me matar, então ele fugiu, e quando a polícia foi atrás dele e quando foi feito nossa audiência, a mãe dele para o livrar da prisão ela internou Rony em uma clínica de reabilitação, ele alegou que estava sob efeito de álcool e droga, foi assim o nosso fim, foi assim que eu deixei Rony partir, foi assim que eu me fortaleci.
Assim eu deixei para trás o inferno onde vivi, eu não estava mais casada com o diabo, eu estava livre, tudo aquilo havia ficado para trás.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 27
Comments