XVIII- Continuando

P.O.V Aaron

Eu estudei, terminei o colégio, fiz uma faculdade, consegui um emprego, continuei estudando, fiz muitos amigos mesmo com limitações, mas o principal não é que eu continuei a viver, o principal eu me tornei um pregador do evangelho de Cristo e vi várias almas se convertendo através do meu testemunho. Então eu sigo, com Deus ao meu lado, eu não tenho o que temer e aprendi que já não tenho nada do que reclamar...

O que mais me preocupava era meu irmão, Alex nunca mais foi o mesmo, ele conversava pouco comigo, com qualquer um, ele se fechou.

Eu não sabia o que ele sentia, não sabia o que pensava mas sabia que ele ainda sofria em silêncio, e tinha pena dele culpar a Deus por algo que é natural.

A morte é natural para quem é vivo.

Mas o que não podemos deixar morrer é nosso espírito, e eu sei que meus pais morreram mas vivem em Cristo.

Eu agradeço a Deus pela tecnologia também, sempre que ela evolui eu tenho mais acessibilidades, posso trabalhar, posso me locomover, posso realizar uma chamada para qualquer lugar do mundo apenas com minha voz, então, eu tenho muito a agradecer.

Não digo que é fácil, há momentos, como este que a dúvida surge, mas eu escolho acreditar e confiar no meu Pai que me fez a promessa.

Doia ver que Alex tinha alguma razão, eu sei que ele não é assim de propósito, é apenas a forma como se importa com as pessoas, ele perdeu o filtro. Eu ainda não sabia que Taís havia rompido o noivado, mas a fala do Alex foi completamente desnecessária. Eu queria intervir a discussão dos dois mas era caso perdido.

-Alex, eu não sou criança e eu prometi passar esse final de semana com a tia Paula então eu escolho ir, você não precisa se preocupar comigo...

Considero que ele estava um pouco arrependido por ter feito a Taís chorar, ele dá um passo em nossa direção mas volta, era como se houvesse uma guerra dentro dele, como em qualquer ser humano sempre há, nele o lado ruim sempre vencia.

-Você veio ficar comigo, então eu é que sou responsável por cuidar de você.- Fala sério.

-Você não precisa ir, não é problema nenhum ficarmos só com o Aaron esses dois dias.- Taís rebate.

-Eu vou!- Alex afirma por fim.

-Tanto faz.-Taís fala olhando para fora da janela, como se quisesse ignorar o Alex.- E não demora a pegar suas coisas que eu marquei um compromisso com uma pessoa agora de manhã.

Alex caminha para frente e bate a porta com força, espero que nenhum vizinho venha reclamar.

-Se está com pressa pode ir na frente que depois eu vou com o Aaron.

-Você já tem um carro aqui por acaso?

O clima era constrangedor.

-Chamo um táxi.

-Então não tem um carro. Pega suas coisas que eu espero.

-Taís, Alex tem razão, talvez a gente demore, é melhor você não se atrasar para seu compromisso.- Falo para acalmar a guerra fria que se instalou.

-Não se preocupe, eu tenho tempo ainda.

-Depois não reclama.- Alex provoca.

Alex me ajuda a tomar banho e fazer a barba, estava tudo bem até pararmos em frente ao carro.

-Me passa as chaves.

-Mas o carro é meu!- Taís questiona.

-E eu não entro num carro dirigido por você nem morto.

-Eu sou uma ótima motorista, só para você saber.

-E esse amassado na frente é prova disso, e a calota, a lateral e tudo mais arranhado, são apenas ilusão de ótica?

-É problema meu.

-Então me empresta a chave para eu abrir o porta malas?- Ele aponta para a bolsa.

Eu já sabia onde isso ia terminar mas Taís foi inocente de mais estendo elas.

Alex abre a porta do motorista para acionar o botão do porta malas e depois coloca as chaves no bolso, guarda as coisas no porta malas e segue para o banco do motorista. Inocentemente Taís já aguardava para entrar.

-Me devolve a chave.- Ela estende a mão.

-Só se você conseguir pegar.

-Alex, me.devolve.as.minhas.chaves.- Ela fala pausadamente.

E eu só podia rir da situação. Eles não se odiavam.

Alex entra no carro e fecha a porta deixando ela para fora e com a boca aberta. Contrariada, segue para o banco do passageiro.

O percurso foi todo em pé de guerra.

Era engraçado de se ver, mas no fundo eu sentia pena da Taís, ela sempre se mostrou muito educada e gentil, mas Alex conseguia a fazer agir de uma maneira totalmente diferente.

Alex falava e Taís resmungava. Taís falava e Alex provoca.

Taís devia ter mandado uma mensagem avisando que já estávamos a caminho, porque quando chegamos todos nos esperavam do lado de fora da casa, ela desce deixando para trás a cara emburrada, Alex vem ajeitar minha cadeira e o Tio Vitor o ajuda a me tirar do carro. Todos pareciam bem felizes ao nos cumprimentar, eu me sentia em casa.

Foi então que eu ouvi, nitidamente, a voz do Espírito Santo a falar comigo:

"Filho meu, sondei teu coração e achei graça em ti, algo novo eu estou fazendo."

Eu não poderia simplesmente ter imaginado aquilo, então no meio de toda aquela agitação, tia Paula se inclina ao meu ouvido.

-Não tenha medo, Eu sou aquele que é Poderoso para fazer absolutamente mais do que você pensou ou pediu, seu presente está chegando aqui.- Então ela sorri para mim bagunçando meu cabelo exatamente como Taís fez mais cedo.- Vamos entrar?

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